Neste domingo, dia 12, a intensificação da ajuda humanitária a Gaza teve início, impulsionada por um recente acordo de cessar-fogo que entrou em vigor na tarde de sexta-feira. A região, que enfrenta severa devastação após dois anos de conflito, aguarda a chegada massiva de suprimentos vitais para sua população. A liberação dos envios de assistência foi oficializada após o grupo extremista Hamas assegurar que dará início à soltura de reféns israelenses já na manhã de segunda-feira.
Paralelamente a este movimento, comunidades palestinas começam a retornar para as áreas outrora evacuadas pelas forças de Israel. Em seu regresso, deparam-se com a maioria de suas residências em ruínas, consequência direta da escalada bélica. Estima-se que, dentre os aproximadamente 2 milhões de habitantes palestinos, uma impressionante marca de 90% foi forçada a abandonar seus lares e buscar refúgio em outras localidades durante o período da guerra.
Ajuda Humanitária chega a Gaza após acordo e liberação reféns
O acordo atual estabelece que a assistência, extremamente necessária em um cenário de fome generalizada, consequência direta do bloqueio israelense, deve fluir em grande volume para a Faixa de Gaza. Entidades de apoio humanitário se preparam para mobilizar diariamente cerca de 600 caminhões carregados de alimentos e equipamentos médicos essenciais. Antes da permissão para adentrar o território, estes veículos serão rigorosamente inspecionados pelas forças de segurança de Israel. Neste instante, um número considerável de caminhões já cruza a fronteira egípcia na passagem de Rafah, localizada ao sul do enclave costeiro. O Crescente Vermelho egípcio informou que as cargas incluem medicamentos, tendas, cobertores, suprimentos alimentares e combustível, itens cruciais para a sobrevivência local.
Contexto e Desafios da Ajuda em Gaza
Nos últimos meses, as organizações parceiras da Organização das Nações Unidas (ONU) enfrentaram grandes barreiras para a entrega de suprimentos, conseguindo distribuir apenas cerca de 20% da assistência vital requerida em Gaza. Esta insuficiência foi resultado direto de intensos combates, fechamentos de fronteiras e severas restrições impostas por Israel quanto aos itens que poderiam entrar na região. Adicionalmente, o cenário logístico para o transporte da ajuda humanitária aos palestinos foi agravado por saques, bombardeios incessantes, contínuas limitações israelenses e a drástica deterioração da infraestrutura civil, extensamente comprometida pelos ataques conduzidos pelas forças de Israel em toda a Faixa de Gaza. Esta realidade ressalta a complexidade e a urgência da situação atual, demandando ação internacional mais robusta e eficiente para aliviar o sofrimento da população.
A Incerta Fundação Humanitária de Gaza (GHF)
O futuro da Fundação Humanitária de Gaza (GHF, do inglês Gaza Humanitarian Foundation), entidade com o apoio de Israel e dos Estados Unidos que assumiu, em maio, a posição de principal provedora de alimentos no lugar das operações da ONU em Gaza, é hoje uma incógnita. Segundo relatos de residentes palestinos, os centros de distribuição de comida geridos pela organização tanto em Rafah quanto na região central de Gaza foram desativados logo após o anúncio do cessar-fogo. A GHF foi estabelecida e promovida por Israel e pelos EUA com o propósito de apresentar uma metodologia alternativa que prevenisse qualquer possível controle da assistência humanitária por parte do Hamas. Contudo, a eficácia de suas operações demonstrou ser irregular, e lamentavelmente, centenas de palestinos foram mortos por disparos israelenses enquanto buscavam auxílio nos quatro pontos de distribuição da organização. Em resposta a esses incidentes trágicos, as forças militares israelenses declararam que seus soldados efetuaram disparos de advertência visando controlar o aglomerado de pessoas.
Preparativos para Troca de Reféns e Prisioneiros
No domingo, foram intensificadas as mobilizações para a planejada liberação de reféns israelenses, sob custódia na Faixa de Gaza, e de prisioneiros palestinos detidos por Israel. Os familiares dos cativos israelenses foram informados pelo governo sobre a necessidade de se prepararem para o reencontro com seus entes, previsto para começar na manhã de segunda-feira. De acordo com informações das autoridades israelenses, estima-se que aproximadamente 20 dos 48 reféns, capturados pelo Hamas e por outras facções palestinas em Gaza, estejam vivos. Uma força-tarefa de âmbito internacional será ativada com o objetivo de localizar os corpos dos reféns que, porventura, não sejam entregues dentro do prazo estabelecido de 72 horas. Essa complexa busca deve se estender por um período considerável, dada a possibilidade de que alguns corpos possam estar soterrados em meio aos escombros deixados pelo conflito. Quanto aos aproximadamente 2.000 prisioneiros palestinos sob detenção em Israel, o calendário exato de sua libertação, conforme os termos do acordo de trégua, ainda não foi publicamente divulgado. Este grupo inclui cerca de 250 indivíduos sentenciados à prisão perpétua, além de numerosos palestinos capturados em Gaza ao longo da guerra e mantidos em detenção sem qualquer acusação formal.

Imagem: g1.globo.com
Diplomacia e o Futuro do Cessar-Fogo
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que desempenhou papel fundamental na articulação do acordo de cessar-fogo, tem sua chegada a Israel prevista para a manhã de segunda-feira. A agenda, divulgada pela Casa Branca, inclui um encontro com as famílias dos reféns e um discurso no Knesset, o parlamento israelense. Após sua estada em Israel, Trump viajará ao Egito para copresidir uma “cúpula de paz”, conforme comunicado pelo gabinete do presidente egípcio, Abdel-Fattah el-Sissi. Este evento diplomático de alto nível deve contar com a presença de diversas autoridades internacionais, incluindo António Guterres, Secretário-Geral da ONU; Keir Starmer, Primeiro-Ministro do Reino Unido; Giorgia Meloni, Primeira-Ministra da Itália; Pedro Sánchez, Primeiro-Ministro da Espanha; e Emmanuel Macron, Presidente da França, entre outros líderes. Embora haja uma notável satisfação inicial, tanto por parte dos israelenses quanto dos palestinos em Gaza, com a interrupção dos combates e as provisões para a liberação de reféns e prisioneiros, o panorama de longo prazo para o cessar-fogo ainda se mostra incerto. Cruciais questões relacionadas à governança de Gaza no período pós-guerra e ao destino do Hamas permanecem sem solução definitiva, demandando contínua negociação e articulação diplomática.
O conflito atual teve início com um ataque inesperado liderado por militantes do Hamas no sul de Israel, ocorrido em 7 de outubro de 2023. Essa ofensiva resultou na morte de aproximadamente 1.200 indivíduos e na captura de cerca de 250 pessoas, levadas como reféns. A subsequente reação militar israelense desencadeou uma campanha na Faixa de Gaza que, segundo o Ministério da Saúde do enclave, ceifou a vida de mais de 67.000 palestinos, cifra que abrange tanto civis quanto combatentes. Este é o trágico balanço que pauta as recentes negociações e a tentativa de estabelecer um alívio para a população.
Confira também: crédito imobiliário
Em suma, a intensificação da ajuda humanitária a Gaza e a eminente liberação de reféns e prisioneiros representam passos significativos em direção a um alívio, ainda que tênue, em uma região profundamente abalada pelo conflito. O futuro do cessar-fogo e a reconstrução de Gaza dependerão da capacidade diplomática de abordar as complexas questões pendentes. Para mais análises aprofundadas sobre os desdobramentos geopolíticos do Oriente Médio, continue acompanhando nossa editoria de Análises.
Crédito da Imagem: JACK GUEZ / AFP
🔗 Links Úteis
Recursos externos recomendados