Artigos Relacionados

📚 Continue Lendo

Mais artigos do nosso blog

PUBLICIDADE

Além do bem-estar emocional, a prática do perdão pode beneficiar a saúde física

Facebook Twitter Pinterest LinkedInPesquisas recentes e experiências pessoais indicam que o ato de perdoar se estende muito além do equilíbrio mental, influenciando positivamente a condição física do indivíduo. Casos como o da analista de redes sociais Luana Cianci, de 29 anos, oriunda de Guarulhos, Grande São Paulo, revelam uma notável correlação entre o gerenciamento de … Ler mais

Pesquisas recentes e experiências pessoais indicam que o ato de perdoar se estende muito além do equilíbrio mental, influenciando positivamente a condição física do indivíduo. Casos como o da analista de redes sociais Luana Cianci, de 29 anos, oriunda de Guarulhos, Grande São Paulo, revelam uma notável correlação entre o gerenciamento de traumas e a manifestação de doenças como a psoríase, uma condição inflamatória da pele que se estabilizou após a adesão ao perdão.

A jornada de Luana começou cedo. Aos quatro anos de idade, ela foi diagnosticada com psoríase. O surgimento da doença ocorreu em um período de grande instabilidade familiar, marcado pela separação dos pais e pelo subsequente segundo casamento de sua mãe, com um parceiro que agia de maneira violenta. A vida no ambiente familiar se transformou em um cenário de agressões recorrentes.

👉 Leia também: Guia completo de Noticia

Desde cedo, a imagem do pai, descrito por ela como uma figura heróica e constantemente presente, contrastava fortemente com a tensão que se instaurava em seu lar. O divórcio dos pais configurou-se como um acontecimento profundamente traumático em sua infância.

Embora o diagnóstico de psoríase tenha sido formalmente estabelecido por um dermatologista, as orientações para o tratamento não foram seguidas naquele momento de sua vida. A severidade e o alívio das lesões em seu corpo agiam como um verdadeiro barômetro do ambiente conturbado em casa. Quanto mais frequentes e intensas eram as brigas e a violência, mais a condição de sua pele piorava, demonstrando uma intrínseca ligação com o estresse e a perturbação emocional que vivenciava.

Conforme relata Luana, sua condição de saúde paradoxalmente servia a um propósito na dinâmica familiar. “Minha psoríase virou um motivo para minha mãe acionar meu pai, que é farmacêutico. Eles tinham que conversar por causa de mim, o que acabava gerando ciúmes e novas tensões no relacionamento”, ela esclarece, indicando como a doença se entrelaçava nas complexas relações afetivas e nos conflitos que a cercavam.

Com o avanço progressivo da doença de pele e a intensificação do cenário de violência doméstica, quando Luana tinha nove anos, sua mãe e sua irmã tomaram a difícil decisão de buscar refúgio no Ceará. Esse período marcou uma fase desafiadora de adaptação a um novo contexto. Contudo, foi durante essa estadia que um fato inesperado ocorreu: as lesões de psoríase, que até então haviam se alastrado para a totalidade de seu corpo, começaram a retroceder e a apresentar melhora, surpreendentemente, sem a aplicação de qualquer tratamento específico. Esse desenvolvimento reforça a teoria de que a alteração do ambiente estressor teve um impacto direto na evolução da sua condição de saúde.

A calmaria, entretanto, foi passageira. O padrasto de Luana perseguiu a família até o Ceará, e, eventualmente, sua mãe e, consequentemente, ela própria, retornaram a morar com ele. Essa decisão infelizmente trouxe de volta os episódios de violência, e com eles, a recorrência dos sintomas da psoríase. Aos treze anos, Luana vivenciou uma nova piora de seu estado de saúde, continuando sem o acompanhamento médico adequado para a sua condição. Foi nesse ponto que sua mãe a enviou de volta a São Paulo, onde Luana passou a residir com seu pai e sua avó. Foi ali que ela finalmente iniciou o tratamento dermatológico que mantém de forma contínua até o presente momento, buscando um controle efetivo sobre a doença.

Um dos momentos mais críticos e definidores na vida de Luana Cianci ocorreu aos 22 anos, quando ela enfrentou uma tentativa de suicídio. Este episódio culminou em uma internação de 25 dias na ala psiquiátrica do Hospital Municipal Pimentas, em Guarulhos (Grande São Paulo). Esse período no hospital é descrito por ela como um ponto de inflexão decisivo em sua trajetória, um verdadeiro divisor de águas.

Durante sua internação e nos acompanhamentos subsequentes com psiquiatras e psicólogos, Luana alcançou uma nova percepção sobre sua condição de saúde. Ela passou a compreender que a psoríase, embora tivesse um forte componente emocional, era fundamentalmente uma inflamação, necessitando de um olhar mais abrangente. Esse entendimento profundo também a conduziu à conclusão primordial sobre a necessidade de perdoar. Segundo Luana, a pessoa que ela é hoje é o resultado direto de todos os traumas vivenciados em seu passado. “Eu precisava liberar o meu passado para decifrar a doença”, expressou.

Esse processo de perdão foi amplo, envolvendo figuras significativas de sua vida. Abrangiu sua mãe, que, a seu modo, também foi vítima de um ciclo de violência, e seu padrasto, já falecido, que foi o agressor. A abrangência do perdão também se estendeu àqueles que, em sua infância, lhe causaram dor. Na escola, por exemplo, ela sofria bullying e agressões físicas por causa de sua psoríase, lembranças que ainda reverberam. Em suas próprias palavras, “Eu era uma criança desanimada, carente em pensamentos, em recursos, em tudo. Um corpo desprovido de amor. Apenas sentia rancor e achava que tudo aquilo era falha dos outros.” No entanto, a atitude de perdoar teve um impacto transformador, aliviando sua condição e, hoje, sua doença está totalmente sob controle. Neste sábado, dia 30 de agosto, marca-se a celebração do Dia Nacional do Perdão, ressaltando a relevância desta prática.

Para um entendimento mais aprofundado, a psoríase é uma doença de natureza inflamatória e crônica. Caracteriza-se por não ser contagiosa e ser imunomediada, o que significa que sua ocorrência está relacionada a fatores imunológicos. A manifestação na pele se dá por meio de lesões avermelhadas que apresentam descamação, podendo localizar-se especificamente no couro cabeludo, cotovelos, joelhos e pernas, ou, em certos casos, desenvolver-se em placas mais extensas por toda a superfície cutânea, conforme explica Renata Magalhães, dermatologista credenciada à SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia).

A Dra. Renata Magalhães comenta sobre a intrínseca, mas por vezes complexa, relação entre o estado emocional e o agravamento de doenças inflamatórias. Segundo ela, eventos estressantes ou pontuais podem impactar severamente o equilíbrio emocional, resultando em uma exacerbação da condição inflamatória e, por consequência, da doença de pele. Embora a mensuração exata da influência do fator emocional em doenças como a psoríase seja desafiadora, mais de 60% dos pacientes relatam que o surgimento ou a intensificação da doença esteve ligada a problemas emocionais. Isso inclui quadros de estresse acentuado, ansiedade, depressão, ou até mesmo eventos traumáticos agudos na vida de uma pessoa, como experiências de violência ou perdas familiares significativas.

Além do bem-estar emocional, a prática do perdão pode beneficiar a saúde física - Imagem do artigo original

Imagem: www1.folha.uol.com.br

A especialista infere que o caminho de Luana, que a levou a compreender melhor suas relações e a perdoar o contexto adverso de sua vivência, pode ter induzido um estado de “calmaria” em relação aos fatores emocionais que tipicamente alimentam o quadro inflamatório da psoríase. Um maior esclarecimento e uma aceitação das experiências passadas, bem como a forma como essas influenciaram o curso de sua doença, provavelmente contribuíram para sua recuperação. Tal postura faz parte de uma abordagem de autocuidado holístico, onde buscar a paz interior, promover uma melhor qualidade de vida e manter um estado psicológico mais sereno se traduzem, quase que invariavelmente, em benefícios substanciais para a modulação de doenças inflamatórias e dermatológicas.

Os efeitos benéficos do perdão não se restringem às doenças inflamatórias da pele, alcançando inclusive a saúde cardiovascular. Existe uma quantidade considerável de dados na literatura médica que comprovam a ligação entre a disposição para perdoar e uma menor incidência de patologias cardíacas.

Um estudo relevante, cujos resultados foram divulgados em 2024, durante a Sessão Científica Anual do American College of Cardiology e no Congresso Brasileiro de Cardiologia, investigou precisamente a influência de sentimentos como perdão, gratidão, otimismo e propósito de vida. O objetivo central era avaliar como a estimulação dessas emoções positivas poderia impactar a hipertensão arterial e a função endotelial, que é a saúde da camada interna dos vasos sanguíneos.

A pesquisa, conduzida com um grupo de cem pacientes hipertensos acompanhados pelo Ambulatório da Unidade de Hipertensão da UFG (Universidade Federal de Goiás), produziu resultados animadores. Observou-se uma significativa melhoria na pressão arterial sistólica medida em consultório – conhecida como a pressão máxima –, com uma redução de 7.6 milímetros de mercúrio. Adicionalmente, verificou-se uma melhora na pressão sistólica central, ou aórtica, mensurada diretamente na aorta, bem como na dilatação fluxo-mediada da artéria braquial. Esta última avaliação é um indicador importante da saúde do endotélio, evidenciando uma funcionalidade vascular aprimorada nos participantes que desenvolveram as capacidades de perdão e outras emoções positivas.

De acordo com Álvaro Avezum, diretor científico do Departamento de Espiritualidade e Medicina Cardiovascular (Demca) da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e diretor de cardiologia do Hospital Oswaldo Cruz, o ato de recordar continuamente uma situação de mágoa ou um episódio não perdoado estimula a produção excessiva de adrenalina e cortisol. Esses são hormônios conhecidos por impulsionar um aumento da frequência cardíaca, elevar a pressão arterial, intensificar a coagulação sanguínea nas artérias e provocar a vasoconstrição (estreitamento dos vasos). Quando essa recordação carregada de rancor ocorre com regularidade, ele alerta, há um crescimento substancial do risco de ocorrência de um ataque cardíaco.

O cardiologista reforça essa ideia ao apontar que, se um indivíduo já apresenta fatores de risco preexistentes, como obesidade, um estilo de vida sedentário, ou uma dieta com alta ingestão de sal ou açúcar — condições que, por si só, já elevam a probabilidade de desenvolver hipertensão ou diabetes — adicionar a essa equação um fator que estimula continuamente a liberação exagerada de adrenalina e cortisol cria um ambiente de risco ainda maior. Assim, a falta de perdão se soma a essas vulnerabilidades preexistentes, agravando o potencial para problemas cardiovasculares.

Na sua prática clínica diária, a psicóloga e psicanalista Suzana Avezum concentra sua atenção na complexa questão do ressentimento. Frequentemente, pacientes chegam ao consultório imersos em um sofrimento emocional e mental visível, e em muitos desses casos, Avezum percebe que a raiz profunda desse mal-estar reside em mágoas não resolvidas. Ela evoca a teoria de Freud, que postula que o registro do tempo não existe no inconsciente. Isso significa que, se uma lembrança de um evento marcante ocorrido, por exemplo, aos cinco anos de idade, foi positiva, sua recordação ainda hoje gerará felicidade. Contudo, se a lembrança for negativa, o sofrimento é reeditado como se o evento tivesse acabado de acontecer, evidenciando que o impacto temporal não se esvanece para o inconsciente.

Para a Dra. Suzana Avezum, o caminho para a cura começa com um passo fundamental: a compreensão de que o perdão funciona como um “antídoto” para essa dor persistente. O segundo passo consiste em assimilar a verdadeira natureza do perdão. Dentro do contexto da psicologia positiva, perdoar significa uma decisão consciente de abrir mão de sentimentos negativos como a raiva e o desejo de vingança dirigidos ao ofensor. “Você tem total direito de sentir raiva, ódio, mas vai renunciar a isso”, esclarece a psicóloga. “É como aquele conhecido ‘deixa para lá’. Assim é que o perdão opera. Eu repito muito aos meus pacientes: este sofrimento é seu. A outra pessoa, na maioria das vezes, nem faz ideia da dimensão da dor que você carrega. E mesmo se você perdoar, é provável que ela continue sem saber. O perdão não é direcionado ao outro, mas sim um presente que você oferece a si mesmo para se sentir melhor, para se libertar dessa carga negativa e, finalmente, ser mais feliz e viver com leveza”, complementa.

📌 Confira também: artigo especial sobre redatorprofissiona

Em sua própria dissertação de mestrado, que teve como base a pesquisa intitulada “Avaliação da Disposição para o Perdão em Pacientes com Infarto Agudo do Miocárdio”, Suzana Avezum realizou uma comparação entre dois grupos distintos. No primeiro grupo, foram incluídos indivíduos que haviam experimentado um infarto; enquanto no segundo, os participantes não apresentavam qualquer histórico de patologia cardiovascular. Os resultados revelaram que os integrantes do primeiro grupo demonstravam uma menor inclinação para perdoar, ao passo que no segundo grupo, a disposição para o perdão era significativamente mais prevalente. Diante dessa constatação, a psicóloga ressalta a importância de buscar auxílio quando o indivíduo se vê incapacitado de perdoar por conta própria, sugerindo a procura de um líder religioso de confiança, de um amigo próximo ou, de forma mais estruturada, de uma terapia profissional, enfatizando que “Frequentemente, nos esquecemos da necessidade de pedir ajuda, pois não conseguimos superar tudo sozinhos.”

Com informações de Folha de S.Paulo

Links Externos

🔗 Links Úteis

Recursos externos recomendados

Leia mais

PUBLICIDADE

Plataforma de Gestão de Consentimento by Real Cookie Banner
Share via
Share via