Nesta semana, Alexandre Kalache, médico e gerontólogo de renome internacional, atinge a marca de 80 anos de idade, consagrando cinco décadas dedicadas incansavelmente aos estudos e à prática da longevidade. Sua jornada profissional e pessoal tem sido marcada por uma militância ativa na defesa do envelhecimento digno e pela desmistificação de preconceitos associados à idade. Sua experiência é notável, com um histórico de idealização de numerosos projetos e a formação de uma vasta rede de profissionais impactados por sua visão.
A trajetória excepcional de Kalache inclui a direção do Departamento de Envelhecimento e Curso de Vida na Organização Mundial de Saúde (OMS), uma instituição global crucial na promoção da saúde pública. Sua influência estendeu-se para além dos corredores da OMS, reverberando em diversas iniciativas que buscam transformar a percepção e as políticas relacionadas ao envelhecimento em escala global. A capacidade do médico de mobilizar e educar tem sido um diferencial constante em sua carreira.
Alexandre Kalache 80 Anos: Obras e Legado na Longevidade Ativa
Para celebrar seus 80 anos, **Alexandre Kalache** oferece ao público uma nova e importante contribuição: o lançamento do livro “A Revolução da Longevidade”. A obra entrelaça fatos significativos de sua vida pessoal e profissional com os pilares fundamentais do envelhecimento ativo, proporcionando uma perspectiva singular sobre o tema. Os lançamentos estão previstos para São Paulo, durante o 18º Fórum da Longevidade na próxima semana, e no Rio de Janeiro, no mês de novembro.
Kalache ressalta que o livro não constitui uma autobiografia clássica, embora explore profundamente sua jornada pessoal. Ele argumenta que sua vida se torna relevante por ter se desenrolado em um período de profundas transformações sociais da história moderna, que moldaram o panorama do envelhecimento. Da mesma forma, não é um mero manual de autoajuda, mas sim uma fonte de reflexões, alertas e conselhos que buscam estimular um olhar crítico e proativo sobre a passagem do tempo. O gerontólogo destaca um fato impactante: a expectativa de vida que era de 46 anos quando nasceu, hoje alcança 77 anos. Segundo ele, esses 30 anos a mais representam “30 anos de vida, não de velhice”, enfatizando a importância de se vivê-los com qualidade e propósito.
Recentemente, o especialista também coordenou a criação do “Pequeno manual anti-idadista”, uma coletânea de ensaios elaborada por 43 autores, que aborda detalhadamente as múltiplas facetas do preconceito etário contra os idosos e propõe estratégias eficazes para combatê-lo. Esta publicação é um desdobramento direto de sua incessante militância. Ele liderou com sucesso o coletivo “Velhice Não É Doença”, um movimento crucial que evitou a inclusão da velhice como patologia na Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial de Saúde (OMS). Tal conquista reafirma seu comprometimento com a promoção de uma visão mais saudável e inclusiva do envelhecimento, desassociando-o automaticamente de enfermidades e declínio.
A epígrafe do novo livro é uma citação da atriz Jane Fonda, que encapsula a filosofia da obra: “Quando eu era jovem, achava que o ativismo era uma corrida de velocidade. Se eu corresse rápido o suficiente, tudo poderia ser consertado num instante. Depois, um pouco mais velha, entendi que o ativismo é mais parecido com uma maratona e aprendi a dosar o ritmo. Mas agora, já bem mais velha, percebo que é, na verdade, uma corrida de revezamento. A gente passa o bastão.” Essa perspectiva do ativismo como uma “corrida de revezamento” reflete a compreensão de Kalache sobre a necessidade de preparar sucessores para dar continuidade ao valioso trabalho que ele construiu.
Considerado um militante incansável, **Alexandre Kalache** mantém um ritmo de trabalho intenso e constante, apesar da idade. No entanto, ele tem plena consciência da importância de formar novos líderes para dar sequência às suas realizações. Ele vê como imperativo o ato de deixar um legado. “Sempre digo aos mais jovens que lutamos contra o idadismo não apenas por nós, mas por eles”, afirma, explicando que foi com esse espírito que concebeu seu novo livro. Kalache esclarece que, nesta etapa da vida, suas ambições profissionais se dissiparam e a necessidade de provar algo se esvaziou. Contudo, persiste uma “vaidade” em deixar uma marca significativa, um legado que resista ao tempo, superando a ideia de desaparecer completamente.
As projeções demográficas destacam a urgência de debater o envelhecimento, com 2050 sendo um ano marco. Prevê-se que 21% da população global terá 60 anos ou mais até lá, um aumento significativo em comparação com os 8% registrados em 1950 e os 12% em 2023. Nesse cenário, o número de indivíduos com 60 anos ou mais excederá a marca de 2 bilhões e ultrapassará o número de crianças com menos de 15 anos. Notavelmente, em 2012, o contingente de idosos já era maior que o de crianças abaixo de 5 anos. Adicionalmente, 64 países deverão ter 30% ou mais de sua população com 60 anos ou mais. Em contraste, apenas o Japão atingiu essa marca em 2015. Em 2050, grande parte dos países desenvolvidos e significativos segmentos da América Latina e da Ásia, incluindo a China, farão parte deste grupo. Para saber mais sobre a importância do envelhecimento saudável, consulte o site oficial da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Imagem: g1.globo.com
Kalache compartilha que sua conexão com a longevidade remonta à infância, quando cresceu rodeado de parentes idosos e desenvolveu uma fascinação em ouvir suas histórias e experiências. Essa vivência o levou a perceber, já na faculdade de medicina, que seu interesse não era pela carreira convencional, mas sim pela “anatomia social do que pela anatomia humana”. Aprofundando seus estudos no Reino Unido, na London School of Hygiene & Tropical Medicine, para o mestrado, deparou-se com uma realidade contrastante: em 1975, pessoas com 65 anos representavam 12% da população britânica, enquanto no Brasil esse grupo não passava de 3%. Antes mesmo de concluir o mestrado, a decisão já estava tomada: dedicar sua vida profissional à saúde pública do envelhecimento global. Meses após o término do mestrado, foi surpreendido com o convite para uma posição acadêmica na prestigiada Universidade de Oxford, onde permaneceu por vários anos lecionando, pesquisando e concluindo seu doutorado.
Em 1994, após duas décadas dedicadas ao ambiente acadêmico no Reino Unido, o renomado médico e gerontólogo **Alexandre Kalache** foi recrutado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Durante os 13 anos subsequentes, ele empreendeu uma batalha contínua para inserir a abordagem do “curso de vida” no contexto do envelhecimento, contando com o apoio essencial de sua rede global de ex-alunos que construiu ao longo dos anos. A expressão “curso de vida” possui uma relevância profunda: ela significa que as condições de saúde e sociais vivenciadas por uma pessoa desde a juventude impactam diretamente sua capacidade funcional ideal na vida adulta, e condições adversas podem resultar em um declínio precoce da saúde. É a compreensão de que o envelhecimento é um processo contínuo e influenciado por toda a trajetória do indivíduo.
**Alexandre Kalache** dedicou “A Revolução da Longevidade” a seus filhos e netos, além de seu companheiro, Paul Faber, em reconhecimento aos mais de 40 anos de cumplicidade, trocas e profundo afeto. Contudo, ele enfatiza que a obra é, acima de tudo, uma “carta aberta” dirigida aos jovens brasileiros. Sua aspiração mais sincera é que as futuras gerações de brasileiros tenham sucesso em seu próprio envelhecimento e que o Brasil, como nação, alcance sucesso na gestão e na promoção da longevidade de sua população.
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A notável trajetória de Alexandre Kalache, marcada por seu aniversário de 80 anos e o lançamento de “A Revolução da Longevidade”, serve como um chamado à reflexão sobre a forma como a sociedade enxerga e se prepara para o envelhecimento. Sua dedicação inabalável contra o etarismo e a favor de uma longevidade ativa reforça a urgência de debater essas questões. Continue acompanhando a nossa editoria de Análises para se aprofundar nos debates mais relevantes sobre os temas que impactam o Brasil e o mundo.
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