As ações da Ambipar despencam, abalando a confiança de investidores após uma queda expressiva de 60% em um único dia, revelando preocupações persistentes sobre a gestão da dívida da empresa de soluções ambientais. A nova turbulência reascende discussões sobre a trajetória do papel da “gigante verde” na bolsa, marcada por uma valorização vertiginosa seguida de forte desvalorização, além de uma controversa investigação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
O mercado de capitais brasileiro, com suas rígidas exigências para a abertura de capital, diferencia-se drasticamente de outros, como o norte-americano, onde as famosas “penny stocks” oferecem um cenário de altos riscos e potenciais ganhos exponenciais, bem como de falências rápidas. No Brasil, o número restrito de companhias listadas, aproximadamente 400, tende a conferir maior visibilidade a cada movimentação relevante, seja a ascensão ou o colapso de uma corporação. Isso acarreta um escrutínio mais acentuado para eventos incomuns de valorização ou desvalorização extrema.
Ações Ambipar Despencam: Confiança de Investidores Abalada
Em um episódio que ilustra a volatilidade e os riscos inerentes ao mercado financeiro, entre junho e dezembro do ano passado, as ações da Ambipar (AMBP3) registraram uma disparada de mais de 3.000%. Tal fenômeno foi considerado notável, uma vez que a empresa opera em um setor — o de soluções ambientais, incluindo gestão de resíduos e logística reversa — frequentemente classificado por analistas como “tedioso” ou com baixa propensão a grandes emoções. À época, o jornalista Marcos de Vasconcellos, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado, chegou a alertar, em sua coluna, que a “ação verde” exibia um “cheiro azedo” apesar de sua escalada meteórica.
Desde então, a cotação do papel reverteu significativamente essa tendência de alta, evidenciando o caráter, apontado por analistas, como artificial. Esse período de euforia e a subsequente correção despertaram a atenção da CVM, órgão regulador do mercado de capitais no Brasil, que iniciou uma investigação minuciosa. O objetivo era apurar se haveria uma possível coordenação de fundos de investimento com os controladores da empresa para inflar artificialmente os preços do ativo.
A investigação da CVM teve seu desfecho classificado popularmente como “em pizza”, indicando o arquivamento do processo sem condenação. A justificativa para tal encerramento foi a falta de provas contundentes que comprovassem a coordenação. Contudo, o trâmite do julgamento levantou questões, incluindo a participação do fundo Trustee DTVM, que se encontrava sob investigação na Operação Carbono Oculto, conhecida por desvendar operações do crime organizado (PCC) no ambiente financeiro de São Paulo, na Faria Lima.
Um aspecto que causou estranheza durante o processo na CVM foi a troca da presidência do colegiado no decorrer do caso. O diretor que inicialmente conduzia o julgamento votou pela condenação dos envolvidos. Entretanto, o sucessor na posição, após assumir o cargo, votou pela absolvição. A decisão final, que optou pelo arquivamento do caso, só foi possível com o voto de desempate do presidente em exercício, suscitando discussões internas sobre a legitimidade do critério de desempate e prevalecendo o entendimento de que não haveria ação cabível por parte da autarquia.
Passado o episódio da CVM, a Ambipar novamente esteve sob os holofotes do noticiário financeiro na semana anterior à divulgação da coluna de Marcos de Vasconcellos. Desta vez, a manchete era ainda mais impactante: suas ações desabaram 60% em um único pregão. O gatilho para esse desmoronamento foi a divulgação de uma decisão liminar obtida pela empresa, que a concede proteção contra credores de dívidas que somam o montante colossal de US$ 550 milhões, equivalentes a quase R$ 3 bilhões. Esta medida visa suspender provisoriamente o pagamento desses compromissos financeiros.
Imagem: www1.folha.uol.com.br
A busca por essa proteção de dívida, entretanto, gerou considerável perplexidade e acendeu um “farol amarelo” no mercado. A justificativa se pauta na recente divulgação de resultados financeiros da própria companhia, que apontavam um caixa robusto de mais de R$ 2,5 bilhões, além de outros R$ 2 bilhões alocados em fundos que poderiam ser resgatados em prazos relativamente curtos, de 30 a 60 dias. A aparente contradição entre ter vultuosas quantias em caixa e simultaneamente pleitear a suspensão de dívidas levantou dúvidas sérias sobre a confiabilidade e transparência dos números apresentados pela empresa, colocando a reputação da Ambipar em xeque.
Diante desse cenário de incerteza e crise de confiança, observa-se uma desbandada na liderança corporativa da Ambipar. O diretor jurídico, o diretor de relações com investidores e o diretor financeiro (CFO) optaram por se desligar da companhia. Tal movimento é, muitas vezes, interpretado como um sinal de deterioração interna ou falta de perspectiva para a recuperação. Consequentemente, a desvalorização acumulada do papel, desde seu pico de alta, aproxima-se de 70%, deixando um “mico” (gíria para prejuízo significativo) nas mãos dos investidores que apostaram na solidez da valorização anterior e nas perspectivas de crescimento da empresa.
Este caso complexo da Ambipar exemplifica os desafios do ambiente de investimento no Brasil, onde empresas tidas como promissoras podem, subitamente, confrontar severas reações do mercado. Para aprofundar a compreensão sobre os mecanismos regulatórios do mercado financeiro e a atuação dos órgãos fiscalizadores, consulte as informações disponíveis na Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Confira também: artigo especial sobre leis e valortrabalhista
O caso Ambipar serve como um alerta para a constante vigilância necessária no mercado de ações, onde análises aprofundadas, acompanhamento de decisões regulatórias e informações transparentes são cruciais para a tomada de decisões estratégicas. Fique atento a novas análises e notícias em nossa editoria de Economia para se manter atualizado sobre o cenário corporativo e financeiro do país.
Crédito da imagem: Divulgação
🔗 Links Úteis
Recursos externos recomendados
