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Alegadas Intensificação do Cerco a Jerusalém Oriental Pós-7 de Outubro são Relatadas por Residentes Palestinos

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Relatos de ativistas palestinos e dados de organizações humanitárias indicam que Jerusalém Oriental, um território de alta sensibilidade geopolítica, tem sido alvo de um cerco mais rigoroso por parte das autoridades israelenses, particularmente intensificado após os ataques de 7 de outubro de 2023. Essa pressão se manifesta através do aumento nas demolições de residências, expulsões e medidas administrativas que afetam a vida diária dos habitantes palestinos na região.

Um dos epicentros dessa situação é o bairro de Sheikh Jarrah. Esta localidade, situada a uma curta distância da histórica Cidade Velha de Jerusalém, é predominantemente habitada por palestinos. A Cidade Velha, mundialmente famosa por sua profusão de locais sagrados como o Muro das Lamentações, a Basílica do Santo Sepulcro, o Domo da Rocha e a mesquita de Al-Aqsa, atrai milhões de turistas anualmente. Embora Sheikh Jarrah não figure nos itinerários turísticos habituais, o bairro alcançou notoriedade na mídia internacional. Ele se tornou um ponto focal em disputas territoriais que, em um dado momento, precipitaram a mais séria crise entre Israel e a Palestina desde 2014.

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A controvérsia em Sheikh Jarrah se centra na propriedade de imóveis. Colônias e representantes de facções da extrema-direita israelense, entre os quais o atual ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, alegaram que algumas das propriedades palestinas no bairro seriam de origem judaica. Com base nesses argumentos, exerceram pressão para a expulsão das famílias palestinas que residem ali. A maioria dessas famílias habita a área desde pelo menos 1948, com muitas delas tendo se deslocado para Sheikh Jarrah após serem forçadas a deixar cidades como Tel Aviv, Haifa e Jerusalém Ocidental, eventos que ocorreram logo após a fundação do Estado de Israel. A delicadeza da situação habitacional e a intrincada história de posse da terra servem como pano de fundo para as tensões contínuas no bairro.

As disputas legais sobre a posse de terras em Sheikh Jarrah catalisaram a chamada Crise de 2021. Naquele período, grupos armados palestinos, como o Hamas, reagiram aos planos de despejo dos moradores, efetuando disparos de mísseis contra Israel que resultaram na morte de quatorze pessoas. Em retaliação, bombardeios israelenses atingiram a Faixa de Gaza, culminando na morte de 256 palestinos durante um intervalo de duas semanas. A intensidade dos confrontos demonstrou a volatilidade da situação na região, com os eventos de Sheikh Jarrah servindo de catalisador para uma escalada militar de grandes proporções. A crise foi temporariamente contida após o Supremo Tribunal de Israel decidir suspender algumas das ordens de despejo, e um acordo de cessar-fogo foi então firmado entre o governo israelense e o Hamas, oferecendo um alívio temporário à escalada de violência que havia tomado conta da região. Contudo, essa resolução foi vista por muitos ativistas palestinos como uma pausa momentânea e não como o fim das práticas de deslocamento.

Atualmente, ativistas palestinos em Jerusalém Oriental afirmam que o padrão de remoções e demolições de residências nunca cessou de fato e que essas ações ganharam um ímpeto renovado após os ataques de 7 de outubro. Esses ataques desencadearam o atual e prolongado conflito na Faixa de Gaza, reabrindo feridas e intensificando medidas de segurança e controle em áreas ocupadas. De acordo com Yazan Rishiq, um ativista palestino de 34 anos e doutorando em economia pela Universidade Árabe-Americana de Ramallah, cuja organização, a ONG Grassroots Jerusalem, tem sua sede no próprio bairro de Sheikh Jarrah, a situação para os palestinos era complexa antes mesmo de 6 de outubro de 2023. Rishiq enfatiza que as ferramentas utilizadas pelas autoridades israelenses — a demolição de casas e as ordens de despejo — permanecem as mesmas, mas a sua frequência e velocidade de aplicação “aumentaram muito” no período pós-7 de outubro. Essas declarações indicam uma percepção de que o governo israelense está capitalizando a nova conjuntura para intensificar suas políticas na região, elevando as tensões e os desafios enfrentados pelos moradores.

A afirmação de Yazan Rishiq encontra respaldo em dados compilados pelo OCHA, o escritório de ajuda humanitária da ONU. Conforme os relatórios da organização, entre janeiro de 2023 e agosto de 2025, um total de 610 construções de propriedade palestina foram demolidas na porção oriental de Jerusalém. Durante o mesmo período, o impacto humano foi ainda mais alarmante, com 1.637 indivíduos sendo forçadamente deslocados de suas residências. Esses números fornecem um panorama sombrio da realidade local, onde a segurança habitacional é constantemente ameaçada. A análise da série histórica de demolições, iniciada em 2009, revela que os anos de 2023 e 2024 registraram os maiores índices de destruição, apontando para uma escalada recente nas políticas de demolição. Essas estatísticas corroboram as alegações de Rishiq e de outros palestinos que, optando por não se identificar publicamente devido ao temor de represálias, relataram ter sido submetidos a uma repressão intensificada e a um aumento no número de prisões após 7 de outubro. Um dos relatos colhidos aponta que um comerciante palestino teve seu negócio invadido por soldados e foi posteriormente detido, ilustrando as dificuldades enfrentadas pelos moradores da região.

As autoridades israelenses justificam as demolições de propriedades por duas razões principais: a primeira, de ordem administrativa, alega que as construções foram erguidas sem a devida autorização ou de maneira irregular; a segunda, de caráter securitário, argumenta que as estruturas são empregadas por indivíduos considerados terroristas para planejar ataques, fabricar explosivos ou armazenar armamentos. Essas explicações buscam fundamentar as ações de demolição como necessárias para a manutenção da ordem e da segurança, tanto sob uma perspectiva civil quanto militar. As demolições, independentemente de suas justificativas, permanecem como um ponto de grande fricção e são percebidas pelos palestinos como uma ferramenta para a remoção forçada de comunidades.

A ONG Grassroots Jerusalem, dirigida por Yazan Rishiq, atua como um “centro de pesquisa e aprendizado sobre Jerusalém”, com a missão declarada de “resistir à ocupação, limpeza étnica e remoção” de palestinos da região. Fundada em 2011, a organização desempenha um papel crucial ao oferecer uma plataforma de resistência e documentação. Uma das atividades promovidas pela Grassroots Jerusalem são os passeios turísticos direcionados a estrangeiros que visitam a área. Rishiq ressalta que “não são passeios divertidos”, mas sim “tours políticos” que se dedicam a informar os participantes sobre as medidas sistemáticas que, segundo a organização, Israel impõe aos palestinos com o intuito de os expulsar da cidade. Essa abordagem busca não apenas educar sobre a situação no local, mas também sensibilizar a comunidade internacional para a gravidade dos acontecimentos. A sede da ONG em Sheikh Jarrah é descrita como uma pequena sala, lotada de documentos e livros, com o ar-condicionado insuficiente para o calor escaldante de Jerusalém no final da tarde, um ambiente que reflete os desafios e a intensidade do trabalho ali desenvolvido.

Alegadas Intensificação do Cerco a Jerusalém Oriental Pós-7 de Outubro são Relatadas por Residentes Palestinos - Imagem do artigo original

Imagem: www1.folha.uol.com.br

Entre as medidas implementadas por Israel que impactam significativamente a vida palestina está a construção de um muro para delimitar a fronteira entre a Cisjordânia e o território israelense. Embora a maior parte dessa estrutura consista em uma cerca tripla de arame farpado, nas áreas próximas a Jerusalém, ela se materializa como um muro de concreto com nove metros de altura. Essa barreira física foi erguida após a Segunda Intifada, um período de revolta palestina marcado por uma onda de violência que se estendeu de 2000 a 2005. Israel justifica a existência do muro como uma medida “crucial” para a proteção de seus cidadãos e para sua estratégia de prevenção contra ataques terroristas, destacando-o como um elemento essencial para a segurança nacional. Contudo, a perspectiva palestina sobre a barreira difere radicalmente da visão israelense. Yazan Rishiq critica abertamente a narrativa de segurança, argumentando que “se você constrói um muro que separa palestinos uns dos outros, que destrói a vida comunitária e a economia dos palestinos, não pode dizer que o construiu por motivos de segurança”. Ele ainda enfatiza que o muro exerce um controle profundo e pessoal sobre os indivíduos, afetando inclusive as relações interpessoais ao controlar “quem você pode amar e com quem você pode casar”, evidenciando a percepção de uma ferramenta de opressão social além de uma barreira física. Esta divisão não apenas isola comunidades, mas também impõe barreiras administrativas severas. Palestinianos da Cisjordânia, por exemplo, precisam obter uma permissão especial, raramente concedida, para se mudarem para Jerusalém Oriental, e aqueles que partem da cidade correm o risco de perderem permanentemente o direito de retornar.

O status legal de Jerusalém Oriental permanece uma questão de controvérsia internacional. A área é, por definição geográfica e histórica, situada dentro dos limites da Cisjordânia, conforme estabelecido pela Linha Verde de 1967. Entretanto, Israel a anexou formalmente em 1980, uma decisão que não foi reconhecida pela comunidade internacional. Grande parte dos países considera que a porção oriental de Jerusalém deveria ser a capital de um futuro Estado palestino. Em contraste, Israel defende que Jerusalém, incluindo tanto sua porção Ocidental quanto Oriental, constitui sua capital una e indivisível, abrigando instituições-chave como o Knesset (o parlamento israelense), a Suprema Corte e o gabinete do primeiro-ministro. Devido ao seu status disputado e à sensibilidade política, quase todos os países do mundo, com a notável exceção dos Estados Unidos, mantêm suas embaixadas em Tel Aviv e não em Jerusalém, reforçando o consenso internacional de que a cidade é um território contestado. Os palestinos que residiam em Jerusalém Oriental à época da anexação foram confrontados com opções complexas. Hoje, cerca de 360 mil palestinos vivem na área e tiveram que escolher entre deixar a cidade, aceitar a cidadania israelense ou, como a maioria optou, adquirir o status de “residente permanente” em Israel. Esta última categoria jurídica é notoriamente frágil e sujeita a revogação pelas autoridades israelenses. Ademais, esses residentes não têm o direito de votar nas eleições nacionais de Israel, sendo-lhes permitida a participação apenas em eleições locais, uma restrição que destaca a sua situação política diferenciada e as limitações de sua cidadania, mesmo enquanto residentes da cidade.

Yazan Rishiq, que se enquadra na categoria de residente em Jerusalém Oriental, relata uma intensificação da repressão na região desde 7 de outubro. Segundo o ativista, autoridades israelenses têm fechado escolas, cancelado eventos culturais e aumentado significativamente o número de prisões. Ele especifica que “três escolas foram fechadas por ensinar o que os israelenses consideram um ‘currículo proibido’ em Jerusalém”, o que inclui a abordagem de 1948 não como a data da independência de Israel, mas como a Nakba, termo palestino que significa “catástrofe” e se refere ao deslocamento de aproximadamente 700 mil pessoas após a criação do Estado judeu. Por sua vez, Israel alega que as instituições de ensino em questão foram interditadas por serem administradas pela UNRWA, a agência da ONU responsável pelos refugiados palestinos, cujo funcionamento foi proibido no território israelense em janeiro. Tel Aviv sustenta a proibição com a acusação de que a UNRWA possuiria ligações com o Hamas. A sequência de eventos e as contra-alegações delineiam um cenário de intensa disputa e controle sobre a narrativa e a educação, com profundo impacto na vida comunitária dos palestinos.

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Essa combinação de demolições, restrições e ações repressivas contribui para um ambiente de crescente tensão entre palestinos e israelenses, conforme apontado por Yazan Rishiq. O ativista sublinha que os palestinos “não vão simplesmente aceitar tudo isso”. Faz questão de ressaltar, entretanto, a condenação da violência contra civis no dia 7 de outubro e de qualquer forma de ódio contra judeus, distinguindo cuidadosamente entre a fé judaica e as políticas do Estado israelense. “Havia judeus na Palestina muito antes de haver israelenses”, observa Yazan, afirmando que os palestinos não têm “problema nenhum com judeus, porque o judaísmo é uma religião como qualquer outra”. Ele menciona a existência de amigos judeus em diversos países que são contrários à ocupação, para depois sintetizar sua perspectiva sobre a propriedade da terra e os direitos de ocupação, declarando que “afirmar que você tem uma conexão com essa terra não te dá direito de roubá-la de mim.”

Com informações de Folha de S.Paulo

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