Argentina: Gestor Vê Potencial Histórico de Valorização

Economia

Enquanto o panorama econômico brasileiro mantém a atenção dos investidores internos, uma visão distinta surge no cenário internacional, onde os olhares se voltam para o potencial da Argentina. O gestor Paolo Di Sora, fundador da RPS Capital, pontua uma diferença notável: enquanto localmente o Brasil é visto como o protagonista, globalmente a Argentina desponta como o destino de investimento mais discutido.

Para Di Sora, a Argentina representa hoje a oportunidade mais proeminente no exterior sob a ótica de retorno financeiro. Ele sustenta que o país atravessa um período singular, com ativos significativamente desvalorizados e uma perspectiva de multiplicar o capital investido por dez a quinze vezes. O executivo classifica este como um dos momentos de maior relevância em seus 25 anos de carreira, chegando a declarar que este movimento argentino tem o potencial de selar sua aposentadoria.

Argentina: Gestor Vê Potencial Histórico de Valorização

Essa tese robusta da RPS Capital foi amplamente debatida em 1º de julho deste ano, durante o podcast Stock Pickers. Lucas Collazo, apresentador da atração, recebeu Paolo Di Sora para aprofundar a análise sobre a valorização da economia argentina sob a gestão do presidente Javier Milei.

A Transformação Econômica da Argentina e o Paralelo com o Brasil

Ao estabelecer um paralelo com a trajetória econômica brasileira recente, Di Sora compara a situação atual da Argentina ao próprio Plano Real. Segundo ele, o país vizinho está experimentando uma reformulação estrutural comparável à vivida pelo Brasil nos anos 1990, após períodos prolongados de instabilidade. A perspectiva atual reflete um fundamento econômico robusto, combinado com valores de mercado desalinhados, descreve Di Sora. “É como adquirir o Brasil de 1998 com 30% de desconto”, ele exemplifica. O gestor salienta, contudo, que a Argentina possui uma base econômica estruturalmente mais forte em certos aspectos, como o Produto Interno Bruto (PIB), crédito, varejo e setores de energia e petróleo, pronta para ser revitalizada.

Adicionalmente, Di Sora enfatiza que a Argentina se mostra mais desenvolvida que o Brasil em termos de educação e arcabouço institucional, um fator decisivo na atração de capital estrangeiro.

Otimização Financeira: O Impacto das Reformas de Milei

A política econômica de Javier Milei figura como pilar central da estratégia de investimento da RPS Capital. Desde sua eleição em 2023, o governo ultraliberal argentino iniciou um percurso de severa austeridade fiscal e desregulamentação, cujos efeitos têm sido notados pelos mercados. Di Sora equipara este período ao “Plano Collor” sob Macri, seguido de um “Plano Real” implementado por Milei, com o notável diferencial do amplo apoio popular. Ele observa que o presidente cumpre suas promessas de campanha, apesar das medidas impopulares. “Ele prometeu que faria, foi eleito para isso e está cumprindo. Não houve estelionato eleitoral”, ressalta o gestor, citando a aceitação pública de aumentos de tarifas que chegaram a 600%. A sociedade, em sua percepção, assimilou a necessidade de desmantelar o populismo.

Os indicadores financeiros confirmam a virada: em apenas doze meses, o país transformou um déficit primário de 2% do PIB em um superávit de 1,7% – um ajuste de quatro pontos percentuais no PIB, considerado uma proeza em economias emergentes. Entre as medidas mais incisivas de Milei, Di Sora destaca o corte de 40 a 50 mil servidores públicos, um número que, comparativamente ao Brasil, representaria cerca de 250 mil. A ideologia do governo visa diminuir a presença do Estado para, consequentemente, reduzir a carga tributária e estimular o PIB potencial. Atualmente, a Argentina registra uma carga tributária de 27,8% do PIB, significativamente inferior aos 33% brasileiros, e já ostenta um superávit fiscal. “É um contraste marcante. A Argentina arrecada menos, otimiza seus gastos e opera com superávit”, afirma o especialista.

Desafios e Perspectivas para o Investimento na Argentina

Apesar do otimismo, o gestor identifica um ponto vulnerável na estratégia: a composição da dívida. Embora o endividamento líquido argentino (41% do PIB) seja menor que o brasileiro (62%), aproximadamente 70% da dívida é denominada em dólares. Esta “calcanhar de Aquiles” pode ser superado, na visão de Di Sora, caso o país atraia um volume de US$ 20 bilhões anuais em investimento estrangeiro direto, o que aceleraria a conquista do grau de investimento.

Argentina: Gestor Vê Potencial Histórico de Valorização - Imagem do artigo original

Imagem: infomoney.com.br

Outros fatores alimentam o otimismo do gestor, incluindo a extensa agenda de desregulamentação. Em 2024, o Congresso argentino chancelou a chamada Lei de Bases, reformulando mais de 300 artigos constitucionais e promovendo uma abrangente reavaliação do ambiente de negócios. A Argentina, que outrora detinha 129 impostos e regulava até itens como o mate, está em processo de uma “faxina institucional” liderada por um ex-presidente do Banco Central, figura apelidada de “Eduardo Mãos de Tesoura” e agora responsável pelo Ministério da Desburocratização. Este caminho é análogo ao percorrido pelo Brasil nos anos 1990, de acordo com Di Sora. A expectativa é que a nação retorne a atrair 2% a 3% do PIB em investimentos diretos, patamares já alcançados em períodos anteriores. Para reforçar a base de sua economia, um recente acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) assegurou US$ 32 bilhões em reservas e permitiu a flexibilização do câmbio, favorecendo a movimentação livre de capital externo.

Fora dos principais índices de ações globais, a Argentina tem a possibilidade de ser reclassificada como mercado emergente pela MSCI em 2027. Este reposicionamento abriria as portas para influxos bilionários de fundos passivos. Di Sora prevê essa mudança de status, afirmando: “Hoje o país é off-index, ninguém é obrigado a investir lá. Mas isso vai mudar.”

Visão de Futuro e Retorno Estratégico na Argentina

Com seus pilares econômicos em recuperação e reformas contínuas, o gestor acredita que a Argentina dispõe das condições necessárias para vivenciar uma década de expansão robusta. O país conta com um sistema educacional qualificado, mão de obra apta, energia com custo reduzido e um setor tecnológico em franca ascensão, sendo “um país pronto para ser reconstruído”. A conclusão de Di Sora resume sua convicção: a Argentina está na mesma fase em que o Brasil se encontrava pré-Plano Real, porém, desta vez, com uma sociedade mais engajada, um governo de orientação liberal e um potencial econômico de multiplicação por dez.

Confira também: crédito imobiliário

A análise do potencial da Argentina revela uma virada estratégica notável, chamando a atenção de investidores globais. Com reformas significativas em curso e um ambiente econômico em transformação, o país apresenta um cenário promissor para quem busca novas fronteiras de investimento. Mantenha-se atualizado sobre o impacto das decisões políticas e econômicas na América Latina e em outros mercados, explorando nossa editoria de Economia.

Crédito da Imagem: Divulgação

Deixe um comentário