Um episódio de intolerância religiosa reverberou em Paramirim, Bahia, após o secretário municipal de Meio Ambiente, Antônio Francisco dos Santos Neto, popularmente conhecido como Toninho da Farmácia, associar publicamente um incêndio em vegetação a práticas de religiões de matriz africana. As declarações, divulgadas em vídeo no último domingo, dia 28, foram imediatamente contestadas por lideranças religiosas e terreiros locais, que consideram as afirmações preconceituosas e desinformadas, além de configurar um grave ato discriminatório.
No vídeo que se espalhou pelas redes sociais, o secretário é visto no local do incêndio, às margens de um rio, mostrando a área queimada. Em sua explanação, Toninho da Farmácia alega que as chamas teriam sido iniciadas por velas acesas, deixadas durante o que ele categorizou como “trabalho de candomblé e macumbaria”. Segundo o gestor, o fogo se alastrou por quase um quilômetro, atingindo a rede elétrica e complicando o trabalho das equipes de combate ao incêndio. Ele reforçou a sua convicção de que oferendas estariam na origem do ocorrido, causando grande indignação nas comunidades de fé afro-brasileira.
Secretário liga incêndio a matriz africana: acusam intolerância religiosa
A repercussão das alegações do secretário municipal foi imediata e gerou um veemente repúdio. O Ilê Axé Ogum Tollúm, uma casa de axé de Paramirim-BA, manifestou-se publicamente, qualificando as declarações como “levianas e preconceituosas”. A instituição destacou a falta de conhecimento demonstrada pelo secretário ao imputar, sem provas ou indícios, a responsabilidade do incêndio a essas religiões. A comunidade de terreiros argumentou que, nos rituais afro-brasileiros, as velas são, por praxe, depositadas apagadas durante as oferendas. O derretimento observado no local do incêndio, portanto, seria uma consequência do calor gerado pelo próprio sinistro, e não de uma queima ritualística intencional.
A nota do Ilê Axé Ogum Tollúm salientou que, além de ser um grave ato de intolerância religiosa, o tom “jocoso e de menosprezo” utilizado pelo secretário ao se referir aos atos religiosos pode ter implicações criminais. Conforme o terreiro, tais condutas poderiam configurar crimes tipificados no artigo 208 do Código Penal (vilipêndio a culto religioso) e no artigo 20 da Lei nº 7.716/1989 (Lei Caó), que preveem pena de até três anos de reclusão e multa por incitação ao preconceito e à discriminação religiosa. Diante da gravidade da situação, o Ilê Axé Ogum Tollúm confirmou ter acionado as autoridades competentes para que as devidas providências sejam tomadas e garantiu que não irá tolerar “nenhum ato de discriminação, intolerância ou perseguição às religiões de matriz africana.”
Em meio à crescente polêmica sobre as declarações que associam o incidente de fogo às religiões de matriz africana, a Prefeitura Municipal de Paramirim divulgou uma nota oficial para esclarecer sua posição. A administração municipal informou que o incidente do último domingo, juntamente com outros focos de incêndio registrados recentemente na região, está sob investigação ativa da Polícia Civil. Até o momento, a prefeitura ressaltou que não há quaisquer conclusões sobre as causas exatas dos incêndios ou a identificação dos responsáveis. Com isso, quaisquer suposições acerca de culpas ou origens não possuiriam, por ora, respaldo nas apurações oficiais em andamento.
A gestão municipal aproveitou o comunicado para enfatizar que a fala do secretário Antônio Francisco dos Santos Neto, no momento do incidente, refletiu uma “opinião pessoal” expressa sob “momento de tensão”. A Prefeitura de Paramirim reiterou seu “total respeito à diversidade religiosa” e às manifestações de fé de todos os cidadãos, desassociando-se do teor das declarações do secretário. A nota conclui repudiando qualquer forma de intolerância ou preconceito religioso e assegura que o município “jamais compactuaria com declarações que incentivem preconceito ou discriminação”. A Prefeitura afirmou seu compromisso contínuo com o diálogo, a inclusão e o respeito mútuo como pilares da sua atuação. Apesar das tentativas de contato pela TV Sudoeste, afiliada da Rede Bahia na região, o secretário de Meio Ambiente ainda não se manifestou oficialmente após a repercussão negativa de suas declarações.

Imagem: g1.globo.com
O episódio em Paramirim ilumina a persistência do desafio que a sociedade brasileira enfrenta para assegurar o respeito integral à pluralidade de crenças. É crucial que a atuação de figuras públicas seja pautada pelo zelo com a informação e pela garantia da laicidade, combatendo qualquer indício de intolerância religiosa. Informações adicionais sobre o combate e a compreensão da intolerância religiosa estão disponíveis em plataformas de conhecimento amplo.
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Este caso sublinha a responsabilidade de agentes públicos e a importância do apoio institucional à investigação isenta. Enquanto a Polícia Civil de Paramirim prossegue com as averiguações dos incêndios, o debate sobre o papel dos gestores em um ambiente democrático e pluralista continua aceso. Para acompanhar outras notícias sobre política e os desafios da gestão municipal na Bahia, continue explorando nossa editoria de Política e mantenha-se informado sobre os desdobramentos desses temas importantes em todo o país.
Foto: Reprodução/Redes Sociais
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