A entrega do Boeing 777X, uma das aeronaves de fuselagem larga mais esperadas da indústria, agora é projetada para o início de 2027. Essa nova previsão, divulgada por fontes próximas ao assunto à Bloomberg e relatada por Julie Johnsson e Siddharth Philip, representa um significativo contratempo para a fabricante norte-americana e pode gerar bilhões de dólares em encargos contábeis. A data inicial de entrega estava programada para o próximo ano, e a expectativa inicial para seu voo comercial era em 2020, evidenciando um acúmulo de atrasos que somam seis anos.
As repercussões deste adiamento já são sentidas pelas companhias aéreas. A Lufthansa, designada como cliente de lançamento do modelo 777X, já reestruturou seus planos de frota, optando por não incluir a nova aeronave até o ano de 2027. Informações obtidas por indivíduos que solicitaram anonimato devido à natureza confidencial do assunto revelam que essa postura reflete a cautela da gigante alemã. Da mesma forma, executivos da Emirates, a principal cliente do jato, expressaram preocupação crescente com a possibilidade de o serviço comercial do avião não se iniciar antes de 2027.
Entrega do Boeing 777X Atrasada para 2027
A importância estratégica e financeira do jato para a Boeing é inegável, especialmente no cenário de intensa competição com a Airbus. Analistas do setor estimam que o encargo contábil, que é de natureza não monetária, poderá situar-se entre US$ 2,5 bilhões e US$ 4 bilhões, o equivalente a R$ 13,3 bilhões a R$ 21,3 bilhões, com base nas taxas de câmbio atuais. Embora a Boeing ainda não tenha detalhado a exata extensão desses custos, reuniões recentes com grandes investidores foram realizadas para planejar uma estratégia de comunicação que minimize o impacto, sugerindo que as implicações financeiras serão distribuídas ao longo de todo o programa da aeronave. Espera-se que mais informações sobre a magnitude do atraso e os custos associados sejam reveladas quando a empresa apresentar seus resultados financeiros em 29 de outubro.
Implicações Financeiras e Reações do Mercado
O prolongamento dos prazos de entrega não apenas compromete os planos operacionais dos clientes, mas também impõe um fardo financeiro substancial à Boeing. Já foram acumulados mais de US$ 11 bilhões em custos excedentes para o programa 777X, uma quantia que demonstra a complexidade e os desafios inerentes ao seu desenvolvimento. Segundo analistas, a contabilidade da Boeing opera sob uma “posição de perda prospectiva” para este programa, o que implica que a empresa não conseguirá recuperar os custos de desenvolvimento dos primeiros 500 aviões produzidos e vendidos. Consequentemente, quaisquer custos anormais adicionais são contabilizados imediatamente como encargos nos lucros.
No mercado financeiro, a divulgação da notícia pela Bloomberg levou a uma moderação nos ganhos iniciais das ações da Boeing, que, contudo, encerraram a sessão de negociação em Nova York com um aumento de 1%. Até o momento da reportagem original, as ações haviam registrado um crescimento acumulado de cerca de 23% no ano. A atenção agora se volta para o dia 29 de outubro, quando a fabricante deverá apresentar mais detalhes sobre a extensão e os custos associados a este novo adiamento.
Contexto e Desafios de Certificação
Em conferência recente promovida pelo Morgan Stanley, Kelly Ortberg, CEO da Boeing, já havia indicado que a certificação do 777X enfrentava atrasos, embora na ocasião não tenha especificado um novo cronograma. Ele atribuiu o mais recente contratempo a uma “montanha de trabalho”, descartando problemas técnicos novos com a aeronave ou seus motores. Os comentários de Ortberg são interpretados por analistas, como Ken Herbert, da RBC Capital Markets, como um padrão familiar da Boeing de utilizar eventos para sinalizar notícias negativas e ajustar as expectativas para seus resultados trimestrais. A menção de Ortberg a perdas do programa sob a metodologia contábil da Boeing foi um indicativo claro de que o encargo financeiro não monetário seria vultoso.
Os desafios da Boeing vão além do 777X, mas a prioridade em resolver esses atrasos é crítica, especialmente após as dificuldades financeiras acumuladas e a repercussão de acidentes fatais envolvendo o modelo 737 Max na última década. Esses eventos anteriores resultaram em um escrutínio rigoroso por parte da Administração Federal de Aviação (FAA), o que tem contribuído para um ritmo de certificação mais lento do que o previsto para o 777X. Testes de segurança em aeronaves, com pilotos e inspetores da FAA a bordo, estão em andamento e são fundamentais para a liberação da aeronave.
Imagem: www1.folha.uol.com.br
Perspectivas e Impactos Setoriais
Jay Malave, que assumiu a posição de diretor financeiro da Boeing em agosto, está ativamente analisando as ramificações financeiras decorrentes dos atrasos. Segundo Ken Herbert, a transição na liderança financeira oferece à Boeing “uma oportunidade de redefinir tanto o programa quanto as expectativas” para o 777X. Herbert também observa que o momento deste encargo não surpreende, dadas as expectativas de notícias mais favoráveis relacionadas ao 737 Max e ao 787, cujas produções estão em fase de crescimento constante. Esta dinâmica evidencia a complexidade de gerir múltiplos programas de aeronaves em um cenário global. A situação da Boeing, como outras grandes empresas do setor, reflete a complexidade e os desafios inerentes à indústria da aviação global.
Sheila Kahyaoglu, analista da Jefferies, projeta que o encargo registrado pela Boeing pode chegar a US$ 4 bilhões. Essa estimativa inclui não apenas os pagamentos em dinheiro que a fabricante esperava receber no próximo ano pela entrega de 18 aviões, mas também as concessões a clientes e outros custos inesperados. Os atrasos na certificação do 777X são, para Kahyaoglu, uma das principais prioridades da empresa, dada a considerável demanda de caixa que representam para a companhia em um momento crucial.
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Este cenário de atrasos e desafios financeiros coloca o programa 777X no centro das atenções da Boeing e do setor aéreo mundial. A expectativa por declarações da empresa no dia 29 de outubro é alta, pois poderão delinear os próximos passos e o real impacto dessa importante aeronave para o futuro da aviação comercial. Para ficar por dentro de todas as análises e notícias do setor econômico e aeroespacial, continue acompanhando nossas publicações na editoria de Economia.
Crédito da imagem: Jennifer Buchanan – 26.ago.25/AFP
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