A OpenAI selou, apenas este ano, contratos que totalizam a expressiva cifra de US$ 1 trilhão (equivalente a R$ 5,3 trilhões) para aquisição de poder computacional. Estes recursos são cruciais para a operação de seus avançados modelos de inteligência artificial (IA), contudo, o montante colossal ultrapassa a receita atual da companhia e acende o debate sobre os meios de financiamento necessários para cumprir tais compromissos. A ambição da startup levanta discussões significativas sobre a sustentabilidade e os desafios econômicos no dinâmico setor de IA.
Uma recente parceria firmada na segunda-feira (6) com a AMD, renomada fabricante de chips, ilustra a intensificação da busca por infraestrutura. Este pacto sucede acordos estratégicos já estabelecidos com gigantes como Nvidia, Oracle e CoreWeave, numa corrida desenfreada da OpenAI para assegurar a capacidade computacional vital à execução de seus serviços, como o popular ChatGPT.
Com estes arranjos, a empresa busca obter acesso a mais de 20 gigawatts de capacidade computacional ao longo da próxima década. Este volume energético equipara-se à potência gerada por cerca de 20 reatores nucleares. Estimativas de executivos da própria OpenAI indicam que cada gigawatt de capacidade de computação em IA demandaria um investimento de aproximadamente US$ 50 bilhões (cerca de R$ 266,6 bilhões) aos valores praticados hoje, projetando um custo total na casa do US$ 1 trilhão.
Acordos Bilionários da OpenAI: US$ 1 Tri em Computação
Esses volumosos contratos amarram alguns dos maiores conglomerados de tecnologia do mundo à expectativa de que a OpenAI consiga se transformar em um empreendimento lucrativo, capaz de honrar as obrigações financeiras progressivamente elevadas. No entanto, o cenário gera ceticismo entre analistas.
“A OpenAI não está em posição de assumir nenhum desses compromissos”, pontuou Gil Luria, analista da DA Davidson, acrescentando a projeção de que a empresa poderá acumular prejuízos da ordem de US$ 10 bilhões (aproximadamente R$ 53,3 bilhões) somente este ano. Luria faz referência à prática conhecida no Vale do Silício como “finja até conseguir”, onde o objetivo é gerar interesse e comprometimento de múltiplos players do mercado. “Agora, muitas grandes empresas têm muito interesse no jogo da OpenAI”, afirmou ele.
Atualmente, a OpenAI está direcionando uma quantidade considerável de capital para a aquisição de infraestrutura, chips e para atrair talentos. Contudo, a companhia ainda carece de grande parte do capital necessário para efetivamente bancar esses grandiosos planos de expansão.
Os acordos também compreendem complexos arranjos de financiamento, por vezes circulares, entre a startup – hoje a mais valiosa do planeta – e seus parceiros, cujos termos financeiros ainda estão, em grande parte, indefinidos. Conforme cálculos apresentados pelo Financial Times, as parcerias da OpenAI com Nvidia e AMD poderiam somar custos de até US$ 500 bilhões (R$ 2,6 trilhões) e US$ 300 bilhões (R$ 1,5 trilhão), respectivamente. Vale ressaltar que ambos os acordos incorporam incentivos que poderiam auxiliar a OpenAI a quitar os valores dos chips que adquire.
Adicionalmente, o contrato com a Oracle representará um custo de US$ 300 bilhões para a OpenAI, e o grupo de data centers CoreWeave anunciou acordos de computação avaliados em mais de US$ 22 bilhões (R$ 117,3 bilhões) com a startup. Em janeiro, a OpenAI, em conjunto com o SoftBank, Oracle e outras empresas, lançou uma iniciativa denominada Stargate, que prometeu destinar até US$ 500 bilhões em infraestrutura para a companhia nos EUA. A forma como os pactos com Nvidia e AMD se integrarão aos planos do Stargate permanece pouco clara.
A detentora do ChatGPT ainda não revelou se optará pela compra direta de chips ou se utilizará seus parceiros de computação em nuvem para tal. É previsto que uma parte dos chips da Nvidia seja alugada. Em troca das significativas aquisições, a OpenAI garantiu substanciais incentivos financeiros de seus fornecedores, aliviando parte da carga inicial.
A Nvidia, por exemplo, planeja investir US$ 100 bilhões (cerca de R$ 533,3 bilhões) na OpenAI ao longo da próxima década. Este aporte de capital poderá ser empregado pela OpenAI na compra de chips da própria Nvidia para seus data centers de inteligência artificial, fechando um ciclo estratégico de investimento e consumo. Por outro lado, a AMD ofereceu à OpenAI garantias que lhe permitirão adquirir até 10% da empresa por um valor simbólico de um centavo por ação, condicionado ao cumprimento de metas de projeto específicas. Algumas dessas metas estão ligadas ao preço das ações da AMD, que na última segunda-feira (6) registravam quase US$ 204 (R$ 1.087) no fechamento do mercado. Caso os papéis da AMD sigam em ascensão, a OpenAI poderá vender suas participações para financiar os gastos com os chips da fabricante.
Os acordos com a OpenAI proporcionaram, em contrapartida, um impulso financeiro imediato a seus parceiros. A Oracle testemunhou seu valor de mercado subir US$ 244 bilhões (R$ 1,3 trilhão) após o anúncio de seu acordo no mês anterior. As ações da AMD, por sua vez, experimentaram uma valorização de quase 24% na segunda-feira (6), elevando seu valor de mercado em US$ 63 bilhões (R$ 335,9 bilhões).

Imagem: Kinder via www1.folha.uol.com.br
Essa teia de relacionamentos circulares tem fomentado preocupações com uma possível “bolha da IA”, alimentando o receio entre investidores de que os vultosos gastos em data centers de inteligência artificial estejam artificialmente impulsionando o crescimento econômico norte-americano. Para aprofundar a compreensão sobre a dinâmica dos grandes investimentos no setor de inteligência artificial e os receios de uma bolha econômica, análises podem ser encontradas em renomados veículos como o Financial Times.
A OpenAI tem buscado diversificar suas fontes de financiamento para sustentar sua expansão. A companhia levantou montantes substanciais via capital próprio e começou a acessar os mercados de dívida. No último ano, obteve US$ 4 bilhões (R$ 21,3 bilhões) em dívidas bancárias e aproximadamente US$ 47 bilhões (R$ 250,6 bilhões) por meio de acordos de capital de risco nos últimos 12 meses. É importante notar que uma porção significativa desse capital depende de negociações em andamento com a Microsoft, sua maior investidora.
Avaliada em US$ 500 bilhões neste mês, a OpenAI se prepara para levantar dezenas de bilhões de dólares adicionais em dívidas para custear sua infraestrutura, segundo fontes próximas à empresa. A percepção do risco de crédito da startup gerou alertas. A Moody’s, por exemplo, manifestou preocupação sobre o quão dependente o futuro negócio de data centers da Oracle está do desempenho da OpenAI e de seu ainda incerto caminho rumo à lucratividade.
O pacto da OpenAI com a Nvidia, no entanto, deve contribuir para aumentar o conforto dos investidores em conceder empréstimos de grande porte. A Nvidia, gigante dos chips que recentemente ultrapassou US$ 4 trilhões (R$ 21,3 trilhões) em valor de mercado, possui um histórico de usar seu robusto balanço patrimonial para investir em empresas dentro de sua cadeia de suprimentos ou entre seus principais clientes. Os beneficiários desses acordos, por sua vez, frequentemente utilizam a nova liquidez para adquirir mais chips da Nvidia ou buscar novos empréstimos, estabelecendo um ciclo virtuoso. A Nvidia já investiu na CoreWeave, que também figura como cliente e fornecedora, e a CoreWeave, por sua vez, levantou mais de US$ 12 bilhões (R$ 64 bilhões) em dívidas asseguradas por seus próprios chips Nvidia.
Além do substancial suporte da Nvidia, os parceiros e investidores da OpenAI estão apostando em suas promessas de crescimento futuro e em sua trajetória em direção à lucratividade. A empresa ambiciona multiplicar sua receita atual de US$ 12 bilhões nos próximos anos, por meio do lançamento de novos produtos e da duplicação do número de usuários pagantes de seu produto estrela, o ChatGPT. O CEO Sam Altman reiterou na última segunda-feira (6) que tornar-se lucrativo “não está entre minhas 10 principais preocupações” no momento. Ele esclareceu: “Mas, obviamente, um dia teremos que ser muito lucrativos, e estamos confiantes e pacientes de que chegaremos lá… Agora estamos em uma fase de investimento e crescimento”.
A OpenAI e sua crescente rede de parceiros fazem uma grande aposta na continuação do crescimento exponencial do uso da inteligência artificial. Se esse crescimento apresentar um platô ou até mesmo desacelerar, o fervor dos investidores que impulsionou os preços das ações baseados nesses acordos poderia rapidamente se dissipar. Um veterano de investimentos do Vale do Silício resumiu a situação: “A empresa está em um negócio muito mais intensivo em capital do que o Google ou a Microsoft jamais estiveram, e nasceu sem disciplina de custos.” O mesmo investidor ainda lembrou que fundadores como Jeff Bezos, da Amazon, e Larry Ellison, da Oracle, “só encontraram a religião” e realizaram cortes drásticos nos custos de suas empresas “depois de quase irem à falência”, um aviso que ecoa nas discussões atuais.
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Este cenário complexo evidencia tanto o potencial transformador da OpenAI quanto os desafios financeiros intrínsecos à inovação em escala. O mercado acompanha de perto os próximos passos desta startup, enquanto a corrida pela supremacia na IA remodela o ecossistema tecnológico global. Para entender como esses mega acordos afetam o cenário financeiro global, continue explorando nossa seção de Economia, onde publicamos as últimas análises e tendências do mercado.
Crédito da Imagem: Yuichi Yamazaki – 3.fev.25/AFP
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