Desde sua primeira revelação ao universo científico e social por Leo Kanner, em 1947, o autismo e Tylenol: Entenda a Complexa Busca por Respostas têm sido tópicos de intensa discussão, provocando uma gama de reações que incluem surpresa, indignação e, em alguns casos, orgulho. Contudo, apesar de décadas de estudo e observação, a comunidade científica ainda não chegou a uma compreensão definitiva de sua etiologia, nem existe um consenso estabelecido sobre os métodos de tratamento mais eficazes para as pessoas no espectro.
Ao longo dos anos, milhões de textos foram produzidos e divulgados, posicionando o autismo como um dos temas mais pesquisados na internet. Predominantemente, as discussões giram em torno de abordagens neurológicas e genéticas, que coexistem com os chamados tratamentos “cognitivos”. Essas vertentes de pesquisa focam intensamente em aspectos médicos, nas bases biológicas e genéticas do transtorno, além de dependerem de estudos estatísticos e populacionais para mapear sua incidência e características.
Um exemplo notório da rápida evolução no reconhecimento do espectro autista é a mudança nas estatísticas. Enquanto há aproximadamente vinte anos se falava em quatro crianças autistas para cada dezesseis mil, dados americanos recentes indicam que atualmente uma a cada sessenta pessoas recebe esse diagnóstico. Todavia, apesar da proliferação de diagnósticos e investigações, uma grande quantidade de perguntas acerca do autismo persiste sem respostas conclusivas. Frequentemente, a ânsia por desvendar as origens leva à busca por relações causais, muitas das quais, no entanto, são consideradas espúrias por pesquisas posteriores. A ciência já comprovou que o autismo não é causado por vacinas, nem por dietas alimentares restritivas, e muito menos pelo Tylenol, como foi equivocadamente sugerido pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em declarações passadas.
Autismo e Tylenol: Entenda a Complexa Busca por Respostas
Em contraste com a predominância das investigações biológicas, existe também uma substancial produção psicanalítica dedicada ao autismo. No entanto, a natureza da psicanálise a impede de se apresentar ao cenário social com números grandiosos ou de propor generalizações simplistas. Esta abordagem valoriza a singularidade de cada caso, fazendo uso limitado de estatísticas e empregando uma teorização de elevada complexidade. Consequentemente, sua difusão pode ser desafiadora ou, se simplificada demais, pode resultar em banalizações de seus ricos conceitos.
Adicionalmente, a psicanálise tem enfrentado ataques, o que tem impactado sua visibilidade. Apesar desses desafios, a pesquisa psicanalítica sobre o autismo demonstra um progresso significativo. Desde que Virginia Axline introduziu seu primeiro caso tratado, em 1964, com notável delicadeza e resultados duradouros, a prática clínica nesse campo avançou substancialmente. Superaram-se erros interpretativos, a atuação psicanalítica se expandiu para domínios como o educacional e o escolar, e estabeleceu um diálogo produtivo com a ciência positiva, acumulando um volume considerável de resultados positivos e de práticas bem-sucedidas.
É crucial reconhecer que toda pessoa no espectro autista possui o direito fundamental a um inconsciente, a desejos e à ânsia inata de se relacionar com outras pessoas. No entanto, é amplamente conhecido o quão desafiadoras essas interações podem ser para elas. Observa-se frequentemente que, enquanto o desenvolvimento do corpo biológico, as habilidades motoras e, muitas vezes, a capacidade intelectual de indivíduos autistas podem estar plenamente desenvolvidas, as dificuldades para estar em contato com os outros — mesmo quando há o desejo de fazê-lo — impactam diversas outras esferas da sua existência.
Uma dessas dimensões, frequentemente negligenciada pelos pesquisadores focados primordialmente na vertente neurológica, é a dificuldade na edificação da chamada imagem corporal. Esta consiste na representação psíquica e inconsciente do próprio corpo, não devendo ser confundida com o esquema corporal. No caso de uma pessoa autista, o esquema corporal geralmente se mostra bem elaborado, permitindo uma movimentação eficaz e coordenada no espaço. Em contrapartida, a imagem corporal, de natureza eminentemente psíquica, em pessoas autistas — especialmente em crianças — tende a ser precária.

Imagem: noticias.uol.com.br
A pobreza na construção da imagem corporal priva a pessoa autista de uma das ferramentas mais vitais para o desenvolvimento humano. Essa lacuna afeta tanto o trabalho de contenção de impulsos internos quanto a capacidade de defesa diante de ameaças, sejam elas fantasiosas ou reais, provenientes do contato com nossos semelhantes. Diante dessa realidade, torna-se imprescindível que as pessoas com autismo desenvolvam mecanismos compensatórios para gerenciar essa ausência ou essa dificuldade estrutural na relação com o próprio corpo e com o mundo exterior.
Nesse processo, autistas comumente elaboram “objetos autísticos”, que atuam como mediadores em suas interações com o mundo e auxiliam na regulação de impulsos endógenos, conferindo-lhes forma e limite. Adicionalmente, constroem “duplos”, figuras imaginárias que lhes servem de anteparo psíquico interno e externo, e desenvolvem “interesses específicos”. Todas essas estratégias são valiosas defesas que a abordagem neurológica por vezes não contempla, mas que se revelam essenciais para o bem-estar e o desenvolvimento de autistas, e nas quais podemos oferecer suporte na construção ou acompanhamento. A compreensão do autismo e seus complexos aspectos tem sido ampliada por estudos que buscam novas perspectivas, reforçando a importância de um olhar integral, conforme a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) destaca em seus materiais educativos.
Tanto no caso das pessoas no espectro autista quanto em outras situações complexas, a premissa de que é sempre necessário ir além da perspectiva meramente biológica para uma compreensão profunda é fundamental. Maria Cristina Kupfer, psicóloga e psicanalista, é uma voz proeminente nesse campo. Como professora titular sênior do Instituto de Psicologia da USP e cofundadora do Lugar de Vida – Centro de Educação Terapêutica, que atua desde 1990 no tratamento do autismo, ela ressalta a importância de abordar essas dimensões psíquicas. Kupfer, autora do romance “Arthur, um autista no século 21”, destaca o compromisso de desenvolver programas de inclusão escolar e de manter cursos e pesquisas focadas no autismo, reforçando a visão integral do ser humano.
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Aprofundar a compreensão sobre o autismo exige que expandamos nossa visão para além do aspecto biológico, explorando as complexas dimensões psíquicas e sociais que impactam profundamente o desenvolvimento e a interação das pessoas no espectro. Permanecer informado sobre essas perspectivas variadas é essencial para um entendimento mais completo e para promover ambientes de maior inclusão. Continue explorando as análises e notícias em nossa editoria para se manter atualizado.
Crédito da imagem: Steven Maarten William/Unsplash
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