Armas artesanais impulsionam poder bélico do crime no Brasil

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O crescimento de armas artesanais no arsenal do crime organizado brasileiro revela um cenário alarmante e de complexa solução para as forças de segurança. Uma recente megaoperação deflagrada nos complexos da Penha e do Alemão, localizados na Zona Norte do Rio de Janeiro, envolvendo cerca de 2.500 policiais civis e militares, evidenciou de forma dramática o grau de armamento e a sofisticação tática a que o poder bélico dessas facções criminosas chegou.

Durante os intensos confrontos que marcaram a ação policial, criminosos não apenas empregaram fuzis de alta potência, mas também fizeram uso de tecnologias avançadas, como drones adaptados para lançar granadas. Essa escalada na capacidade ofensiva resultou em um triste balanço de 121 mortos, dos quais quatro eram policiais, sublinhando os perigos e os desafios enfrentados no combate a essas estruturas criminosas.

Armas artesanais impulsionam poder bélico do crime no Brasil

A gravidade da situação se tornou ainda mais visível com a apreensão de impressionantes 91 fuzis em uma única incursão, um número que estabeleceu um recorde para operações policiais desse tipo no país. Este feito, por si só, demonstra a escala da disponibilidade de armamentos nas mãos das organizações criminosas e o volume de recursos empregados em suas infraestruturas.

Para aprofundar a discussão sobre este fenômeno, Carolina Ricardo, diretora-executiva do Instituto Sou da Paz, trouxe importantes análises no episódio de quarta-feira, dia 29, do podcast “O Assunto”. A especialista destacou que, além das armas de calibre restrito, há um incremento notável no uso das chamadas “armas artesanais”. Estas são desenvolvidas internamente ou montadas a partir de peças adquiridas no exterior, muitas vezes chegando ao Brasil através dos serviços postais, configurando uma complexa cadeia de suprimentos.

Conforme explicado por Carolina, uma parte significativa dessas peças componentes tem origem nos Estados Unidos. A rota de entrada para o território brasileiro inclui tanto o transporte aéreo quanto o marítimo. Nos EUA, a comercialização de armas e seus componentes é facilitada, permitindo que traficantes de armamentos naquele país desmembrem armas e enviem suas partes de forma discreta, por meio de correspondências ou carregamentos em navios, escapando do radar das autoridades e dificultando a rastreabilidade.

Adicionalmente, as extensas fronteiras terrestres do Brasil representam outro vetor crítico para a infiltração de armas e peças ilegais. Carolina Ricardo sublinha que o volume e a constância do fluxo dessas peças clandestinas são indicativos claros da existência de um significativo movimento interno no mercado ilegal de armamentos dentro do país.

A produção dessas “armas artesanais”, apesar de não ser uma atividade trivial, faz parte de uma cadeia produtiva criminal cada vez mais robusta e de um mercado clandestino que se mostra consolidado no Brasil. A diretora do Instituto Sou da Paz aponta para a deficiência dos sistemas de fiscalização, que são insuficientes para conter a entrada desses materiais. Em suas palavras, é “fácil sair de lá [dos EUA] e é fácil entrar no Brasil”, descrevendo a vulnerabilidade das barreiras alfandegárias e de controle fronteiriço.

Entre os pontos da fronteira brasileira mais suscetíveis à entrada desse tipo de armamento, Carolina menciona especificamente a divisa com o Paraguai, classificando-a como uma área “bastante frágil”. A região da Tríplice Fronteira, bem como cidades como Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul (que faz fronteira direta com o Paraguai), são portas de entrada. Da mesma forma, vastas áreas na Região Norte do Brasil, caracterizadas por “fronteiras secas”, também facilitam a permeabilidade desses carregamentos ilegais, desafiando a capacidade de monitoramento e contenção do Estado.

Armas artesanais impulsionam poder bélico do crime no Brasil - Imagem do artigo original

Imagem: g1.globo.com

Desvio e fabricação: a origem sofisticada das armas clandestinas

A fabricação de certas armas, em especial aquelas de estilo mais sofisticado, requer níveis de conhecimento técnico muito específicos. Para Carolina Ricardo, este detalhe é um forte indício de que pode estar ocorrendo o desvio de armamentos militares diretamente dos arsenais das forças de segurança do país. A especialista fez referência a um estudo conduzido por seu instituto que identificou, entre metralhadoras apreendidas, a presença de exemplares com a numeração de série preservada.

A conservação dessas numerações sugere que as armas são provenientes de estoques das próprias forças de segurança, indicando um processo de desvio de arsenais do Exército ou de outras polícias para o uso pelo crime organizado. “Também existe desvio dessas armas de estilo militar dos próprios arsenais das forças de segurança”, afirmou Carolina, evidenciando uma falha grave na custódia e controle desses materiais de guerra.

Diante desse cenário preocupante, a diretora ressalta a importância crucial de se conceber e implementar iniciativas eficazes para blindar os arsenais públicos. É imperativo que os depósitos de armas das polícias e do Exército sejam protegidos de maneira mais robusta, prevenindo assim que esses armamentos, originalmente destinados à proteção da sociedade, sejam desviados para fortalecer o poderio bélico das facções criminosas.

As conclusões e observações de Carolina Ricardo durante o podcast oferecem um panorama detalhado e preocupante sobre a dinâmica da oferta e demanda de armamentos ilegais no Brasil. A intrincada rede que envolve a importação de peças do exterior, a montagem local de armas artesanais e o desvio de armamentos de uso restrito dos próprios arsenais do Estado delineiam um desafio monumental para as estratégias de segurança pública. Para compreender melhor a complexidade e a abrangência do crime organizado no Brasil, é fundamental buscar informações em fontes especializadas.

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A análise dessas informações ressalta a urgência de medidas mais assertivas para fiscalizar fronteiras, coibir o tráfico internacional de peças de armas e intensificar o controle sobre os arsenais públicos. Para aprofundar-se em questões relacionadas à criminalidade urbana e aos esforços de combate nas grandes metrópoles, continue acompanhando as notícias em nossa editoria de Cidades.

Foto: Jose Lucena/TheNewsS2/Estadão Conteúdo

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