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Como Autismo é Usado para Erosionar a Confiança na Ciência

A discussão sobre a **confiança na ciência**, especialmente quando relacionada ao autismo e à saúde pública, ganhou novos contornos diante de recentes declarações de figuras proeminentes. Embora uma postura crítica em relação à tecnociência seja vista como saudável por alguns especialistas, a instrumentalização do autismo para corroer essa confiança, ainda que condicional, tem sido veementemente […]

A discussão sobre a **confiança na ciência**, especialmente quando relacionada ao autismo e à saúde pública, ganhou novos contornos diante de recentes declarações de figuras proeminentes. Embora uma postura crítica em relação à tecnociência seja vista como saudável por alguns especialistas, a instrumentalização do autismo para corroer essa confiança, ainda que condicional, tem sido veementemente criticada por sua potencial irresponsabilidade e seus graves desdobramentos. O debate se intensificou após declarações que buscam minar o consenso científico estabelecido em torno de causas e tratamentos, disseminando informações sem respaldo adequado.

Profissionais e cientistas reforçam a necessidade de basear a avaliação da ciência em uma compreensão aprofundada de seu funcionamento e de suas inerentes limitações, em vez de recorrer à fé cega. Essa abordagem permite uma apreciação informada do progresso científico, evitando a armadilha do negacionismo ou do extremismo. Entretanto, quando se trata de assuntos tão sensíveis quanto o autismo, desinformações podem ter efeitos deletérios, desviando a atenção de causas comprovadas e fomentando o ceticismo em práticas de saúde fundamentais. A prática de explorar um tema complexo como o autismo para fins de descredibilização científica é considerada por muitos uma manobra sem precedentes, dada a vulnerabilidade e o impacto sobre indivíduos e famílias.

Como Autismo é Usado para Erosionar a Confiança na Ciência

Em um episódio que ilustra essa problemática, o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, Robert Kennedy Jr. – que já ocupou o cargo de secretário (ministro) da Saúde –, e Martin Makary, diretor de uma agência reguladora de fármacos como a FDA (Food and Drug Administration), foram mencionados como exemplos de figuras que instrumentalizam o autismo. Há cerca de uma semana, não satisfeitos em propagar a já desmentida noção de que vacinas provocam autismo, esses indivíduos apontaram o acetaminofeno (sem menção a seu nome comercial para evitar a amplificação da alegação) como mais uma suposta causa da condição. Essas declarações, apesar de refutadas por décadas de pesquisa científica e extensos estudos epidemiológicos, foram amplamente divulgadas e preocuparam a comunidade científica global.

O caso remete a episódios anteriores no Brasil, como a controvérsia da fosfoetanolamina, popularmente conhecida como a “pílula do câncer”, que, apesar de não ter eficácia científica comprovada, recebeu apoio significativo do Poder Legislativo e Executivo, sendo vetada apenas pelo Judiciário. Assim como as alegadas causas do autismo divulgadas pelos mencionados nos EUA, a suposta cura de tumores pela fosfoetanolamina carecia de evidências científicas robustas que justificassem sua adoção oficial. Em ambos os cenários, a promoção de soluções sem base científica gera um ambiente de desinformação que coloca em risco a saúde pública e a percepção da importância da ciência.

A Ascensão de Alegações Incomuns e a Desinformação

As afirmações de Trump, Kennedy e Makary foram comparadas à conduta de políticos que promoveram a ivermectina durante a pandemia de COVID-19, resultando na perda de muitas vidas devido ao abandono de medidas e tratamentos eficazes. Os críticos apontam que o trio não apenas “inventou” um bode expiatório para o autismo (o acetaminofeno), mas também já teria seu “candidato” à panaceia: a leucovorina. Esta substância, um derivado da vitamina B9 (ácido fólico, folato), é utilizada para auxiliar pacientes em quimioterapia. Trata-se de um medicamento de grande valor terapêutico, cuja credibilidade estaria sendo abalada ao ser envolvido em uma “mistura” de opiniões não embasadas e de “lendas” apresentadas como soluções para o que se rotula como uma “crise de autismo”.

Durante a coletiva de imprensa, além de apontar o dedo para o analgésico, a liderança da saúde do governo norte-americano deu a entender que a leucovorina poderia ser autorizada pela FDA como um tratamento promissor para o autismo. Contudo, essa interpretação distorce a realidade regulatória. Na verdade, a modificação do rótulo de um medicamento, quando ocorre, é para incluir um uso muito específico e comprovado, não para sugerir um tratamento amplo e generalizado para o autismo com base em especulações. Para mais informações sobre as diretrizes de saúde global, a importância de se basear em dados científicos rigorosos, conforme amplamente endossado por instituições de saúde como a Organização Mundial da Saúde (OMS), é fundamental.

Como Autismo é Usado para Erosionar a Confiança na Ciência - Imagem do artigo original

Imagem: www1.folha.uol.com.br

Ceticismo da Comunidade Científica e os Riscos para a Saúde

Existe uma síndrome genética rara conhecida como deficiência cerebral de folato, que afeta aproximadamente uma em cada milhão de crianças. Essa condição cursa com um desenvolvimento inicialmente normal até que, entre os 5 meses e os 2 anos de idade, surgem sintomas de atraso motor e de fala que podem se assemelhar ao autismo. No entanto, saltar da existência dessa síndrome rara para a conclusão de que todas as crianças no espectro do autismo poderiam ou deveriam ser tratadas com leucovorina constitui um grande salto lógico sem qualquer justificativa científica. A prática de generalizar descobertas específicas de condições raras para um espectro tão amplo e heterogêneo como o autismo é irresponsável e cientificamente infundada.

Paradoxalmente, até mesmo parte do movimento antivacina dos EUA expressou descontentamento com a “manobra diversionista” de Trump e Kennedy. Esse grupo, por vezes, preferiria que a dupla continuasse a priorizar as vacinas como “suspeitas”, uma invenção igualmente infundada, porém considerada mais útil para sustentar teorias de conspiração com graves consequências para a saúde pública do que o abandono de um analgésico comum ou a promoção de vitaminas. Há uma expectativa de que, mesmo o “rebanho brasileiro”, caso venha a seguir novamente o exemplo negacionista, encontre-se encurralado neste “brete”. Diante da dificuldade em conter a erosão da confiança na ciência impulsionada pelas redes antissociais, almeja-se que ao menos “vicejem dúvidas confusionistas” em ambientes onde a paranoia frequentemente prevalece sobre a evidência. As consequências dessas atitudes vão além das crenças individuais, impactando a saúde coletiva e a percepção social da pesquisa e da prática científica.

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As recentes polêmicas envolvendo autismo e a ciência destacam a urgente necessidade de discernimento e de busca por informações embasadas. Em um cenário onde a desinformação pode facilmente se proliferar, é vital que a população e as instituições defendam a integridade do conhecimento científico. Continuaremos a acompanhar e analisar a influência da política e da desinformação na saúde e na sociedade. Para aprofundar a compreensão sobre como a desinformação afeta decisões governamentais e a sociedade, convidamos à leitura de outras análises em nossa editoria de Política.

Crédito da imagem: Kevin Lamarque – 22.set.2025/Reuters

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