O ex-padre Emerson Rogério de Souza, de 51 anos, de Araçatuba (SP), defende o poliamor e a não monogamia, trocando o celibato pelo estilo de vida poliafetivo. Atualmente, ele integra um trisal ao lado de Daniela, sua esposa há 26 anos, e Camila, vivenciando uma união que desafia preceitos tradicionais e dogmas religiosos. Sua perspectiva é fundamentada na crença de que “a gente está falando de amor. Cristo em momento algum proibiu nada, desde que você ame o próximo como a ti mesmo”, conforme sua própria afirmação.
A transição de um sacerdote para um entusiasta da não monogamia marca um rompimento institucional com a igreja, mas não com a fé. Emerson explica que o questionamento sobre a proibição do casamento para padres foi um dos principais motivos de sua saída. Esse dogma da Igreja Católica Apostólica Romana, ele opina, deveria ser revisto no futuro. Sua experiência, que incluiu o acompanhamento de inúmeros matrimônios e confissões repletas de relatos de traição, solidificou sua convicção de que a espécie humana não é intrinsecamente monogâmica.
Ex-padre defende poliamor e não monogamia em Araçatuba (SP)
Para Emerson Rogério, a ideia de que teríamos apenas um relacionamento na vida, o primeiro, caso fôssemos monogâmicos por essência, é contradita pela realidade observada. No âmbito eclesiástico, cerca de 90% das confissões estavam ligadas a relacionamentos fracassados e infidelidades, o que reforçava sua tese sobre a dificuldade natural de manter a monogamia.
Emerson nasceu em Campo Grande (MS) e sentiu uma vocação para o sacerdócio, atuando como Irmão do Sagrado Coração de Jesus em Campanha (MG). O destino o levou a Araçatuba (SP) para um retiro da Semana Santa, onde conheceu a então adolescente Daniela, de 14 anos, em um encontro inicialmente desprovido de conotação amorosa. Anos mais tarde, sorteado novamente para a cidade paulista, a aproximação entre os dois se intensificou, especialmente após um acidente que deixou Daniela debilitada. Como o contato de Emerson era o único disponível na bolsa de Daniela, ele foi acionado, prestando apoio e cuidado, o que, com o tempo, deu origem a um sentimento romântico.
Diante desse amor recém-descoberto e dos dilemas com a doutrina religiosa, Emerson tomou a decisão de se afastar formalmente da Igreja, pedindo a dispensa do sacerdócio. O novo capítulo, entretanto, veio acompanhado de grandes desafios, especialmente para Daniela. Segundo o ex-padre, o pai da jovem não aceitou a relação, expulsando-a de casa e queimando suas roupas, em um ato que sublinha a severidade das normas sociais e familiares da época.
Do Matrimônio Tradicional ao Poliamor
A transição da batina para um estilo de vida poliafetivo não foi imediata. Emerson e Daniela viveram um casamento monogâmico por 13 anos antes de abrirem-se ao poliamor. Ele conta que sempre percebeu em Daniela uma orientação bissexual, embora ela inicialmente reprimisse esse aspecto devido às crenças religiosas. O ponto de virada ocorreu quando Daniela confessou ter notado investidas da enteada de uma cabeleireira e, após uma conversa franca com Emerson, foi incentivada a explorar seus sentimentos. Foi a partir desse diálogo que o casal decidiu experimentar o poliamor, acumulando experiências em relacionamentos a três ao longo dos anos.

Imagem: g1.globo.com
Atualmente, Emerson, Daniela e Camila formam um trisal há dois anos. A relação é configurada em formato de triângulo, o que significa que todos se envolvem sexualmente, e Camila, assim como Daniela, também é bissexual. Emerson ressalta a importância do diálogo e da parceria na dinâmica do trisal. Ele explica que, em situações de atrito entre dois, a terceira pessoa atua como mediadora, fortalecendo a união. Para eles, participar do 1º Encontro de Trisais do Brasil em Pinhalzinho representou a busca ativa pelo reconhecimento jurídico das famílias poliafetivas. Ele lamenta que muitas uniões semelhantes existam, mas sem o devido reconhecimento, tornando a presença de um dos parceiros “invisível” juridicamente.
Amor, Fé e Aconselhamento Poliafetivo
Quando questionado se sua vivência no poliamor o capacitaria a oferecer conselhos a casais que procurassem auxílio religioso, assim como nos tempos de sacerdócio, Emerson responde afirmativamente. Sua vasta bagagem de vida, unida aos dilemas dos relacionamentos monogâmicos e não monogâmicos que presenciou, o equiparia melhor para guiar os fiéis. Ele destaca que muitas uniões não monogâmicas já ocorrem na sociedade, embora frequentemente ocultas. Nesse contexto, um sacerdote com sua experiência estaria mais apto a aconselhar e orientar os fiéis, em contraste com a proibição e a categorização como pecado que a Igreja adotou por tanto tempo. Sua história é um reflexo das complexas relações entre fé pessoal, dogmas religiosos e a diversidade das formas de amar. Para mais informações sobre perspectivas contemporâneas de relacionamentos, veja o artigo sobre não monogamia ética na Wikipedia.
Confira também: artigo especial sobre leis e valortrabalhista
A jornada de Emerson Rogério de Souza, do celibato ao poliamor, em Araçatuba (SP), representa uma provocação às estruturas tradicionais, ao mesmo tempo em que oferece uma nova perspectiva sobre a natureza do amor e dos relacionamentos. Sua voz adiciona uma dimensão complexa ao debate sobre fé, instituição religiosa e as diversas configurações familiares possíveis na sociedade contemporânea. Continue acompanhando as novidades e análises sobre questões sociais e humanas em nossa editoria de Cidades.
Crédito da imagem: Estevão Mamédio/g1
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