Análise: Comerciais no Remake de Vale Tudo Superam a Trama

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A exibição do final do novo Análise: Comerciais no Remake de Vale Tudo Superam a Trama trouxe uma observação contundente da crítica: a qualidade dos intervalos comerciais superou em muito a própria narrativa da produção televisiva. O que a roteirista Manuela Dias, encarregada do remake, não conseguiu desenvolver ou, conforme a percepção especializada, comprometeu substancialmente na história, o time de publicitários da emissora logrou capitalizar com maestria.

Os anúncios publicitários, que pontuaram cada “break” do derradeiro capítulo da adaptação de “Vale Tudo”, se destacaram pela inventividade e uso estratégico de figuras icônicas. Foi nesse contexto que se viu, por exemplo, a talentosa atriz Debora Bloch, interpretando Odete Roitman, em uma propaganda de xampu. A frase de efeito, que se tornou um ponto alto, afirmava que “só os danos de Odete Roitman é que são irreparáveis”, brincando com a gravidade da personagem original.

Análise: Comerciais no Remake de Vale Tudo Superam a Trama

Outros momentos publicitários que chamaram a atenção do público e da crítica incluíram o personagem Ivan, vivido por Renato Góes, promovendo caminhonetes utilitárias de alta potência. A ironia notada na publicidade estava na utilidade desses veículos para “enfrentar o trânsito da Barra da Tijuca”, uma referência velada à rotina urbana, muitas vezes distante das capacidades off-road prometidas. De forma similar, Fernanda Torres protagonizou um comercial para Havaianas, exibido em um cenário praiano, evocando o estilo de vida brasileiro associado à marca. Essa série de anúncios exemplifica a apropriação e a ressignificação de elementos da própria novela e de sua cultura adjacente, convertendo-os em oportunidades comerciais efetivas e relevantes para o contexto do Grupo Globo.

Marketing e Patrimônio: Uma Reflexão Pós-“Vale Tudo”

Na sua reta final, o remake de “Vale Tudo” foi além da mera revelação de “quem matou Odete Roitman”, um dos mistérios mais célebres da teledramaturgia nacional. A produção demonstrou, em vez disso, a impressionante competência da equipe comercial da TV Globo em gerar receita até o último instante da exibição. O mérito dos publicitários, que trabalharam a fundo o conceito de “merchandising”, foi amplamente reconhecido. A novela, que se destacou como uma das com mais inserções publicitárias em sua história — mesclando, por exemplo, sabão em pó com temáticas sensíveis, seguro de vida no lugar da profundidade narrativa da protagonista, refrigerante como símbolo de celebração e veículos importados como metáfora de ascensão social — se transformou em um verdadeiro “Super Bowl” do entretnimento no episódio conclusivo.

Este fenômeno resultou em um cenário paradoxal. Por um lado, a nova versão da novela, que deveria ser a grande celebração dos 60 anos da TV Globo e um dos pilares da cultura pop brasileira, revelou-se um fracasso em sua execução. Com tramas mal desenvolvidas, personagens descaracterizados e situações inverossímeis, mesmo para o universo ficcional das produções televisivas, ela acabou por cumprir o papel histórico das “soap operas” americanas: ser um produto para comercializar outros produtos. A percepção geral foi de que o conteúdo serviu primariamente como um veículo para a publicidade. No entanto, por outro lado, essa experiência parece ter gerado uma espécie de “despertar de consciência” dentro do maior grupo de mídia do país, levando à valorização do fato de que a telenovela é um inestimável patrimônio cultural e artístico da nação.

Valorização de Clássicos e Crise Criativa na TV Globo

Essa nova consciência, observada pelos analistas, não surgiu da capacidade de Manuela Dias e de sua equipe em reequiparar a genialidade do original de Gilberto Braga e Leonor Bassères. Pelo contrário, ela se manifestou através dos comerciais. Um movimento particularmente raro e estratégico foi notado em uma das chamadas para divulgar a próxima novela das nove. Em vez de apresentar cenas de “Três Graças”, o próximo folhetim de Aguinaldo Silva que sucederá a problemática readaptação de “Vale Tudo”, a campanha destacou o próprio roteirista. Silva é reconhecidamente um dos autores da versão histórica de “Vale Tudo”, consolidando-se como uma lenda viva da televisão brasileira.

O referido comercial demonstrou uma sofisticação rara no atual panorama da televisão, revisitando a galeria de memoráveis vilãs criadas por Aguinaldo Silva. Desde a inigualável Odete Roitman, cocriada com Gilberto Braga e Leonor Bassères, até a eterna Perpétua, viúva de Joana Fomm em “Tieta”, e a icônica Nazaré Tedesco, papel marcante de Renata Sorrah em “Senhora do Destino”. O slogan do anúncio sintetizava: “Ícones diferentes, mesmo autor”, celebrando a unidade e o legado de sua obra. Esta é uma evidência de que a Globo, diante dos desafios do remake de “Vale Tudo”, parece revisitar sua própria história e talentos consagrados.

É importante recordar que Aguinaldo Silva havia sido desligado da Globo anos atrás, num processo que resultou no afastamento de diversos autores responsáveis por alguns dos maiores clássicos da emissora. Essa “limpa” refletiu os novos tempos da indústria televisiva, que buscava renovar seu quadro de talentos, partindo do pressuposto de que a “Hollywood brasileira” não poderia se sustentar indefinidamente sobre os ombros de sua guarda mais experiente. Contudo, a recente sequência de insucessos no horário nobre — com exemplos como “Um Lugar ao Sol”, de Lícia Manzo, que naufragou, e “Mania de Você”, de João Emanuel Carneiro (o mesmo autor de “Avenida Brasil”), que também não atingiu o impacto esperado — sugere que os talentos mais novos não estão, de fato, conseguindo suprir a lacuna ou replicar o êxito dos veteranos. Esta sucessão de eventos aponta para uma aparente crise de conteúdo e de relevância narrativa no cerne da produção atual de teledramaturgia brasileira.

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Imagem: www1.folha.uol.com.br

Diante da complexa série de falhas que marcaram a tentativa de refazer “Vale Tudo”, um aspecto que gerou desapontamento geral, o Grupo Globo parece ter absorvido uma valiosa lição: a importância e o potencial de retorno da valorização dos autores que forjaram os verdadeiros clássicos da teledramaturgia. A exceção que prova a regra é Bruno Luperi, neto de Benedito Ruy Barbosa, que demonstrou notável habilidade ao reescrever e atualizar sucessos como “Pantanal” e “Renascer”. No entanto, esse sucesso pontual não ofusca a percepção de uma crise mais ampla no desenvolvimento de novas narrativas de impacto. O panorama atual sugere que o investimento e reconhecimento em nomes consagrados podem ser um caminho a ser novamente trilhado para reacender o brilho das produções televisivas, evitando que apenas os comerciais do remake de Vale Tudo ganhem destaque.

O gesto de estender um “tapete vermelho” para Aguinaldo Silva neste momento, reforçado pela exibição de um “Globo Repórter” sobre sua próxima novela logo após o desfecho do último capítulo do remake de “Vale Tudo”, sinaliza uma possível mudança de rumo nas estratégias de conteúdo da emissora. Há uma inferência de que a sabedoria e a experiência dos autores mais velhos podem ser cruciais para a superação dessa fase de desafios criativos. Talvez o país esteja nostálgico por um tempo em que o humor, a leveza, a graça e a própria “sordidez” — aquela das vilãs cativantes que o público tanto adorou — eram elementos que os mestres como Aguinaldo Silva souberam construir com genialidade inimitável, independentemente dos comerciais do remake de Vale Tudo.

Nesse contexto, os comerciais — o “sabão” para o qual a novela, como um gênero, sempre foi historicamente produzida para vender — parecem carregar mais substância e uma propriedade narrativa superior do que o produto televisivo que os estava encapsulando. A discussão transcendeu a identidade de “quem matou Odete Roitman” (personagem que, aliás, foi ressuscitada por sua relevância singular na novela), focando-se em um despertar: o reconhecimento de que com a telenovela não se deve transigir. É um pilar da paixão nacional e um elemento indissociável da cultura brasileira, tão essencial quanto o imaginário coletivo das Havaianas usadas por Fernanda Torres.

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Esta análise crítica sublinha a peculiaridade do remake de “Vale Tudo”, onde os anúncios comerciais se sobressaíram, forçando uma reflexão sobre a direção da teledramaturgia e o valor dos grandes autores brasileiros. Para continuar explorando debates profundos sobre a cultura e a mídia do país, acesse nossa editoria de Análises e descubra outros pontos de vista.

Crédito da imagem: Reprodução/TV Globo