Nesta segunda-feira, 29 de abril, a escritora, poeta, professora e notória ativista da cultura negra, Conceição Evaristo, recebe o prestigioso título de Doutora Honoris Causa pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Esta notável honraria consagra Conceição Evaristo como a primeira mulher negra a ser agraciada com tal reconhecimento pela instituição mineira, marcando um momento histórico e significativo.
A concessão deste título foi aprovada pelo Conselho Universitário da UFMG no mês de abril, e sua celebração integra o cronograma das ações comemorativas do centenário da universidade. As celebrações do centenário da UFMG estendem-se entre setembro de 2026 e setembro de 2027, e a homenagem à escritora figura como um dos marcos dessa época festiva e de reconhecimento.
Conceição Evaristo Recebe Doutora Honoris Causa da UFMG: um Marco Histórico
A Doutora Honoris Causa é uma distinção de grande valor concedida pela UFMG a personalidades que se destacaram por suas contribuições relevantes e inovadoras nos campos da ciência, tecnologia ou cultura. Com uma história que remonta a 1928, esta honraria já foi entregue a figuras ilustres como Juscelino Kubitschek, que também foi médico e presidente da República, o célebre escritor português José Saramago, e a física e professora estadunidense Mildred Dresselhaus, entre outros notáveis intelectuais e líderes globais.
Diante do reconhecimento, Conceição Evaristo expressou sua profunda emoção. “É um momento de emoção muito grande, gratidão à vida, ao estado de Minas Gerais, à UFMG. A trajetória do povo negro e das mulheres negras a gente vai fazendo aos pouquinhos, vai colocado pedras… e eu me sinto muito honrada”, declarou a escritora, ressaltando o peso histórico de sua conquista e a representatividade de seu percurso para a comunidade negra e, especialmente, para as mulheres negras no Brasil.
A bagagem acadêmica de Conceição Evaristo é tão robusta quanto sua produção literária. Ela é mestre em Literatura Brasileira, com formação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Sua trajetória educacional foi ainda mais aprofundada com o doutorado em Literatura Comparada, obtido pela Universidade Federal Fluminense (UFF), consolidando sua expertise e seu olhar crítico sobre a cultura e as letras.
Ao longo dos anos, Conceição Evaristo construiu uma produção literária vasta e diversificada, abrangendo poesia, ficção e ensaios. Suas obras têm ressonância internacional, sendo traduzidas e publicadas em países como Alemanha, Inglaterra, Estados Unidos e França. Entre seus livros mais aclamados, destacam-se “Ponciá Vicêncio” (2003), um romance que explora a identidade e a memória afro-brasileira; “Becos da memória” (2006); “Poemas de recordação e outros movimentos” (2008); “Insubmissas Lágrimas de Mulheres” (2011); “Olhos D’água” (2014), que lhe rendeu o Prêmio Jabuti de Melhor Contos em 2015; e “Histórias de Leves Enganos e Parecenças” (2016). Em 2023, Conceição Evaristo lançou “Macabea: Flor de mulungu”, uma obra que, inspirada em “A Hora da Estrela”, de Clarice Lispector, reinventa um clássico da literatura brasileira com uma nova perspectiva.
Os reconhecimentos à genialidade e impacto de Conceição Evaristo não se limitam apenas ao meio acadêmico e à aceitação internacional. Em 2018, foi laureada com o Prêmio de Literatura do Governo de Minas Gerais, demonstrando o valor de sua obra para sua terra natal. O ano de 2023 foi particularmente fértil em premiações para a escritora, que recebeu o prestigiado Prêmio Intelectual do Ano da União Brasileira de Escritores, e também o notório Prêmio Juca Pato, que distingue o intelectual que defende os valores democráticos e a cultura nacional. Além disso, em 2019, sua carreira foi amplamente celebrada no 61º Prêmio Jabuti, onde foi homenageada como personalidade literária, reafirmando sua influência no cenário cultural brasileiro.

Imagem: g1.globo.com
Sua entrada para a Academia Mineira de Letras em março de 2024 também representou um marco. Ao assumir a Cadeira de número 40, Conceição Evaristo novamente fez história ao se tornar a primeira mulher negra a integrar a renomada instituição, adicionando mais uma “pedra” significativa à trajetória do povo negro e das mulheres negras no Brasil.
Ao longo de quase um século, o título de Doutor Honoris Causa da UFMG foi conferido a grandes mentes. A lista inclui, além dos já mencionados, nomes como José Xavier Carvalho de Mendonça (1928), jurista; Antônio Carlos Ribeiro de Andrada (1930), político; Rodrigo Melo Franco de Andrade (1961), advogado, jornalista e escritor; Desmond Mpilo Tutu (1987), arcebispo e Nobel da Paz; Francisco Curt Lange (1989), musicólogo; Nelson Freire (2016), pianista; e Antônio Augusto Cançado Trindade (2018), jurista. Esses nomes reiteram a excelência e a diversidade das áreas agraciadas por essa distinção, da qual agora Conceição Evaristo faz parte, adicionando sua luz única e fundamental ao rol de gigantes da história brasileira e mundial. É fundamental reconhecer o impacto social e acadêmico desses títulos honoríficos. Para entender melhor os critérios e a relevância de tal deferência em um contexto acadêmico, consultar as informações sobre doutorados honoris causa em universidades públicas pode oferecer um panorama completo sobre este importante reconhecimento.
Confira também: artigo especial sobre leis e valortrabalhista
A trajetória de Conceição Evaristo é um testemunho da força, resiliência e inestimável contribuição da cultura negra para o Brasil e o mundo. A concessão do título de Doutora Honoris Causa pela UFMG não apenas coroa uma vida dedicada às letras e à justiça social, mas também pavimenta o caminho para que mais mulheres negras e intelectuais possam ver seus trabalhos valorizados e reconhecidos em esferas de excelência. Para aprofundar-se em análises sobre a cultura brasileira e o impacto de personalidades como Conceição Evaristo, convidamos o leitor a continuar acompanhando nossa editoria de Análises em Hora de Começar.
Foto: Reprodução/GNT
🔗 Links Úteis
Recursos externos recomendados