A recente interação entre os ex-presidentes de Brasil e EUA, Luís Inácio Lula da Silva e Donald Trump, respectivamente, revelou não apenas uma suposta “boa química” nos bastidores, mas também trouxe à tona a evidente e cada vez maior dissonância em suas abordagens e estilos discursivos no cenário global. A complexidade por trás dos discursos de Lula e Trump na ONU foi analisada pelo historiador Rui Tavares, que apontou uma profunda lacuna de comunicação e percepção, evidenciando que a distinção entre ambos transcende a mera divergência política.
De acordo com Tavares, a distância entre as perspectivas dos dois líderes não se limita a embates ideológicos convencionais, mas abrange séculos inteiros de diferenças conceituais e atitudinais, como se cada um habitasse um “multiverso” próprio. Esta observação sugere que as interações globais são atualmente marcadas por lógicas e expectativas tão distintas que se tornam, por vezes, mutuamente ininteligíveis para observadores tradicionais.
Discursos Lula e Trump na ONU: O contraste entre duas eras
No púlpito das Nações Unidas, a retórica empregada pelos líderes internacionais costumava seguir um padrão esperado de decoro, respeito e referência a preceitos universais. O discurso do ex-presidente brasileiro Lula, neste contexto, foi percebido por Tavares como uma manifestação da oratória clássica dos líderes mundiais. Embora o teor possa gerar discordância em pontos específicos, como a posição sobre a Ucrânia ou a concordância sobre a regulamentação da internet, sua estrutura e conteúdo eram previsíveis e enraizados nas normas diplomáticas. A fala de Lula abordava temas cruciais como a defesa da ciência, a soberania nacional e o direito internacional, sem recorrer a táticas de ridicularização ou ofensa, mantendo um tom de um chefe de Estado respeitador do protocolo e das instituições globais.
Essa postura é familiar àquilo que, em tempos passados, se esperava de um representante nacional na Assembleia-Geral da ONU. A menção explícita à ciência como pilar para as discussões e decisões internacionais, o respeito pela soberania de cada país e o compromisso com o arcabouço do direito internacional compunham a espinha dorsal de um pronunciamento que muitos considerariam “normal”, dentro dos padrões estabelecidos da diplomacia contemporânea.
A Quebra de Paradigmas: O Estilo Disruptivo de Trump
Em flagrante contraste, a fala do ex-presidente americano Donald Trump na mesma Assembleia-Geral reflete uma ruptura completa com as expectativas tradicionais. O historiador Rui Tavares nota que, a essa altura, a comunidade internacional e a opinião pública já se encontram em um estado de “imunização” diante do estilo trumpista. As hipérboles, fanfarronices, presunção e atitudes consideradas de má-educação, bem como os frequentes insultos e ofensas, tornaram-se características previsíveis de suas intervenções públicas. O que antes gerava choque e consternação, como em seu primeiro discurso na ONU, hoje é recebido com uma espécie de normalização alarmante.
Para o observador atento, é preciso um esforço consciente de “desnaturalização” para reconhecer a profundidade da estranheza contida em um discurso de um presidente dos Estados Unidos que se desvia tanto das convenções. A habitual desconstrução de princípios diplomáticos e o desprezo por aquilo que seria o mínimo de cortesia política internacional representam, segundo a análise, a entrada em uma nova era discursiva, onde a retórica política assume contornos de espetáculo e individualismo desprovido de referências clássicas de comportamento de um líder global.
Coexistência Inesperada: Mundos Diferentes no Mesmo Presente
Diante da notável disparidade entre os discursos de Lula e Trump, a acusação de preconceito ou viés ideológico surge, por vezes, para tentar justificar ou criticar as perspectivas dos analistas. Contudo, Rui Tavares sustenta que o dilema não reside em um julgamento moral, mas na constatação de que dois “séculos” diferentes coexistem dentro de uma mesma época. É como se uma bifurcação histórica no passado recente tivesse originado futuros alternativos que, ao invés de ocuparem “multiversos” distintos, se sobrepõem no presente, criando uma sensação de desorientação.
Essa justaposição de realidades perceptivas resulta em que o que alguns interpretam como delírio, outros elevam à categoria de genialidade. A ausência de um consenso mínimo sobre a decência e a formalidade na conduta política dos líderes globais revela uma divisão cultural profunda, que transcende meras diferenças de políticas públicas ou econômicas. As assembleias gerais da Organização das Nações Unidas, historicamente palco para o diálogo multilateral, ilustram vividamente esta fragmentação atual das expectativas sobre liderança. Você pode saber mais sobre a importância deste fórum consultando o site oficial da ONU, onde os principais debates mundiais são registrados.

Imagem: www1.folha.uol.com.br
O Contraste com a Guerra Fria: Mudanças na Natureza da Divergência
A análise proposta por Rui Tavares convida à reflexão sobre épocas anteriores de grande divisão global. Ele recorda o período da Guerra Fria, uma era de bipolaridade em que o mundo estava nitidamente dividido em blocos ideológicos e econômicos distintos. Naquela época, cada bloco defendia um sistema social e produtivo próprio, com diferenças acentuadas na economia, organização do trabalho, moralidade e consumo. No entanto, mesmo com essas profundas divergências, os diplomatas e políticos de ambos os lados compartilhavam uma formação educacional comum e utilizavam uma linguagem protocolar inteligível por todos.
Documentos como moções e resoluções, e as formas de representação dos Estados, eram entendidas por ambas as partes, garantindo um mínimo de terreno comum para a comunicação. A natureza da divergência, portanto, era de sistema, não de cultura fundamental ou atitude comportamental. O atual cenário, por outro lado, se distingue principalmente pela polarização de culturas e atitudes. Ainda persiste um mundo onde se esperam comportamentos protocolares e civilizados de chefes de Estado. Contudo, há outro que não impõe limites às condutas, transformando o inesperado em norma e eliminando o choque diante de discursos outrora impensáveis.
Enquanto essa sobreposição de lógicas e expectativas perdurar, é a trajetória do “planeta” que possui a órbita mais excêntrica – aquele que mais se afasta das normas estabelecidas – que definirá o curso dos eventos futuros, determinando o panorama da política e diplomacia internacionais nos anos vindouros.
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Este mergulho na análise de Rui Tavares sobre os **discursos de Lula e Trump na ONU** ressalta a complexidade de um cenário global fragmentado por diferentes expectativas sobre a liderança política. Para aprofundar-se em questões geopolíticas e entender como essas dinâmicas influenciam o Brasil e o mundo, continue explorando nossa editoria de Política. Sua leitura atenta nos ajuda a desvendar as complexidades do presente e do futuro.
Crédito da imagem: Li Rui – 23.set.25/Xinhua
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