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Cineasta Jafar Panahi segue firme apesar da censura no Irã

O cineasta iraniano Jafar Panahi reafirma sua inabalável determinação em prosseguir com sua produção artística em território nacional, apesar da rigorosa censura imposta no Irã. Quatro meses após a notável conquista da Palma de Ouro no Festival de Cannes, o aclamado diretor compartilhou sua visão em uma entrevista concedida à Agence France-Presse (AFP) em Paris, […]

O cineasta iraniano Jafar Panahi reafirma sua inabalável determinação em prosseguir com sua produção artística em território nacional, apesar da rigorosa censura imposta no Irã. Quatro meses após a notável conquista da Palma de Ouro no Festival de Cannes, o aclamado diretor compartilhou sua visão em uma entrevista concedida à Agence France-Presse (AFP) em Paris, onde confirmou planos para um novo filme “sobre a guerra”, solidificando sua postura de enfrentamento às restrições governamentais.

Desde o reconhecimento em Cannes, o cotidiano de Panahi tem sido um misto de apoio público e descrédito oficial. Ao desembarcar no aeroporto de Teerã após o prestigiado festival, ele foi calorosamente acolhido por uma diversa plateia, incluindo colegas diretores, familiares de prisioneiros políticos e cidadãos comuns, todos expressando solidariedade e admiração. Paralelamente, o governo iraniano empregou uma narrativa depreciativa, tentando desqualificar a obra do cineasta. As autoridades sugeriram que a premiação seria resultado de pressões externas, notadamente de agências de inteligência como a CIA, uma tática recorrente para desacreditar qualquer produção cinematográfica que não tenha sido previamente submetida e aprovada pela censura estatal.

Seu trabalho reflete diretamente essa batalha, sendo um eco das vozes silenciadas em sua nação. A convicção do cineasta em continuar atuando em seu país, mesmo sob constante vigilância, demonstra a força de sua arte como ferramenta de resistência.

Cineasta Jafar Panahi segue firme apesar da censura no Irã

O lançamento iminente de seu mais recente longa-metragem, intitulado “Foi Apenas um Acidente”, em diversas nações, ilustra essa resistência. O filme narra a experiência de cinco iranianos que se deparam com um homem que possivelmente foi seu carcereiro, construindo uma contundente denúncia contra a arbitrariedade do sistema e as ações das autoridades em Teerã. Essa obra, carregada de simbolismo, promete intensificar o debate sobre a liberdade de expressão no Irã, onde a restrição à criação artística é uma realidade persistente.

Desafios Cotidianos e Ameaças à Liberdade de Expressão

Apesar da natureza crítica de suas produções, Jafar Panahi relata que não sofreu novas importunações diretas pelas autoridades até a data da entrevista. Ele interpreta essa relativa “calmaria” como um limite tácito às ações repressivas, que já se mostraram ineficazes. O diretor já esteve detido por períodos consideráveis: sete meses entre 2022 e 2023, e 86 dias em 2010. Além das prisões, enfrentou a proibição de trabalhar, uma medida que, em suas palavras, “não serviu de nada”. Aos 65 anos, Panahi reitera que nunca se curvou à censura e não começará a fazê-lo agora, consciente de que novas proibições podem surgir, mas que seu espírito criativo permanece indomável.

A vida de Jafar Panahi, apesar das viagens internacionais para divulgar seu trabalho e participar de festivais, está intrinsicamente ligada à sua pátria. Antes das proibições de viajar — que se estenderam por 15 anos —, ele costumava iniciar um novo projeto cinematográfico logo após finalizar o anterior. Atualmente, o ritmo frenético de compromissos internacionais impede uma dedicação exclusiva ao processo criativo. Em suas próprias palavras, “Às vezes, passo 30 horas sem dormir. Isso não me permite começar um novo filme com a mente clara”, detalhando uma rotina que o levou à Coreia, Espanha e, posteriormente, Paris em poucas semanas.

Novo Projeto: Um Filme Sobre a Guerra e Memórias da Prisão

Contudo, a paixão pelo cinema o impulsiona. Há cinco anos, Panahi acalenta o desejo de concretizar um projeto de filme sobre a guerra, cujo roteiro já está pronto. Impedido inicialmente de concluí-lo devido à escassez de recursos, ele retoma o tema, reescrevendo o material com renovada urgência. O diretor observa o cenário global e sente que “o cheiro de guerra é sentido por toda parte”, o que torna o filme ainda mais relevante e necessário. Sua esperança é que esta obra encontre os recursos e o reconhecimento que o mundo pede.

Cineasta Jafar Panahi segue firme apesar da censura no Irã - Imagem do artigo original

Imagem: noticias.uol.com.br

A densidade de “Foi Apenas um Acidente” é extraída, em parte, das experiências pessoais de Panahi em reclusão. Embora não tenha sido alvo de tortura física durante suas prisões, o cineasta descreve as profundas cicatrizes da tortura psicológica. Relatar a permanência em uma cela de três por quatro metros, dividida com outras duas ou três pessoas por meses a fio, e a humilhação de ter os olhos vendados para ir ao banheiro, revela a crueldade de um sistema que vai além da violência corporal. Panahi enfatiza que “a tortura não é apenas física. O pior são as torturas psicológicas”, distinguindo sua experiência da de outros detidos que enfrentaram violência física explícita.

A Luta Coletiva por Justiça e Reconhecimento

A visibilidade de Jafar Panahi no cenário internacional confere a seus atos de resistência uma repercussão distinta. Se um preso comum inicia uma greve de fome, sua luta pode permanecer anônima. No caso do diretor, a notoriedade garante que suas ações ganhem eco rapidamente, alcançando a atenção pública global. Contudo, Panahi se recusa a romantizar sua própria coragem. Ele insiste que o que ele faz “não conta, não é nada” comparado aos sacrifícios de muitos outros compatriotas.

O cineasta ressalta a existência de indivíduos “importantes nas prisões com penas muito longas”, que enfrentam condenações de 10 ou 15 anos. Ele chega a citar um colaborador de seu próprio filme, cujo nome figura nos créditos, que, aos 48 anos, já passou um quarto de sua vida encarcerado. Para Panahi, as verdadeiras façanhas de resistência são realizadas por essas pessoas anônimas, cuja coragem e sacrifício, lamentavelmente, raramente são conhecidos pelo grande público, mas cujas histórias inspiram seu compromisso inabalável com o cinema e a verdade.

Confira também: artigo especial sobre leis e valortrabalhista

A jornada de Jafar Panahi personifica a luta pela liberdade de expressão e a resiliência do espírito artístico diante da adversidade. Ao optar por permanecer e produzir em seu país, apesar das complexidades, ele reafirma a arte como um ato político e uma forma essencial de testemunho social. Continue acompanhando a cobertura de eventos culturais e políticos importantes em nossa editoria de Política para se manter informado.

Crédito da Imagem: Agence France-Presse

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