A aliança entre o Centrão e o bolsonarismo, evidenciada pela tramitação de projetos como a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Blindagem e a aprovação da urgência para a análise do Projeto de Lei (PL) da Anistia, projeta impactos adversos diretos para os apoiadores de Jair Bolsonaro. Essa é a conclusão de Fernando Abrucio, renomado cientista político, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV-SP) e comentarista da GloboNews. Ele compartilhou suas análises em entrevista com a jornalista Natuza Nery, durante o podcast O Assunto, na última sexta-feira (19).
Abrucio ressalta que essa aproximação estratégica com o Centrão, embora busque alinhamentos legislativos pontuais, cria uma inconsistência fundamental no cerne do discurso político que o bolsonarismo construiu nos últimos anos. A narrativa baseada na oposição a supostas “castas” e “elites” do sistema político torna-se fragilizada quando os próprios adeptos do movimento buscam mecanismos de autoproteção parlamentar.
Aliança Centrão Bolsonarismo: Efeitos Negativos, analisa Abrucio
Para ilustrar essa contradição, Fernando Abrucio mencionou o discurso do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG). Durante as discussões da PEC da Blindagem, na semana anterior, Ferreira surpreendeu ao declarar abertamente: “queremos ser blindados mesmo”. Essa afirmação representa um antagonismo claro em relação às falas anteriores do parlamentar, que costumeiramente se posicionava como um defensor do “povo” contra o “sistema”. O cientista político enfatiza que o voto favorável à PEC não apenas concede mais proteções, mas também colabora na construção de uma “casta” política, distanciando o bolsonarismo de suas premissas originais de combate a privilégios. Assim, a aliança, vista por muitos como uma articulação necessária, emerge com potencial para desidratar a base de apoio fiel e os pilares discursivos do movimento bolsonarista.
Nesse cenário de tensões e realinhamentos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva observa os acontecimentos de uma posição vantajosa, conforme a análise de Abrucio. Embora Lula enfrente desafios na governabilidade devido à constante fricção entre o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal, os efeitos políticos de médio e longo prazo podem ser benéficos para sua base eleitoral. O aumento da rejeição pública a medidas como a PEC da Blindagem e a união entre o Centrão e o bolsonarismo em torno de pautas impopulares tende a impactar negativamente os candidatos apoiados por essas alas. Consequentemente, Lula se posiciona eleitoralmente fora dessa dinâmica de desgaste, potencialmente colhendo dividendos políticos dessa polarização e do crescente ceticismo da população.
A Controvérsia da PEC da Blindagem e Suas Implicações
A PEC da Blindagem, que passou por votação expressa, busca fortalecer a proteção jurídica de deputados e senadores em âmbito cível e criminal. Esta proposta tem sido objeto de severas críticas por parte de entidades da sociedade civil e de diversos especialistas em direito constitucional, que a classificam como um significativo retrocesso democrático. O principal argumento é que o texto dificulta a responsabilização de parlamentares, criando uma percepção de impunidade e reforçando a existência de uma categoria política imune às normas que regem o restante da população. Tal medida, argumentam os críticos, vai de encontro aos princípios da isonomia e da prestação de contas que são pilares de uma democracia robusta.
Essa união pragmática entre o Centrão e parcelas do bolsonarismo é vista por Fernando Abrucio como uma estratégia de defesa, motivada em grande parte pelo temor de investigações e pela intenção de assegurar impunidade. O espectro das ações judiciais e o potencial envolvimento em irregularidades – desde o uso inadequado de emendas parlamentares até acusações mais sérias – impulsionam essa busca por salvaguardas legislativas. Um dos exemplos mais recentes dessa aproximação foi a nomeação de Eduardo Bolsonaro como líder da minoria, um claro sinal de convergência de interesses em pautas-chave dentro do Congresso.

Imagem: g1.globo.com
Próximos Passos e Cenário no Senado
Após a aprovação na Câmara dos Deputados, a PEC da Blindagem segue agora para o Senado Federal. Para ser ratificada, a proposta necessitará de no mínimo 49 votos em cada um dos dois turnos de votação. A expectativa é que o ambiente de votação no Senado seja consideravelmente mais resistente à medida. Analistas apontam que a proximidade das eleições de 2026, com a renovação de dois terços das cadeiras do Senado, torna a aprovação de legislações com alto potencial de impopularidade um risco eleitoral muito maior para os senadores. A consciência de que pautas que visam à autoproteção da classe política podem gerar forte reação popular serve como um fator de contenção e pode barrar o avanço da proposta na Casa revisora.
Enquanto a PEC da Blindagem tramita, outras discussões relevantes preenchem o cenário político, como a distinção entre anistia e indulto e os desdobramentos de votações estratégicas. O panorama político brasileiro está em constante movimento e você pode acompanhar as principais atualizações e análises através de fontes confiáveis como o G1 Notícias de Política.
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Em suma, a articulação entre o Centrão e o bolsonarismo, catalisada pela aprovação de pautas como a PEC da Blindagem, pode paradoxalmente fragilizar o próprio movimento que buscam proteger. Conforme destacado por Fernando Abrucio, a diluição do discurso anti-sistema em favor de benefícios corporativos políticos tende a gerar um desgaste eleitoral significativo, enquanto opositores se beneficiam da deterioração da imagem dos envolvidos. Para continuar aprofundando-se nos desdobramentos da política nacional e seus impactos, explore nossas análises sobre política nacional.
Crédito da imagem: Bruno Spada / Câmara dos Deputados
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