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Artesanato Sustentável na Caatinga Alagoana Ganha Destaque

O artesanato sustentável na Caatinga Alagoana alcança novos patamares através das mãos de Bruno Soares, um jovem artista do Sertão que utiliza madeiras secas da vegetação nativa para dar vida a peças únicas. De Senador Rui Palmeira, no Sertão de Alagoas, suas criações não apenas resgatam a memória e a identidade cultural nordestina, mas também […]

O artesanato sustentável na Caatinga Alagoana alcança novos patamares através das mãos de Bruno Soares, um jovem artista do Sertão que utiliza madeiras secas da vegetação nativa para dar vida a peças únicas. De Senador Rui Palmeira, no Sertão de Alagoas, suas criações não apenas resgatam a memória e a identidade cultural nordestina, mas também promovem a conscientização sobre a preservação de um bioma exclusivo do Brasil.

A arte de Bruno Soares brota diretamente da Caatinga, em meio aos imponentes mandacarus e galhos retorcidos característicos dos longos períodos de estiagem que marcam o Nordeste brasileiro. Nascido e criado nesse cenário árido, que abrange nove estados nordestinos e parte do Norte de Minas Gerais, o artesão desenvolve objetos decorativos, utensílios e pendentes, sempre a partir de madeiras coletadas na natureza, respeitando o ciclo ecológico das árvores. Sua trajetória é um exemplo vivo da representatividade e do orgulho sertanejo que transcende em cada item produzido.

Artesanato Sustentável na Caatinga Alagoana Ganha Destaque

A paixão de Bruno pelo ofício artístico não é recente. Desde a infância, em Senador Rui Palmeira, ele observava o pai que transformava latas de óleo em brinquedos, como tratores e carrinhos. Essa inspiração inicial foi o combustível para que ele, mais tarde, descobrisse sua própria vocação. No entanto, o verdadeiro mergulho no universo da criação e na conexão profunda com a natureza veio de uma forma inesperada, por meio das trilhas.

Embora inicialmente temesse as serras e o “meio do mato”, uma jornada à Pedra de Lampião, em Senador Rui Palmeira, por sugestão de uma amiga e prima, transformou sua perspectiva. Após essa primeira experiência, ele relata uma sintonia inédita com o ambiente, um “vício” em acampar e trilhar pela Caatinga, onde começou a observar as formas e texturas das madeiras caídas, alimentando o desejo de transformá-las em arte. Hoje, suas trilhas por cidades como Piranhas, São José da Tapera, Poço das Trincheiras e Santana do Ipanema, em Alagoas, são a principal fonte de matéria-prima e inspiração.

A filosofia de Bruno vai além da estética. Suas obras são plataformas de diálogo sobre a preservação e a importância da Caatinga. Por meio delas, o artesão alerta para os riscos da poluição, do desmatamento e das queimadas ilegais, enfatizando a relevância de cada pedaço de madeira. “Eu reciclo aquela madeira para fazer as peças”, afirma, contrastando sua prática com a derrubada de árvores verdes para produção de carvão ou estacas, o que ressalta o impacto positivo de sua abordagem sustentável.

No vasto portfólio de Bruno, destacam-se as Kuksas, canecas entalhadas em madeira de Umburana, uma árvore amplamente reconhecida no Sertão por suas propriedades medicinais. A criação dessas peças favoritas surgiu de uma necessidade prática durante suas trilhas: evitar copos plásticos. Segundo o artesão, a confecção das Kuksas exige meticulosidade, paciência e tempo, mas a facilidade de entalhe da Umburana facilita o processo. Suas técnicas, que evoluíram desde as primeiras peças feitas improvisadamente durante as expedições, rapidamente geraram encomendas de amigos e se espalharam, consolidando seu trabalho.

Além das icônicas Kuksas, o artista produz uma diversidade de itens, como pendentes, luminárias, facas, colheres, carrinhos de boi e esculturas que celebram o bioma e figuras emblemáticas do Sertão, como cactos, Lampião e Maria Bonita. Ele busca “transportar o Sertão para dentro de casa” através dessas obras, levando a beleza da vegetação da Caatinga, matéria-prima essencial, para além das fronteiras alagoanas.

A Caatinga, central para o trabalho de Bruno, é um bioma que historicamente inspira a cultura nordestina, tendo sido tema de canções imortalizadas por Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, que poetizou o mandacaru e o pássaro asa-branca. Durante suas explorações, Bruno observa a fauna local, composta por roedores como mocós e teiús, além de animais mais raros como o furão, testemunhando a notável resistência das espécies diante das adversidades geográficas, um aspecto também ressaltado por especialistas.

Conforme o Instituto do Meio Ambiente (IMA), a fauna da Caatinga é marcada por sua resiliência, e o mandacaru simboliza essa capacidade de adaptação. Contrariando a percepção popular de baixa biodiversidade, o técnico ambiental Johnson Sarmento do IMA aponta que a Caatinga “abriga uma rica diversidade, adaptada às longas estiagens e transições climáticas”. A proteção do bioma é crucial e engloba a atuação do órgão em áreas como a APA da Serra da Caiçara, que abrange municípios onde Bruno faz suas trilhas, incluindo Maravilha, Poço das Trincheiras, Santana do Ipanema, Ouro Branco e Canapi.

Nessas Áreas de Proteção Ambiental (APAs), que conciliam a ocupação humana com diretrizes de manejo ambiental, o IMA atua para fiscalizar e combater crimes ambientais recorrentes, como o desmatamento para carvão e a criação ilegal de aves, práticas que ameaçam o equilíbrio ecológico. Sarmento salienta que a APA da Serra da Caiçara “desempenha um papel crucial não apenas na proteção da biodiversidade, mas também na preservação do patrimônio cultural e histórico da região”, englobando sítios arqueológicos e paleontológicos e salvaguardando a identidade de comunidades tradicionais, como os quilombolas.

Para contextualizar a importância da Caatinga, é vital consultar informações de entidades como o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que destacam aspectos únicos deste bioma. Curiosidades da Caatinga incluem o mandacaru, que não só é fonte de alimento para animais, mas também uma Planta Alimentícia Não Convencional (PANC). O tatu-bola-da-Caatinga, por sua vez, ganhou notoriedade como mascote da Copa de 2014, um símbolo de sua rica biodiversidade. No período de seca, muitas plantas perdem as folhas e os troncos adquirem um aspecto esbranquiçado, caracterizando uma paisagem singular. Apesar da aparente aridez, o bioma surpreende com mais de 500 espécies de árvores identificadas.

Através de sua arte, Bruno Soares se tornou um embaixador da Caatinga e da cultura sertaneja de Alagoas, transformando o respeito pela natureza em peças que levam história e conscientização para o cotidiano das pessoas. Sua dedicação mostra como o artesanato pode ser um veículo poderoso de sustentabilidade e valorização de um bioma essencial.

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Crédito da Imagem: Arquivo pessoal

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