Agro no Brasil: Cenários 2025 e Desafios para 2026

Economia

O agronegócio no Brasil teve papel fundamental na melhoria de importantes indicadores econômicos durante 2025, mas projetações indicam um cenário repleto de desafios para os produtores rurais em 2026. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) divulgou um panorama detalhado, alertando para fatores internos e externos que podem impactar a performance do setor no próximo ano, demandando estratégias robustas para mitigar vulnerabilidades.

As análises e as projeções foram apresentadas pela Confederação em uma coletiva de imprensa realizada em 9 de dezembro, reunindo a expertise de lideranças como o presidente da CNA, João Martins, a diretora de Relações Internacionais, Sueme Mori, e o diretor técnico, Bruno Lucchi. O evento focou em traçar o balanço do agronegócio referente a 2025 e detalhar as perspectivas para o ano seguinte, destacando as complexidades econômicas e setoriais.

A CNA enfatizou que o segmento agropecuário se destacou como um dos principais responsáveis por resultados macroeconômicos positivos, contribuindo para a redução da inflação, estimada para fechar 2025 em 4,4%. Paralelamente, o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio registrou uma expansão robusta de 9,6% em 2025, alcançando um volume estimado de R$ 3,13 trilhões. Contudo, as expectativas para o próximo ciclo já preveem um ritmo de crescimento mais moderado, projetando 1% de expansão em 2026, sinalizando a necessidade de atenção contínua. Sem a influência positiva do setor rural, o país enfrentaria um risco iminente de não cumprir suas metas inflacionárias, o que teria exigido a manutenção de uma política monetária ainda mais restritiva, como evidenciado pela taxa Selic, que se mantém em 15% ao ano em certos períodos.

Agro no Brasil: Cenários 2025 e Desafios para 2026

Cenários Macroeconômicos e o Desafio Fiscal de 2026

Para a economia brasileira, 2026 é antecipado como um ano de considerável dificuldade no âmbito fiscal. A exigência de um ajuste fiscal rigoroso figurará como um dos principais entraves e demandará esforços coordenados. Este panorama sombrio, no que tange às contas públicas, acrescenta uma camada extra de incerteza para o planejamento estratégico dos produtores rurais, que precisam operar em um ambiente de previsibilidade para otimizar seus investimentos e garantir a sustentabilidade de suas operações.

A Vulnerabilidade Financeira e Climática no Campo

Um dos pontos de maior atenção é a vulnerabilidade financeira do setor. O crédito rural registrou, em outubro deste ano, sua maior taxa de inadimplência desde o início da série histórica em 2011, atingindo o preocupante patamar de 11,4%. Este índice contrasta dramaticamente com os 3,54% observados no mesmo período do ano anterior e os 0,59% de janeiro de 2023. A reversão deste quadro, conforme avalia a CNA, dependerá crucialmente da implementação de soluções estruturais capazes de atenuar a exposição a riscos financeiros e climáticos. O objetivo é assegurar previsibilidade, reforçar a confiança e edificar a resiliência indispensáveis para um desenvolvimento duradouro do agronegócio brasileiro, pilar essencial da nossa economia.

Projeções para o Valor Bruto da Produção (VBP)

As estimativas para o Valor Bruto da Produção (VBP) indicam um crescimento consistente. Para 2026, a projeção aponta para R$ 1,57 trilhão, representando uma elevação de 5,1% em relação a 2025. O segmento agrícola será o motor principal, com expectativa de R$ 1,04 trilhão, um aumento de 6,6%, impulsionado sobretudo pela produção de grãos. O VBP da pecuária também se mostrará em alta, alcançando R$ 528,09 bilhões, com uma expansão de 2,2%, sendo a bovinocultura de corte um destaque positivo, com projeção de crescimento de 4,7%.

Em retrospecto, o VBP de 2025 é estimado em R$ 1,49 trilhão, registrando uma expressiva expansão de 11,9% comparativamente a 2024. O setor pecuário desempenhou um papel notável nesse crescimento, com alta projetada de 14,2%, somando R$ 516,52 bilhões, em grande parte devido à recuperação dos preços na bovinocultura de corte. A vertente agrícola, por sua vez, demonstrou um aumento de 10,8%, atingindo R$ 981,30 bilhões, impulsionada pelo desempenho robusto das safras de soja e milho, elementos cruciais para a balança comercial do país.

Desempenho de Safras e Dinâmica da Pecuária

Conforme os levantamentos da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), as expectativas para a safra 2025/2026 indicam uma produção total superando o volume do ciclo anterior, com potencial para atingir 354,8 milhões de toneladas, o que significa um ligeiro incremento de 0,8%. A cultura da soja promete expansão, com uma área plantada estimada em 49,1 milhões de hectares e uma produção de 177,6 milhões de toneladas, correspondendo a um aumento de 3,6%.

Contrastando com a soja, a previsão para o milho da segunda safra aponta uma redução de 2,5%, totalizando 110,5 milhões de toneladas. Ao se considerar as três safras combinadas, a produção agregada alcançará 138,8 milhões de toneladas, um decréscimo de 1,6%. Para o arroz, a projeção é de retração da área cultivada, que se traduzirá em uma produção de 11,3 milhões de toneladas, uma queda de 11,5%. Essa diminuição é atribuída principalmente ao consumo estagnado, que levou a quedas nos preços em 2025, impactando a rentabilidade dos produtores.

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Imagem: Wenderson Araujo via valor.globo.com

No setor da pecuária bovina, o Brasil testemunhou um crescimento de 5,6% nos abates até o terceiro trimestre de 2025, acompanhado por um aumento de 3,8% na produção de carne bovina. No entanto, um aspecto relevante é a elevada proporção de fêmeas nos abates totais (49,9%). Este dado sinaliza uma potencial redução na oferta de bovinos e animais de reposição em 2026, gerando uma expectativa de alta nos preços no mercado do boi. As autoridades como o Banco Central do Brasil estão atentas a como esses fatores podem influenciar a economia interna e a inflação geral.

Comércio Exterior: Tensões e Incertezas Globais

O cenário internacional para 2026 é desenhado pela CNA com a perspectiva de intensa movimentação e potenciais atritos comerciais. Os Estados Unidos, por exemplo, devem manter uma postura comercial agressiva, pautada pela estratégia de estímulo à industrialização e atração de investimentos estrangeiros. Caso tarifas adicionais de 40% sobre produtos não contemplados em listas de exceção permaneçam em vigor, o setor agropecuário brasileiro poderá sofrer um impacto significativo, estimado em até US$ 2,7 bilhões anualmente em 2026. Esse montante representa aproximadamente 22% do total das exportações agropecuárias brasileiras para o país norte-americano, evidenciando a fragilidade das relações comerciais em determinadas frentes. Como um prelúdio para este cenário, as exportações do agro para o mercado americano, entre agosto e novembro deste ano, já registraram uma queda de 37,85% em comparação com o mesmo período do ano anterior.

As incertezas relacionadas à China, um dos maiores parceiros comerciais do Brasil, também são motivo de preocupação. Investigações sobre as importações de carne bovina por parte da nação asiática podem culminar na aplicação de salvaguardas, afetando as compras de todos os fornecedores. Vale ressaltar que o Brasil é responsável por cerca de 50% das importações chinesas deste produto. Outro fator de instabilidade reside em um possível acordo comercial entre a China e os Estados Unidos que, se incluir compromissos de compra de soja americana, poderá reduzir a fatia de mercado da soja brasileira no país asiático.

Além disso, a CNA acende um alerta para as diretrizes que deverão nortear o 15º Plano Quinquenal da China, com o intuito de fortalecer a agricultura nacional e diminuir a dependência de produtos importados, especialmente de grãos. Tais políticas representam uma ameaça a longo prazo para o setor agroexportador brasileiro, que tem na China um destino estratégico para seus principais produtos agrícolas.

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Em síntese, embora o agronegócio tenha demonstrado notável resiliência e impulsionado a economia brasileira em 2025, as projeções para 2026 delineiam um cenário complexo. Produtores rurais e formuladores de políticas precisarão atuar proativamente para superar os desafios fiscais, financeiros e de comércio internacional. Continue acompanhando a seção de Economia do nosso blog para análises aprofundadas sobre como esses fatores impactarão o futuro do campo e do país.

Crédito da Imagem: Divulgação

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