O álbum póstumo de Gal Costa, intitulado “As Várias Pontas de uma Estrela – Ao vivo na Coala”, lançado em 17 de outubro de 2025, pela gravadora Biscoito Fino, perpetua o que viria a ser o derradeiro espetáculo da renomada cantora brasileira. Três anos e um mês após sua realização, em 17 de setembro de 2022, a gravação deste show histórico no Memorial da América Latina, em São Paulo, assume um valor imenso, carregado de melancolia por marcar o encerramento inesperado de uma trajetória musical brilhante.
A edição fonográfica emerge como um documento vital, conferindo à apresentação um caráter de testamento musical. Ninguém presente no palco do Coala Festival, naquela tarde de setembro, poderia prever que aquele seria o último ato de Gal Costa, cujo brilho seria subitamente ofuscado por seu falecimento pouco tempo depois. Mesmo com uma performance vocal influenciada pela presença de um nódulo na fossa nasal, a essência e a paixão da artista permeiam cada faixa do disco.
Álbum Póstumo de Gal Costa Eterniza Último Brilho no Coala
A voz da cantora, mesmo não estando em sua forma mais esplendorosa na abertura com “Fé Cega, Faca Amolada”, clássico de Milton Nascimento e Fernando Brant (1974), ainda possuía a magia inconfundível de Gal Costa, capaz de cativar e emocionar. A qualidade inerente de sua interpretação supera quaisquer nuances momentâneas, garantindo a autenticidade e a força de sua presença artística.
Diferente das apresentações regulares da turnê “As Várias Pontas de uma Estrela” (2021/2022), o roteiro do festival exigiu adaptações estratégicas. Para estabelecer uma conexão imediata com o público diversificado e geralmente mais agitado de festivais, o repertório original foi ajustado. Canções como “Estrada do Sol” (Antonio Carlos Jobim e Dolores Duran, 1958), “Gabriel” (Beto Guedes e Ronaldo Bastos, 1978) e “Quem Perguntou Por Mim” (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1985), que estavam na lista inicial da turnê de novembro de 2021, cederam espaço a sucessos conhecidos.
Adaptações de Repertório e a Dinâmica do Festival Coala
Grandes hits como “Divino Maravilhoso” (Caetano Veloso e Gilberto Gil, 1968) e “Palavras no Corpo” (Silva e Omar Salomão, 2018) foram incorporados para assegurar a atenção da audiência do Coala. Essa flexibilidade demonstrou a habilidade de Gal Costa em se conectar com diferentes públicos, sempre buscando engajamento máximo, mesmo em ambientes com potencial para dispersão. A seleção cuidadosa do repertório visa garantir que a energia da plateia se mantivesse elevada do início ao fim.
Os arranjos musicais da noite também refletiram a pegada enérgica de um festival, inclinando-se majoritariamente para o rock. A banda que acompanhou Gal, composta por Fábio Sá no baixo, Limma nos teclados e Vitor Cabral na bateria, forneceu a base sólida e pulsante que caracterizou muitas das faixas. Esse viés mais roqueiro intensificou músicas como “Tigresa” (Caetano Veloso, 1977), apresentada em um dos pontos altos da performance.
Parcerias em Palco e Momentos Memoráveis
A apresentação foi marcada por participações especiais que elevaram a experiência musical. A colaboração com Rubel e Tim Bernardes em “Tigresa” e “Baby” (Caetano Veloso, 1968) ressoou fortemente com o público. Rubel, por sua vez, uniu-se a Gal na interpretação de “Como 2 e 2” (Caetano Veloso, 1971), enquanto Tim Bernardes destacou-se com Gal em “Negro Amor” (versão de Caetano Veloso e Péricles Cavalcanti para “It’s All Over Now, Baby Blue” de Bob Dylan, 1977) e na potente “Vapor Barato” (Jards Macalé e Waly Salomão, 1971). A performance de Tim Bernardes nesta última, com sua guitarra vigorosa e elogiada por Gal, é apontada como um dos registros mais notáveis da música, ecoando o icônico show “Gal a Todo Vapor” (1971). É notável como a interação com esses jovens talentos reacendeu a já luminosa voz da estrela.

Imagem: Mauro Ferreira via g1.globo.com
A produção do álbum, sob a direção de Marcus Preto, responsável pela turnê “As Várias Pontas de uma Estrela”, sugere um crescendo da performance. O show de Gal no Coala, conforme a gravação, parece ter atingido seu ápice na segunda metade. As limitações naturais da voz aguda de uma artista que celebraria 77 anos uma semana após aquele concerto foram superadas pela paixão e intensidade da performance, resultando em um belíssimo “canto de cisne” de Gal Costa. Considerada uma das maiores vozes da música brasileira, Gal Costa deixou um legado artístico inestimável, conforme amplamente reconhecido em fontes biográficas de referência.
Impacto na Plateia e Qualidade Sonora Póstuma
A entusiástica adesão do público à apresentação é claramente evidenciada na gravação, especialmente em números como o samba-rock “Quando Você Olha pra Ela” (Mallu Magalhães, 2015). Gal Costa encerrou sua carreira artística em um grande momento, aplaudida de pé por uma plateia predominantemente jovem, que acolheu sua modernidade sem qualquer resquício de nostalgia, apreciando a essência da discografia que pautou a cantora nas décadas de 1960 e 1970, teve variações nos anos 1980 e retomada oscilante a partir dos anos 1990, até se firmar novamente na década de 2010 com o álbum “Recanto” (2011).
A capa minimalista do álbum, desenvolvida por Omar Salomão, que destaca os icônicos lábios vermelhos da cantora, uma verdadeira assinatura visual de Gal, complementa a experiência sonora. O disco “As Várias Pontas de uma Estrela – Ao vivo na Coala” se beneficia grandemente da primorosa mixagem de Duda Mello e da masterização de Alexandre Rabaço. A qualidade técnica é surpreendentemente satisfatória, especialmente considerando que a captação do áudio não tinha a intenção original de resultar em um disco. Esse fator reforça o valor do projeto, pois eterniza um momento mágico e imprevisível, o derradeiro espetáculo de uma estrela inestimável na constelação da música brasileira.
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O álbum póstumo “As Várias Pontas de uma Estrela – Ao Vivo na Coala” não é apenas um registro sonoro, mas um tributo emotivo e historicamente significativo à grandiosidade de Gal Costa. Esta obra capta o último fôlego de uma lenda, consolidando seu legado e a perene influência em novas gerações. Para continuar acompanhando análises aprofundadas sobre lançamentos musicais e a carreira de ícones da cultura, visite nossa editoria de celebridades.
Crédito da imagem: Roncca / Divulgação | Arte de Omar Salomão


