Após recentes ocorrências de intoxicação por metanol, clubes da cidade de Campinas, no interior de São Paulo, adotaram uma medida preventiva drástica. A venda de bebidas destiladas foi temporariamente suspensa aos associados, seguindo as recomendações de uma importante entidade do setor. Esta ação visa proteger a saúde dos frequentadores diante do alerta de adulteração de bebidas alcoólicas que causou vários incidentes no estado.
A determinação de paralisação nas comercializações já está em vigor em estabelecimentos como o Tênis Clube de Campinas e a Sociedade Hípica de Campinas. A orientação para tal cautela partiu do Sindicato dos Clubes do Estado de São Paulo (Sindiclubes), que congrega e representa as associações e os clubes sociais paulistas, em uma iniciativa de salvaguarda à integridade física de seus membros.
Clubes de Campinas suspendem destilados por metanol
A preocupação se intensificou após a divulgação de dados do Centro Nacional de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (CIEVS Nacional). Até a última quarta-feira, dia 1º, o Brasil contabilizou 41 notificações de intoxicação pela substância, sendo 37 casos localizados em São Paulo e quatro sob investigação em Pernambuco. No cenário paulista, dez intoxicações por metanol já foram confirmadas, com a origem da contaminação de outros 27 casos ainda em apuração. Uma morte foi registrada em São Paulo, e outras sete estão sob investigação, cinco delas no estado paulista e duas em Pernambuco.
O comunicado oficial emitido pelo Sindiclubes enfatizou o caráter temporário e preventivo da suspensão. A entidade reforça a necessidade de aguardar uma elucidação mais aprofundada sobre a causa-raiz do problema e a consequente definição de diretrizes seguras para o consumo. O objetivo primordial é, segundo a organização, minimizar os riscos à saúde pública e preservar a reputação das instituições associadas.
Antídotos e a complexidade da intoxicação por metanol
A detecção de metanol em bebidas alcoólicas não é trivial e exige análises laboratoriais específicas, pois a substância é indetectável pelos sentidos. Especialistas explicam que o metanol é um composto altamente volátil, tóxico e inflamável. Sua ingestão, inalação ou até mesmo o contato prolongado com a pele pode resultar em graves complicações de saúde, como náuseas, tontura intensa, crises convulsivas, cegueira permanente e, em situações mais extremas, o falecimento.
Em um panorama alarmante, o Centro de Informação e Assistência Toxicológica (CIATox) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) trouxe à tona uma informação crítica: o estoque nacional de antídotos eficazes para casos de intoxicação por metanol é insuficiente. A revelação foi feita na última terça-feira, intensificando a gravidade da situação de saúde pública no país.
Vodca como medida emergencial
Em meio a esta carência, a equipe do CIATox Unicamp confirmou o uso emergencial de vodca administrada por sonda gástrica em alguns casos de intoxicação por metanol. Essa abordagem, que parece inusitada, tem como função “ganhar tempo” até que os antídotos apropriados, ou suas alternativas mais eficientes, possam ser providenciados e aplicados. Conforme a médica Camila Prado, do CIATox, “Nós tivemos alguns desses casos que o hospital de origem não dispunha do álcool absoluto, esse álcool apropriado para iniciar o tratamento. Então, eles começaram com a vodca, pela sonda, que é o produto que leva até o estômago. A vodca foi usada para ganhar tempo”.
A estratégia por trás do uso da vodca, que contém etanol, baseia-se na forma como o fígado processa essas substâncias. O etanol é prioritariamente metabolizado, deixando o metanol inalterado. Isso concede aos rins tempo adicional para excretar o metanol do organismo antes que ele seja transformado em seus componentes mais tóxicos: formaldeído e ácido fórmico. Estes subprodutos são os verdadeiros agentes responsáveis pelas manifestações severas da intoxicação, incluindo a lesão em diversos órgãos vitais. A escolha da vodca deve-se ao seu teor alcoólico constante, facilitando cálculos precisos para administração, diferente de outras bebidas como uísque ou cachaça, que podem apresentar maior variação.

Imagem: g1.globo.com
Antídotos primários: fomepizol e etanol
O governador do estado de São Paulo confirmou oficialmente cinco mortes por intoxicação por metanol, sendo que uma delas já foi vinculada diretamente ao consumo de bebida alcoólica falsificada, com as outras quatro permanecendo sob rigorosa investigação. Em casos de intoxicação, os médicos apontam o fomepizol como o antídoto de maior eficácia. O etanol puro também é utilizado em situações de emergência.
Ambos os tratamentos atuam inibindo a enzima álcool desidrogenase (ADH). É essa enzima que converte o metanol em formaldeído e, subsequentemente, em ácido fórmico — as substâncias que efetivamente causam danos ao corpo. Segundo Eduardo Mello de Capitani, médico toxicologista da Unicamp, o fomepizol se destaca por seus mínimos efeitos colaterais e sua alta capacidade de bloquear a enzima que catalisa a transformação do metanol. A Organização Mundial da Saúde (OMS) o reconhece como medicamento essencial, no entanto, ele não está prontamente disponível no Brasil e precisa ser importado, conforme informações detalhadas no portal oficial da Organização Mundial da Saúde sobre o envenenamento por metanol.
Já o etanol, apesar de ser um antídoto comprovado com a mesma função do fomepizol, tem um impacto mais lento e mantém o paciente em um estado de embriaguez, considerado tóxico para o organismo durante o tratamento. Além disso, o etanol “absoluto” ou “puro”, necessário para o uso medicinal, não é comumente estocado em todas as redes de emergência. A diluição e a posologia precisa são fatores que o tornam menos prático em comparação ao fomepizol, cuja formulação farmacêutica é mais precisa e segura para aplicação intravenosa.
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A interdição da venda de destilados nos clubes de Campinas sublinha a seriedade da crise de saúde pública provocada pela adulteração de bebidas com metanol. Enquanto autoridades e instituições de saúde buscam soluções definitivas para a questão da falta de antídotos e para identificar a origem das contaminações, a comunidade e os consumidores devem permanecer vigilantes. Para acompanhar todas as atualizações sobre este e outros temas que afetam nossa comunidade e região, continue navegando pela nossa editoria de Cidades.
Foto: Reprodução/EPTV
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