A série de incidentes fatais envolvendo procedimentos de castração gratuita em Mogi Guaçu (SP) eleva-se para oito com a confirmação da morte de mais um gato. Os felinos, submetidos à cirurgia no dia 16 de setembro, eram parte de um programa municipal de controle de natalidade. A repercussão do caso levou a prefeitura a anunciar, na última sexta-feira (19) do mesmo mês, o encerramento do contrato com a empresa terceirizada responsável pelos procedimentos cirúrgicos.
O oitavo caso lamentável envolve Ravena, uma gata de apenas 6 meses, que desenvolveu um quadro de infecção generalizada. O falecimento ocorreu na madrugada de domingo (21), apenas cinco dias após ter sido operada. Sua tutora relatou que Ravena apresentou mal-estar imediatamente após a intervenção, sendo inclusive submetida a um processo de reanimação. Após retornar para casa, o animal recusava-se a se alimentar e não manifestava a alegria habitual, o que levou a tutora a buscar atendimento em uma clínica particular da cidade. Ravena permaneceu internada por dois dias, mas infelizmente não resistiu. Exames de imagem realizados na clínica revelaram grande quantidade de líquido na região abdominal, baço rompido e o fígado comprometido, evidenciando a gravidade do quadro. Uma necropsia para identificar a causa exata da morte ainda será realizada.
Gatos Mortos Castração Mogi Guaçu: 8 Felinos Fatalecem
A tragédia de Ravena é apenas um dos múltiplos relatos chocantes. Um boletim de ocorrência já havia sido registrado na Delegacia Seccional de Mogi Guaçu na quinta-feira (18), motivado pelos óbitos de felinos de outros tutores. Além de Ravena, sua tutora também levou Flor, outra gata de 6 meses, que foi entregue morta à família no próprio dia da cirurgia. O terceiro felino levado por ela, um gato de 1 ano, não apresentou sintomas adversos após a operação, demonstrando uma inconsistência preocupante nos resultados.
Diante da crescente preocupação, a Secretaria Municipal de Bem-Estar e Defesa Animal de Mogi Guaçu informou, em 19 de setembro, que as necropsias dos animais estão em andamento para apurar as causas dos óbitos. A expectativa era de que os laudos fossem divulgados até o fim daquela semana. Em comunicado oficial, a pasta manifestou solidariedade aos tutores e declarou ter exigido que a empresa contratada ofereça todo o suporte necessário aos envolvidos. Adicionalmente, o lote da medicação utilizada durante os atendimentos será enviado para análise da fabricante, buscando identificar possíveis irregularidades ou problemas de qualidade.
A Secretaria ainda ressaltou que as castrações integram uma importante iniciativa para o controle de natalidade de cães e gatos na cidade. Curiosamente, a mesma parceria já havia resultado em “mais de 150 operações bem-sucedidas realizadas por meio deste mesmo contrato, sem intercorrências”, levantando questionamentos sobre a causa súbita dos recentes problemas. A empresa contratada para realizar os procedimentos, por sua vez, garantiu que está acompanhando o caso, que fornecerá todas as informações à prefeitura, e que suspendeu o uso dos medicamentos até a conclusão das apurações, aguardando os resultados laboratoriais.
Os relatos dos tutores afetados trazem à tona a angustiante realidade enfrentada. Ingrid Lays Rosa, tutora de dois dos gatos que faleceram, detalha que, após ser informada que “tudo estava bem”, recebeu os animais completamente desacordados. Ao indagar a profissional sobre o estado da gata, foi assegurada de que o quadro “era da anestesia”. “‘Ela tá desmaiada, é normal?’, perguntei. Ela respondeu: ‘Não, é normal, é anestesia’. Eu peguei e trouxe embora, e coloquei num tapete em casa. Deu um tempinho e eu voltei. No que eu coloquei a mão nela, ela já estava dura. Já entregaram morta”, desabafou Ingrid, reforçando que os animais eram saudáveis. Ela recorda a estranha demora na entrega dos pets após a castração e a agonia de ouvir outra pessoa recebendo a triste notícia da perda de dois de seus três gatos simultaneamente.
Marina Fernandes compartilhou uma experiência igualmente devastadora. Ela levou três gatos para o procedimento: uma fêmea e seus dois filhotes. Infelizmente, os filhotes morreram durante a cirurgia, enquanto a mãe conseguiu sobreviver. “A mãe é uma sobrevivente”, pontuou Marina, evidenciando o trauma vivido.

Imagem: infecção generalizada após castraçã via g1.globo.com
Ana Paula de Almeida, professora de educação especial que foi buscar os animais, descreveu a forma insensível com que o Secretário Nei (Claudinei) comunicou os óbitos, sem fornecer maiores explicações. “O secretário Nei só chegou pra gente e falou assim: ‘o seu morreu’. Tinha uma pessoa já lá chorando, porque tinha morrido também. Aí ele chegou em mim e falou assim: ‘você trouxe três’. Eu, na maior animação, falei ‘trouxe três’. E achei que ele fosse buscar a caixinha com os três. Aí ele falou que morreram duas. E foi só assim”, narrou a professora, visivelmente abalada. Ela ainda solicitou um documento sobre o problema e recebeu um simples papel que apontava “problema respiratório” como a causa da morte dos gatos.
A situação em Mogi Guaçu ressalta a complexidade e a seriedade dos programas de castração em massa, exigindo rigoroso controle e atenção em todas as etapas, desde a escolha da empresa prestadora de serviços até o pós-operatório dos animais. A expectativa é que as investigações em andamento tragam as respostas necessárias para evitar que novas vidas de felinos sejam perdidas em circunstâncias semelhantes, reforçando a importância do bem-estar animal. É crucial que todas as clínicas e prestadores de serviço sigam os mais altos padrões de saúde e ética veterinária, em linha com as diretrizes internacionais para o bem-estar dos animais, conforme destacado pela World Veterinary Association.
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Este triste episódio em Mogi Guaçu continua sob investigação e gera apreensão na comunidade. A transparência e a elucidação completa dos fatos são essenciais para garantir a segurança dos animais e a confiança dos tutores em programas de controle populacional tão necessários. Para mais notícias e análises sobre o que acontece em nossas cidades, continue acompanhando a editoria de Cidades do Hora de Começar.
Crédito da Imagem: Reprodução/EPTV
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