Em uma análise aprofundada sobre os bastidores do poder em Brasília e as projeções para o cenário político nacional, **João Camargo**, presidente do conselho de administração do grupo Esfera Brasil, compartilhou suas perspectivas e detalhes de um novo empreendimento. Apesar das expectativas de uma parte do setor empresarial em torno de uma possível candidatura de Tarcísio de Freitas à Presidência da República em 2026, Camargo expressa ceticismo quanto a um consenso em torno do governador paulista. Suas observações sugerem um complexo jogo de forças e alinhamentos políticos, onde a desarticulação do centro e da direita pavimentaria o caminho para um atual mandatário.
Considerado uma figura de proeminência na articulação de empresários com altas autoridades brasileiras, João Camargo é reconhecido por sua acuidade em prever mudanças e reviravoltas no panorama político nacional. Segundo sua leitura atual, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva estaria em uma posição favorável para ser reeleito, caso as eleições presidenciais fossem realizadas no momento. Essa projeção baseia-se em fatores que incluem tanto movimentações da oposição quanto estratégias adotadas pelo próprio governo. A despeito do dinamismo e das tensões inerentes ao ambiente político brasileiro, a convicção de Camargo reside na fragilidade das alianças alternativas.
João Camargo: Análises políticas e renovação na rádio TMC
A tese de João Camargo aponta que a atuação do centro e da direita política contribuiu significativamente para fortalecer a posição do presidente Lula. O empresário exemplifica essa dinâmica mencionando a repercussão da chamada “PEC da Blindagem”. De acordo com ele, tal medida teve o efeito de mobilizar vastos contingentes de eleitores de esquerda, que vieram às ruas em resposta, conferindo uma espécie de legitimação popular e união à base governista, mesmo em meio a discussões parlamentares acaloradas. O grupo Esfera Brasil, liderado por Camargo, atua na promoção de diálogos entre o setor privado e o alto escalão governamental, buscando avançar em pautas relevantes para o empresariado, tendo inclusive ampliado sua atuação internacionalmente, como evidenciado por sua visita a Washington para tratar das tarifas impostas por Donald Trump.
Nessa frente internacional, Camargo compartilha uma visão otimista sobre a aproximação entre Brasil e Estados Unidos. Ele avalia que o aceno diplomático de Donald Trump em relação a Lula é genuíno e que uma “empatia forte” pode se desenvolver entre os dois líderes. Essa perspectiva indica uma possível guinada nas relações bilaterais, independentemente de futuros cenários eleitorais em ambos os países. A presença do grupo Esfera nos Estados Unidos para mitigar tensões tarifárias demonstra a influência de Camargo também na diplomacia empresarial.
Recentemente, João Camargo concretizou uma mudança significativa em sua carreira, marcando sua saída da CNN Brasil. Essa decisão, conforme explicado pelo próprio empresário, foi motivada pela necessidade de dedicar-se integralmente a um novo projeto de mídia: a criação da rádio TMC. Essa nova empreitada é resultado da aquisição da Transamérica neste ano. Sua saída da CNN não foi conturbada; Camargo enfatiza que entregou a operação do canal de notícias em uma posição de destaque financeiro e de audiência. Ele mencionou que Rubens Menin, controlador da CNN Brasil, recusou uma proposta de parceria em seu novo projeto de rádio, impossibilitando um acordo sobre a distribuição de receitas entre rádio e TV, levando-o a seguir um caminho independente. Camargo orgulha-se de ter pegado a operação “no vermelho e entregado no azul”, tendo criado o CNN Money e o CNN Talks, que atualmente representam 30% da receita do grupo, além de quintuplicar a audiência e reformular o site.
Planos para a rádio TMC e o futuro do rádio no Brasil
Os planos para a rádio TMC são ambiciosos e focados em um conceito “disruptivo”. Para liderar essa iniciativa, João Camargo convocou Sérgio Valente, um nome de peso na publicidade brasileira, com passagens pela DM9, Globo e JBS, e atualmente à frente da Soluções Valentes, empresa que tem a TMC como seu primeiro cliente. A proposta da rádio é mesclar informação e esporte, e para isso, Camargo trouxe seu irmão, Neneto, considerado um dos maiores especialistas em rádio do Brasil, com experiência em emissoras como Alpha, 89 e Disney. Neneto assumiu o cargo de executive chairman da agora denominada TMC. A infraestrutura da nova rádio já conta com uma sede de 1.500 metros quadrados na Avenida Paulista, em São Paulo, e opera em seis capitais. A meta é expandir agressivamente, alcançando cerca de 500 afiliadas para cobrir todo o território nacional após a consolidação de seu formato.
O panorama econômico e o governo Lula
Em sua avaliação sobre o cenário macroeconômico brasileiro e a gestão do governo Lula, Camargo aponta um contraste entre a tensão política e o desempenho dos indicadores econômicos. Ele destaca que o Brasil experimenta índices econômicos positivos, com taxas de pleno emprego próximas à realidade e crescimento econômico notável, mesmo com uma taxa de juros considerada exorbitante. Para o empresário, a esperada queda dos juros a partir de janeiro ou fevereiro promete um “alento forte na economia”, com potencial para uma guinada positiva na Bolsa de Valores e a desalavancagem das empresas. Adicionalmente, o cenário internacional desempenha um papel importante: a desaceleração econômica nos Estados Unidos deve impulsionar uma entrada massiva de dólares no Brasil, favorecendo ainda mais o ambiente econômico nacional.
Crítico às ações recentes do centro-direita, João Camargo expressa desapontamento com a “dessincronização gigante” do segmento político nos últimos 60 a 90 dias, resultando em “uma coisa pior que a outra”. Ele questiona, por exemplo, o discurso que sugere que os brasileiros pagarão a conta de tarifas caso não haja anistia. Para Camargo, alegações como a de que uma Lei Magnitsky individual seria absurda contra “todos os brasileiros” carecem de fundamento. As últimas votações no Congresso Nacional, em sua perspectiva, foram marcadas pela confusão, especialmente na Câmara dos Deputados, que teria perdido parte de seu caráter corporativista, diferente do que ele observa no Judiciário, Executivo e Senado.
Ao abordar a PEC da Blindagem, Camargo reafirma que ela foi um reflexo de um desentendimento prolongado na Câmara, que se estendeu de fevereiro a setembro sem consenso sobre pautas como a cassação de Carla Zambelli ou Eduardo Bolsonaro, ou a votação da anistia. Essa falta de liderança firme resultou em um período de confrontos “horrorosos” entre os deputados, estagnando o processo legislativo. Lula, segundo o empresário, soube capitalizar essa confusão interna do centro à extrema direita. O presidente “surfou na onda”, aprimorando sua oratória e evitando discursos polarizadores, de confronto entre ricos e pobres. Apesar do tensionamento em Brasília, com o Congresso potencialmente apertando o Executivo em investigações como a CPMI do INSS, e uma possível resposta do Executivo, a articulação do centro e da direita colaborou para a atual posição de Lula, com a PEC da Blindagem mobilizando grande parte da população de esquerda.
Projeções para as Eleições de 2026
A eleição de 2026 é vista por João Camargo como um reflexo direto da desarticulação da oposição. Em suas palavras, se o pleito ocorresse hoje, Lula sairia vitorioso pela falta de unidade no campo adversário. Ele cita a pulverização de candidaturas e as desavenças internas – como Eduardo Bolsonaro criticando Tarcísio de Freitas, Michelle Bolsonaro afirmando ter se transformado em “leoa”, e nomes como Ratinho Jr., Romeu Zema e Ronaldo Caiado –, que impossibilitam um consenso. Apesar do desejo de parte do empresariado por Tarcísio, a falta de união é evidente.

Imagem: www1.folha.uol.com.br
Sobre Tarcísio de Freitas, Camargo analisa que, embora parte do empresariado tenha se incomodado com a radicalização do governador em momentos específicos, o erro não foi “gigante”. Ele descreve Tarcísio como “inteligente, correto e digno”, afirmando que o político paulista é bem-resolvido e aspira a mais um mandato como governador, não como presidente, ao menos neste momento. Contudo, Camargo pondera que, se houver um consenso avassalador pela candidatura presidencial de Tarcísio, ele “não vai ter como dizer não”. Apesar disso, Camargo não prevê um consenso próximo para tal. A pretensão atual do governador, reforça, é seguir por mais quatro anos à frente do governo de São Paulo.
Caso Lula conquiste um quarto mandato, João Camargo acredita que o PT enfrentará uma briga interna pela “herança política” do líder ainda em vida, um cenário similar ao que ocorre hoje no centro e na direita. Este seria um novo ciclo de articulações e disputas pelo poder dentro do próprio partido governista. Para aprofundar sua compreensão sobre as previsões econômicas e o cenário político brasileiro, é relevante observar análises sobre a trajetória da Selic, divulgadas por fontes como o Banco Central do Brasil.
Relações Internacionais: EUA e Brasil
João Camargo também detalha sua participação em esforços empresariais para dialogar com o governo dos Estados Unidos sobre as tarifas impostas por Donald Trump ao Brasil. Sua ligação de longa data com a Flórida, onde possui uma segunda residência, facilitou conexões. Através de amizades com figuras como Francis Suarez, prefeito de Miami, e seu círculo em Mar-a-Lago (resort de Trump), ele conheceu personalidades como Mauricio Claver-Carone, ex-conselheiro de Trump, e o advogado Brian Ballard, próximo a Marco Rubio. Com a ajuda desses contatos, Camargo articulou uma agenda em Washington. Ele buscou aliados influentes de Trump – deputados que passam fins de semana com o ex-presidente –, com o intuito de mostrar aos norte-americanos que o Brasil desejaria manter o alinhamento com os EUA, mas não poderia ser tratado com rigidez tarifária, sob risco de ser impelido a buscar parcerias comerciais com a China. Encontros com figuras como a senadora Ashley Moody, Maria Elvira Salazar e Susie Wiles (chefe de gabinete) foram parte desses esforços.
A correlação entre o aceno recente de Trump a Lula e esses esforços de diálogo é uma questão levantada. Camargo especula que Trump, que antes poderia estar influenciado por membros da família Bolsonaro, recebeu “outro Brasil” por meio desses empresários. Eles defenderam um Brasil funcional, com instituições sólidas e uma economia pujante, buscando desconstruir narrativas negativas. Embora Camargo não tenha conversado diretamente com o então presidente e reconheça que outras personalidades tiveram influência “70 vezes maior”, como Joesley Batista (JBS) e empresários com negócios nos EUA (Embraer, JBS), ele acredita que sua participação, junto a outros, foi importante para mitigar os impactos de possíveis retaliações tarifárias e o impacto no PIB brasileiro. Ele expressa a preocupação em ver o Brasil crescer e que seu imóvel, por exemplo, valha menos que um similar nos EUA devido à depreciação econômica nacional. O foco era e ainda é “fazer crescer esse Brasil”.
Camargo é otimista sobre um alívio nas tensões comerciais por parte de Trump, reiterando que haverá uma “empatia forte com Lula” e que Brasil e EUA deverão se aproximar. Ele não receia que Trump submeta Lula a uma humilhação similar à de Volodimir Zelenski. Suas conversas indicaram que tal atitude não ocorrerá. Acredita-se que, apesar das fortes ligações pessoais de Trump com o bolsonarismo, a situação será diferente. Camargo ainda vislumbra que medidas como a Lei Magnitsky contra o ministro do STF Alexandre de Moraes serão revistas, pois Lula, sendo o “maior encantador do Brasil hoje”, será capaz de manejar a questão com maestria.
RAIO-X | JOÃO CAMARGO, 64
João Camargo, com 64 anos, é um renomado profissional formado em administração pela PUC-SP. Atualmente, preside o conselho de administração do Esfera Brasil. Sua trajetória profissional inclui a recente saída da posição de executive chairman da CNN Brasil para concentrar-se em seu novo empreendimento no segmento de rádio. No setor radiofônico, Camargo é sócio das conhecidas rádios Alpha e 89, e agora, lidera o projeto de renovação da Transamérica, que passou a ser conhecida como TMC.
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As análises e os projetos de João Camargo reiteram sua posição como um dos empresários mais influentes do Brasil, tanto no cenário político-econômico quanto no setor de comunicação. Suas perspectivas sobre as próximas eleições, a recuperação econômica e o futuro das mídias digitais oferecem um panorama detalhado para aqueles interessados em compreender os desafios e as oportunidades do país. Para acompanhar de perto essas e outras discussões relevantes, continue explorando a editoria de Política do Hora de Começar.
Crédito da imagem: Bruno Santos – 28.set.2022/Folhapress
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