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Violações Trabalhistas Afetam Montadores de iPhone na China

As violações trabalhistas que afetam montadores de iPhone na China persistem em meio à produção dos mais recentes modelos do smartphone da Apple. Um recente relatório detalha condições de trabalho alarmantes, incluindo extensas jornadas de horas extras, pagamentos salariais irregulares e práticas discriminatórias contra minorias étnicas nas fábricas que operam no país asiático. Essas descobertas […]

As violações trabalhistas que afetam montadores de iPhone na China persistem em meio à produção dos mais recentes modelos do smartphone da Apple. Um recente relatório detalha condições de trabalho alarmantes, incluindo extensas jornadas de horas extras, pagamentos salariais irregulares e práticas discriminatórias contra minorias étnicas nas fábricas que operam no país asiático. Essas descobertas reacendem o debate sobre a responsabilidade social na cadeia de suprimentos global de grandes empresas de tecnologia.

O grupo de defesa de direitos trabalhistas China Labor Watch (CLW), com sede nos Estados Unidos, é o responsável pelas novas alegações, divulgadas em seu mais recente relatório. Segundo a entidade, mais da metade dos 200 mil funcionários empregados na fábrica da Foxconn em Zhengzhou, durante o pico da temporada de produção, são classificados como “trabalhadores temporários”. Este número excede significativamente o limite de 10% estabelecido pela legislação chinesa para essa modalidade de contratação, levantando sérias questões sobre a conformidade da empresa com as normas locais.

Violações Trabalhistas Afetam Montadores de iPhone na China

A investigação da CLW revela que os trabalhadores temporários são frequentemente submetidos a regimes de pagamento escalonados, nos quais parte de seus salários é retida para desincentivar pedidos de demissão durante períodos de alta demanda. Além disso, esses profissionais são privados de benefícios essenciais, tais como licença médica e férias remuneradas, e não têm acesso ao seguro social que incluiria cobertura de saúde e contribuições para aposentadoria. Tais práticas destacam uma dependência crescente da “força de trabalho descartável”, conforme apontou Li Qiang, fundador da CLW e autor do estudo, reforçando que “a cadeia de suprimentos da Apple continua dependendo de uma vasta força de trabalho descartável”.

A discriminação é outra grave preocupação evidenciada pelo relatório da CLW. O grupo alegou a existência de práticas discriminatórias sistemáticas no processo de contratação, atingindo minorias étnicas específicas e mulheres grávidas. Essa alegação vem à tona após outras investigações prévias da China Labor Watch e outros grupos, as quais repetidamente sublinharam a persistência de condições laborais rigorosas nas unidades chinesas operadas pela Foxconn, que é a maior parceira contratada da Apple na produção de seus dispositivos eletrônicos.

Apesar das recorrentes promessas de melhoria das condições por parte da Apple ao longo da última década, as “questões trabalhistas fundamentais permanecem”, como assinala Li Qiang. Em resposta às denúncias de 2019 feitas pela CLW, a Foxconn havia declarado que o elevado percentual de trabalhadores temporários violava as diretrizes da empresa. Mais recentemente, a Foxconn afirmou ser “um empregador de igualdade de oportunidades” que não “tolera discriminação”, destacando que passou por auditorias independentes de terceiros nos últimos dois anos, as quais, segundo a empresa, “demonstraram conformidade crítica e transparência em responsabilidade social e ambiental”.

Por sua vez, a Apple reagiu às novas informações declarando que suas equipes “estavam no local e [haviam] iniciado uma investigação imediata” após serem notificadas das descobertas da CLW. A gigante tecnológica reforçou seu “comprometimento firme com os mais altos padrões de trabalho, direitos humanos, conduta ambiental e ética”.

A investigação que embasou o relatório da CLW foi conduzida ao longo de seis meses neste ano. Para obter os dados, o grupo enviou trabalhadores disfarçados para a fábrica em Zhengzhou, onde realizaram mais de 100 entrevistas com funcionários. Subsequentemente, o Financial Times também visitou a região e entrevistou uma dúzia de trabalhadores nos arredores da fábrica, além de alguns colaboradores de agências de trabalho contratadas pela Foxconn. Embora nem todas as alegações da CLW tenham sido integralmente replicadas nas entrevistas do Financial Times, muitos dos pontos levantados foram reiterados.

Interessantemente, parte dos entrevistados pelo Financial Times comentou que as condições na Foxconn eram, em alguns aspectos, mais favoráveis se comparadas às de outros fabricantes locais. Eles citaram benefícios como ar-condicionado, água quente, instalações recreativas e subsídios em refeitórios. Contudo, o contexto socioeconômico chinês, com uma desaceleração econômica e um aumento do desemprego juvenil, tem limitado as alternativas para os indivíduos em busca de trabalho, fazendo com que muitos considerem retornar a postos na Foxconn se outras oportunidades não surgirem.

Duas das pessoas que conversaram com o Financial Times, no entanto, indicaram que a plataforma de recrutamento da Foxconn, usada pelas agências para submeter currículos, frequentemente rejeita candidaturas de minorias étnicas, incluindo uigures, tibetanos e huis que não são nativos da província de Henan. Uma fonte com conhecimento direto do sistema explicou: “A Foxconn não tem uma política explícita que proíba minorias. Mas se você enviar a candidatura deles para o aplicativo de contratação, ela será rejeitada”. Essa fonte ainda adicionou que a percepção de que esses grupos poderiam gerar tensões com os trabalhadores chineses Han seria o motivo subjacente para tal discriminação, embora isso esteja em conflito com os padrões internacionais de trabalho.

Zhengzhou consolidou-se como um eixo vital na cadeia de suprimentos da Apple, hospedando uma complexa rede de fornecedores de componentes e dezenas de agências de emprego que fornecem milhares de trabalhadores sazonais. Todavia, a fábrica tem sido repetidamente alvo de escrutínio público devido a uma série de questões problemáticas, que incluem casos de suicídios, conflitos durante os períodos de lockdown da Covid-19 e queixas contínuas sobre salários e as próprias condições de trabalho.

Outra prática apontada pelo relatório, válida até este mês, era a obrigatoriedade de um exame de raio-x como parte do procedimento de saúde para novos contratados. Segundo a CLW, essa exigência funcionava, na prática, como um impedimento para que mulheres grávidas se candidatassem, reforçando as alegações de discriminação. A Foxconn utiliza a flexibilidade oferecida pelos contratos temporários para ajustar sua força de trabalho aos ciclos flutuantes de demanda e às crescentes exigências da Apple sobre a localização da montagem dos iPhones. A empresa, por exemplo, tem buscado diversificar sua produção fora da China, com o objetivo interno de montar todos os iPhones destinados aos EUA na Índia até o próximo ano, em resposta às tarifas impostas pelo então presidente Donald Trump. Li Qiang da CLW conclui que “A guerra comercial criou grande incerteza para os pedidos. Até o último momento, não está claro se a Apple alocará a produção para a Índia ou para fábricas chinesas.” Embora persigam diversos desafios, a CLW registrou algumas pequenas melhorias, como uma leve diminuição na média de horas extras e, diferentemente da investigação de cinco anos atrás, não encontrou evidências de trabalhadores menores de idade neste novo ciclo.

Os padrões estabelecidos por organizações internacionais como a Organização Internacional do Trabalho (OIT) buscam assegurar condições dignas para todos os trabalhadores, independentemente do setor ou da localização geográfica, sublinhando a importância da fiscalização e da conformidade. Casos como este na cadeia de produção de tecnologia reforçam a necessidade contínua de transparência e de ações concretas para erradicar as violações trabalhistas.

Confira também: artigo especial sobre leis e valortrabalhista

A situação dos trabalhadores que montam iPhones na China, com relatos de longas jornadas e discriminação, continua a ser um ponto de atenção crucial para a indústria global e para os consumidores. Fique por dentro de outras análises aprofundadas sobre economia global e impactos sociais acompanhando nossa editoria de Economia.

Crédito da imagem: Maxim Shemetov/Reuters

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