Um vasto esquema de mineração bilionário em Minas Gerais, caracterizado por corrupção e exploração ilegal, foi exposto nesta semana, revelando movimentações de cifras bilionárias. A investigação apontou o envolvimento de um complexo arranjo que incluía empresários, servidores públicos e políticos, todos sob a acusação de extrair recursos de áreas de preservação e causar impactos ambientais devastadores em troca de propina. O programa Fantástico teve acesso exclusivo a materiais em vídeo e documentos que detalham a operação criminosa.
As descobertas indicam que a teia de irregularidades não só gerou lucros exorbitantes para os envolvidos, como também resultou em uma série de prejuízos irreversíveis ao meio ambiente. A ganância dos líderes do grupo chegou a ser evidenciada em conversas internas. Um dos áudios obtidos mostra Alan Cavalcante do Nascimento, apontado como mentor da organização, vangloriando-se da quantidade de resíduos produzidos pela mineração, ao afirmar de forma irônica que “pela quantidade de rejeito que a gente tem e que vai gerar ao longo dos anos, dá para colocar piso em Belo Horizonte toda.”
Esquema de Mineração Bilionário em MG: Corrupção Desvendada
Enquanto o grupo se beneficiava financeiramente, a população de áreas diretamente afetadas enfrentava graves consequências. Em Botafogo, comunidade localizada no município de Ouro Preto, os moradores convivem com a crescente escassez de água, problema que se agravou nos últimos anos devido às atividades extrativistas. Antônio Siqueira Sobrinho, um aposentado da região, relatou que “sempre teve água, mas de uns anos para cá, ela foi diminuindo muito e cada vez ela vai diminuindo mais,” ilustrando o sofrimento imposto à população local. A empresa Patrimônio Mineração, com elos com os investigados, é apontada como responsável pela alteração profunda na paisagem de uma área reconhecida como Patrimônio da Humanidade. Em um dos episódios mais chocantes, uma gruta na Serra de Ouro Preto foi completamente soterrada durante as operações de retirada de minério, demonstrando o nível de destruição provocado.
A investigação policial detalhou que o esquema era liderado por três figuras centrais: Alan Cavalcante do Nascimento, considerado o mentor intelectual da quadrilha; João Alberto Paixão Lages, um ex-deputado estadual de Minas Gerais; e Helder Adriano de Freitas, especialista no setor de mineração. A revelação mais impactante veio da ex-mulher de Alan, que se tornou denunciante, oferecendo dados cruciais sobre as atividades ilegais. Ela revelou, entre outros detalhes, a existência de um montante de US$ 10 milhões em malas, que estavam ocultas em Alagoas, evidenciando o padrão de lavagem de dinheiro da organização.
O modus operandi do grupo incluía a estratégia de se aproximar e cooptar membros do poder público para garantir vantagens e facilitações nas operações ilícitas. Alan, em particular, é investigado por adquirir imóveis em prédios onde residiam juízas responsáveis por seus próprios processos, indicando uma tentativa clara de influência sobre o judiciário. Ele também teria tentado se aproximar de Marília Carvalho de Melo, então Secretária de Meio Ambiente de Minas Gerais, que posteriormente foi alvo de ameaças por parte de João Alberto. Marília Carvalho de Melo ressaltou a seriedade do ocorrido, declarando que sua atuação foi “de garantir a legalidade, e por isso fui ameaçada,” salientando a pressão exercida pelos criminosos para contornar a legislação ambiental e administrativa.
A rede de corrupção se estendia a várias entidades e envolvia a movimentação de vultuosas somas. A empresa Fleurs Global, responsável pelo beneficiamento do minério extraído, foi identificada como o epicentro financeiro da organização criminosa, movimentando mais de R$ 4 bilhões no período de cinco anos. As investigações revelaram que os cabeças do esquema articulavam alianças com outros funcionários públicos, que foram detidos sob a acusação de favorecer os interesses da quadrilha mediante pagamentos ilegais. Entre os servidores públicos detidos estão:
- Caio Mário Trivellato Seabra Filho, que atuava como diretor da Agência Nacional de Mineração (ANM), órgão responsável pela regulamentação do setor. Para informações sobre a fiscalização minerária no Brasil, você pode consultar o site da Agência Nacional de Mineração.
- Rodrigo de Melo Teixeira, um delegado federal, apontado como possível sócio oculto em uma das empresas que compunham o esquema.
O Fantástico, ao buscar a versão das defesas dos acusados, não conseguiu contato com os representantes de Caio Mário Trivellato Seabra Filho e Rodrigo de Melo Teixeira para comentários sobre as acusações. A Agência Nacional de Mineração, por sua vez, divulgou nota oficial em que reforçou seu compromisso com a cooperação com as autoridades responsáveis pela investigação. Outros dois servidores públicos também foram detidos em conexão com o esquema:

Imagem: g1.globo.com
- Arthur Ferreira Rezende, diretor da Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam);
- Rodrigo Gonçalves Franco, que já havia ocupado a presidência da Feam.
Os advogados de Arthur Ferreira Rezende e Rodrigo Gonçalves Franco não foram localizados para prestarem esclarecimentos acerca das detenções e acusações.
As ações judiciais resultaram na transferência de Alan, Helder e João Alberto para um presídio federal de segurança máxima em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. Este é um marco, pois representa a primeira vez que indivíduos acusados de crimes ambientais são encaminhados a uma penitenciária federal, sublinhando a gravidade e o impacto das infrações cometidas. Após a deflagração da operação, as atividades de exploração na Serra de Botafogo foram prontamente interrompidas. Especialistas em meio ambiente e geologia emitiram um alerta urgente para a necessidade crítica de iniciar e gerenciar a recuperação das áreas que foram severamente degradadas. Cristiane Castro Gonçalves, professora de Engenharia Geológica da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), enfatizou a importância de “uma região impactada que precisa de um olhar cuidadoso, com licenciamento responsável e fiscalização efetiva,” indicando o caminho para mitigar os danos e garantir a sustentabilidade futura da região.
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O desvendamento do esquema de mineração em Minas Gerais ressalta a importância da fiscalização e da transparência nas operações que impactam o meio ambiente e a sociedade. Continuaremos acompanhando as desdobramentos deste caso e outras notícias relevantes. Para mais informações sobre questões políticas, econômicas e o impacto de grandes esquemas no país, acesse a nossa editoria de Política e mantenha-se informado.
Crédito da imagem: Reprodução/TV Globo
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