Audiovisual Brasileiro Recobra Fôlego e Impulsiona Economia

Economia

O audiovisual brasileiro vivencia um notável período de reaquecimento em 2024, revertendo uma fase anterior de contração. Este setor estratégico não só demonstra resiliência, mas também uma capacidade ampliada de geração de receita e postos de trabalho. Impulsionado por crescentes investimentos, o aumento da procura por produções locais e o reconhecimento internacional de obras nacionais, a indústria está se consolidando como um pilar fundamental para a economia do país.

A força dessa retomada foi evidenciada em 2024, quando o setor adicionou expressivos R$ 70 bilhões à economia nacional, conforme aponta um relatório da renomada consultoria Oxford Economics. O levantamento também destacou a criação de 608.970 empregos diretos e indiretos, ressaltando o impacto social da indústria. Destes, R$ 31,6 bilhões representaram o impacto direto na economia, cifra equivalente a 12% do setor de serviços públicos. Adicionalmente, o estudo encomendado pela Motion Picture Association (MPA) revelou que as exportações de conteúdo audiovisual brasileiro expandiram aproximadamente 19% ao ano desde 2017, com uma contribuição de US$ 234,5 milhões para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2023 através da balança comercial do segmento.

Audiovisual Brasileiro Recobra Fôlego e Impulsiona Economia

Os números fornecidos pelo Ministério da Cultura relativos a 2024 solidificam a tendência de crescimento. As 3.510 salas de cinema operando no Brasil arrecadaram um total de R$ 2,5 bilhões e registraram a venda de 125 milhões de ingressos, marcando um aumento significativo de 9,8% em relação ao período anterior. Essa performance robusta posicionou o audiovisual entre as cadeias produtivas prioritárias da Nova Indústria Brasil (NIB), uma política estratégica do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic) que prevê a aplicação de R$ 611 bilhões para financiar áreas cruciais até 2026. Projeções da PricewaterhouseCoopers (PwC) indicam uma expansão de 6% para o mercado brasileiro de entretenimento e mídia até 2029, antecipando uma receita total de US$ 80 bilhões.

A Ascensão das Produções Nacionais e o Desempenho Recorde nas Bilheterias

A consultoria PwC também identificou uma clara tendência global: a crescente preferência por filmes e séries produzidos localmente. Este movimento é percebido na queda da participação dos cinco maiores estúdios americanos nos mercados globais, que diminuiu de 60% para 51% após o período pandêmico. Tal cenário tem sido um catalisador para o sucesso de produções nacionais como “O Agente Secreto”, estrelado por Wagner Moura, que superou a marca de 900 mil ingressos, tornando-se a maior bilheteria brasileira do ano. Da mesma forma, “Ainda Estou Aqui”, filme vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro, alcançou a expressiva marca de 5,8 milhões de espectadores no território nacional. A participação do cinema brasileiro no público total subiu de 3,2% em 2023 para 10% em 2024, aproximando-se dos níveis observados antes da crise sanitária global. Dados da RioFilme indicam que projetos cariocas foram responsáveis por 88% desse total de espectadores, e na capital fluminense, o consumo de filmes nacionais chega a 16%, um índice 60% acima da média nacional.

Auge de Investimentos e Fomento Setorial

A recuperação do volume de investimentos do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) reforça a trajetória ascendente da indústria. Este instrumento, que atuou como um motor essencial para o desenvolvimento do setor na última década, disponibilizou R$ 6,8 bilhões entre 2014 e 2024. Para o ano de 2024, o valor estimado de R$ 1,2 bilhão mantém o patamar de investimentos, um avanço significativo considerando que o FSA é abastecido por uma arrecadação tributária estável em torno de R$ 1 bilhão anualmente. A série histórica, contudo, revelou uma retração brusca entre 2019 e 2021, seguida de uma gradual recuperação a partir de 2022, período que coincidiu com uma diminuição de cerca de 25% no impacto da atividade econômica entre 2018 e 2021, segundo dados da Agência Nacional do Cinema (Ancine). Para mais informações sobre a Ancine e suas ações, consulte o portal oficial da agência.

A verba do FSA destina-se a diversas frentes: R$ 260 milhões para a produção de conteúdo cinematográfico, R$ 110 milhões para a programação da TV Brasil e R$ 190 milhões para a televisão e plataformas de streaming. A maior parcela, de R$ 500 milhões, é direcionada aos arranjos de coinvestimentos regionais. Rio de Janeiro e São Paulo receberão R$ 100 milhões cada, resultando em montantes recordes de fomento. Outros R$ 210 milhões serão distribuídos entre as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, enquanto Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Espírito Santo ficarão com R$ 90 milhões. O aporte federal é complementado por contrapartidas dos governos estaduais e municipais, que agregarão cerca de R$ 125 milhões ao montante total. Notavelmente, São Paulo retorna ao instrumento de fomento após nove anos.

Fomento Regional e Incentivos Locais

Anna Paula Montini, diretora-presidente da Spcine, empresa pública municipal, sublinha a relevância estratégica da retomada desses investimentos do FSA e dos arranjos regionais para a entidade. “Esse valor é histórico, nunca antes aportado no audiovisual paulistano”, afirma. Do total de R$ 100 milhões do FSA, R$ 60 milhões serão aplicados na capital paulista e R$ 40 milhões no estado, com a adição de R$ 30 milhões provenientes dos respectivos governos como contrapartida. No Rio de Janeiro, o setor gerou R$ 200 milhões em impostos entre 2021 e 2023, alcançando a décima posição na economia local. A cidade registrou 8.782 diárias de filmagem autorizadas em 2024, número superado apenas por Los Angeles e Madri, enquanto São Paulo contabilizou 5.098.

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Imagem: valor.globo.com

Leo Edde, presidente da RioFilme, anunciou a abertura de inscrições para o maior edital da história do órgão municipal, destacando a disponibilização de R$ 5,3 milhões para iniciativas não reembolsáveis que não são elegíveis ao FSA, como festivais, curtas-metragens, webséries e apoio à circulação internacional. Negociações estão em curso para estender esse arranjo ao estado do Rio. Eliane Parreiras, secretária municipal de Cultura de Belo Horizonte e presidente do Fórum Nacional de Secretários de Cultura das Capitais e Municípios Associados, enfatiza a necessidade de previsibilidade nas ações do fundo setorial para a manutenção do cenário de expansão. A capital mineira, sob sua gestão, viu o setor audiovisual crescer mais de 102% na arrecadação municipal na última década, com mais de R$ 43 milhões investidos de 2020 a 2024, movimentando acima de R$ 86 milhões em investimentos diretos de 2022 a 2025. Parreiras vê a situação como um momento para a criação de um pacto federativo, gerando um “círculo virtuoso” entre estados e municípios.

Novos Apoios e Horizontes de Expansão

Após um hiato de nove anos, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que já apoiou mais de 400 filmes, anunciou o relançamento de seu edital de cinema, com um aporte total de R$ 15 milhões. Marina Gama, superintendente de Relacionamento, Marketing e Cultura do BNDES, afirmou que “o audiovisual brasileiro é uma das expressões mais potentes da nossa cultura e um setor estratégico da economia criativa”. Paralelamente, a Petrobras, empresa com histórico de suporte ao segmento, comprometeu-se a investir R$ 100 milhões até 2027 em projetos como “Malês”, dirigido por Antônio Pitanga, e “Deus Ainda É Brasileiro”, com Antônio Fagundes, o último filme de Cacá Diegues, previsto para 2026. A companhia também mantém apoio a diversos festivais e iniciativas culturais, como um complexo de cinemas na rua Augusta, em São Paulo, e a Sessão Vitrine, que circula pelo Brasil.

Apesar do panorama otimista, Walkíria Barbosa, diretora do Festival do Rio e presidente da Federação da Indústria e do Comércio Audiovisual (Fica), avalia que o desempenho atual ainda se encontra aquém de patamares anteriores e de seu pleno potencial. Lançada em outubro, a Fica foi estabelecida para representar a atividade sob o prisma econômico e defender suas demandas, incluindo a inserção na Nova Indústria Brasil – pleito que foi atendido com a entrada do Ministério da Cultura no Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial. Um programa interministerial foi desenvolvido para abranger toda a cadeia produtiva, da produção à exportação, passando pelo parque exibidor, plataformas de streaming e combate à pirataria. O objetivo é ambicioso: elevar o impacto do audiovisual no PIB de 0,5% para 1,5% em três anos e movimentar R$ 210 milhões anuais. “Queremos, no mínimo, duplicar o market share do cinema brasileiro”, projeta Barbosa.

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A revitalização do setor audiovisual brasileiro demonstra um forte potencial de crescimento, impulsionando a economia e a cultura nacional. Com investimentos estratégicos e o reconhecimento de sua importância, a indústria criativa se reafirma. Continue acompanhando as novidades e análises aprofundadas sobre o panorama econômico do país em nossa seção de Economia.

Crédito da imagem: Victor Juca / Divulgacao

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