O Japão tem consolidado sua posição como uma nação de alta longevidade, registrando em 2023 um recorde de quase 100 mil pessoas com 100 anos ou mais. Um dado notável revela que a vasta maioria desses longevos, precisamente 88%, são mulheres, reforçando o cenário de que as mulheres centenárias no Japão representam a maior parcela dessa faixa etária e consolidando um marco global na expectativa de vida.
De acordo com anúncios recentes do governo japonês, o país atingiu o marco de 99.763 indivíduos com um século de vida ou mais. Esta é a 55ª vez consecutiva que o Japão supera seu próprio recorde no número de centenários, um feito notável que sublinha as condições de saúde e o estilo de vida que contribuem para uma das maiores expectativas de vida do mundo. A revelação foi feita na sexta-feira, 12 de setembro, pelo Ministério da Saúde japonês, detalhando que, dentre esse total, a expressiva maioria de 88% corresponde ao contingente feminino.
Japão Alcança Recorde de Mulheres Centenárias na População
O Japão é mundialmente reconhecido por sua longevidade populacional, abrigando frequentemente a pessoa mais velha do planeta, apesar de debates internacionais sobre a precisão de dados globais de centenários. É, igualmente, uma das sociedades com o ritmo de envelhecimento mais acelerado. Os hábitos alimentares dos japoneses, tendem a ser significativamente mais saudáveis, mas o país também enfrenta uma baixa taxa de natalidade. A pessoa mais idosa atualmente residente no Japão é Shigeko Kagawa, uma mulher de 114 anos que vive no subúrbio de Yamatokoriyama, na cidade de Nara. No que diz respeito aos homens, Kiyotaka Mizuno, de 111 anos, morador da cidade costeira de Iwata, é o mais idoso documentado.
O ministro da Saúde do Japão, Takamaro Fukoka, estendeu suas felicitações a todas as 87.784 mulheres e 11.979 homens que atingiram ou superaram a marca de 100 anos de idade. Ele manifestou “gratidão por seus muitos anos de contribuições para o desenvolvimento da sociedade”, uma deferência cultural que reflete o profundo respeito aos idosos no país. Estas estatísticas foram estrategicamente divulgadas para coincidir com a celebração do Dia do Idoso, uma data comemorativa anualmente observada em 15 de setembro. Nessa ocasião especial, os novos centenários japoneses são agraciados com uma carta de congratulações e uma caneca de prata, ambos presentes simbólicos enviados pelo primeiro-ministro do Japão. Este ano, um total de 52.310 indivíduos foram qualificados para receber esta distinção, segundo os registros oficiais do Ministério da Saúde.
Evolução da Longevidade: De Minoria a Recorde Global
A trajetória do Japão em relação à sua população centenária é um testemunho de transformações sociais e de saúde profundas. Na década de 1960, o país era o membro do G7 com a menor proporção de indivíduos com mais de 100 anos, uma realidade distante do cenário atual. Desde então, o panorama demográfico japonês experimentou uma mudança notável e drástica. Quando as autoridades começaram a registrar sistematicamente o número de centenários em 1963, a nação contava com apenas 153 pessoas nessa faixa etária. Em menos de duas décadas, em 1981, esse número saltou para 1.000 e, por volta de 1998, a população centenária japonesa já ultrapassava os 10.000, evidenciando uma ascensão exponencial na longevidade média.
Dieta, Hábitos e o Fator Feminino na Expectativa de Vida Japonesa
A impressionante expectativa de vida no Japão é atribuída a uma combinação de fatores, notadamente a diminuição das mortes por doenças cardiovasculares e pelos tipos mais frequentes de câncer, como os de mama e próstata. O país se destaca pelos baixos índices de obesidade, um fator de risco primordial para essas e outras enfermidades crônicas. Esta particularidade dietética é caracterizada pelo baixo consumo de carne vermelha e pelo alto consumo de peixe, vegetais e legumes. Tal regime alimentar também está intrinsicamente ligado a níveis mais controlados de pressão arterial e a uma incidência reduzida de doenças vasculares. É digno de nota que a taxa de obesidade é particularmente baixa entre as mulheres, o que poderia explicar por que as mulheres japonesas desfrutam de uma expectativa de vida substancialmente maior em comparação aos homens.
Enquanto a tendência global aponta para um aumento progressivo no consumo de açúcar e sal nas dietas, o Japão contrariou essa corrente com sucesso. Campanhas de saúde pública bem-sucedidas têm sido instrumentais em convencer a população a diminuir o consumo desses ingredientes, solidificando ainda mais os benefícios de sua abordagem nutricional. Contudo, a longevidade japonesa não se restringe apenas à dieta. Os habitantes do país tendem a permanecer fisicamente ativos por mais tempo ao longo de suas vidas. É comum ver idosos japoneses caminhando e utilizando o transporte público com muito mais frequência do que seus pares em nações como os Estados Unidos e a Europa, evidenciando um estilo de vida que integra naturalmente o movimento diário. Desde 1928, o programa de ginástica diária conhecido como Rádio Taiso tem desempenhado um papel crucial na cultura japonesa. Transmitido pela televisão, este programa foi concebido para fortalecer tanto o espírito comunitário quanto a saúde pública, incentivando a prática de três minutos e meio de exercícios que são rotineiramente realizados em pequenos grupos por todo o país.

Imagem: g1.globo.com
Okinawa e as “Zonas Azuis”: Estudo da Longevidade
A ilha de Okinawa é um ponto focal nos estudos da longevidade global. O “Estudo de Centenários de Okinawa”, iniciado em 1975, representa o mais extenso estudo sobre este tema no mundo. Ao longo de cinco décadas, esta pesquisa tem analisado em profundidade dietas, regimes de exercícios físicos, genética, práticas espirituais e padrões de comportamento de mais de 3 mil indivíduos. Okinawa é uma das cinco regiões mundialmente designadas como “zonas azuis”, que são áreas onde a população é notória por viver uma vida longa e saudável até idades avançadas. As outras “zonas azuis” incluem Icaria, na Grécia; Sardenha, na Itália; Loma Linda, na Califórnia, EUA; e Nicoya, na Costa Rica. O estudo de Okinawa revela que, aproximadamente, um terço dos centenários da cidade mantém sua independência, um fator diretamente ligado à preservação de altos níveis de atividade física ao longo de suas vidas.
Ressalvas e Desafios na Contagem de Centenários
Apesar do panorama otimista sobre a longevidade, existem importantes ressalvas e desafios na coleta e interpretação dos dados sobre centenários. Projeções da Organização das Nações Unidas (ONU) para 2024 indicam que aproximadamente 720 mil centenários residem no resto do mundo, com uma estimativa de crescimento para 3,7 milhões até 2054. Espera-se que a China lidere esse ranking com 767 mil, seguida pelos Estados Unidos, Índia, Japão e Tailândia. No entanto, diversos estudos questionam a validade e a precisão dos dados globais de centenários. Sugere-se que informações incorretas, registros públicos pouco confiáveis e a ausência de certidões de nascimento em certas regiões podem inflar os números. Essa cautela não é exclusiva de outras nações; o próprio Japão já enfrentou questões similares.
Em 2010, uma auditoria conduzida pelas autoridades japonesas identificou mais de 230 mil pessoas supostamente centenárias que não puderam ser localizadas, um contingente significativo. Alguns desses indivíduos, de fato, haviam falecido décadas antes, revelando lacunas na atualização dos registros públicos. Além disso, existe a suspeita de que certas famílias deliberadamente ocultem o óbito de parentes idosos para continuar recebendo seus benefícios previdenciários. Um inquérito foi aberto na época após a descoberta dos restos mortais de Sogen Kato, tido como o homem mais idoso de Tóquio, aos supostos 111 anos. Contudo, foi revelado que seus restos estavam na residência de sua família 32 anos após sua morte real, ilustrando os desafios e a necessidade de verificação constante nesses dados demográficos que influenciam a análise de estudos da Organização Mundial da Saúde (OMS) e de outras entidades.
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A notável ascensão do Japão no número de centenários, particularmente de mulheres, é um fenômeno complexo, moldado por fatores dietéticos, culturais e sociais, ainda que a precisão dos dados demográficos continue a ser um ponto de atenção global. Para se aprofundar em mais informações sobre dados demográficos globais e o impacto da longevidade na sociedade e na economia, explore outros conteúdos relevantes em nossa editoria de Economia.
Foto: AFP via Getty Images/BBC
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