A Polícia Federal (PF) divulgou estimativas alarmantes sobre a extração de ouro ilegal no rio Madeira, nas regiões sul do Amazonas e norte de Rondônia. De acordo com os levantamentos da corporação, um total de 277 balsas e dragas clandestinas teria movimentado uma fortuna, avaliada em R$ 245,5 milhões, durante um período de sete meses de intensa atividade ilícita. Essa quantia representa apenas o valor do minério extraído ilegalmente.
Além do impacto financeiro direto da mineração ilícita, a PF calculou que os danos socioambientais resultantes dessa prática chegam a impressionantes R$ 630,9 milhões. Ao somar os prejuízos ambientais e o valor do ouro extraído, os danos totais causados pelo garimpo na área de Humaitá, no Amazonas, atingem a cifra astronômica de R$ 876,4 milhões, evidenciando a magnitude do problema enfrentado na Amazônia brasileira e os custos para o país.
PF estima R$ 245,5 mi em ouro ilegal do garimpo no Madeira
Uma ação coordenada da Polícia Federal, realizada entre os dias 8 e 19 de setembro, focou na repressão a essa atividade criminosa. Durante a operação, as 277 balsas e dragas identificadas no cálculo de danos ambientais foram destruídas. Esta foi a primeira grande iniciativa iniciada e gerenciada pelo CCPI Amazônia (Centro de Cooperação Policial Internacional da Amazônia), que foi inaugurado pelo Presidente Lula (PT) em Manaus, um dia após o início da operação, em 9 de setembro.
Operação da PF e Atuação Sem o Ibama
É importante destacar que esta operação foi executada sem a presença do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), órgão que tradicionalmente possui expertise e competências em ações desse tipo. A Polícia Federal esclareceu que a destruição das embarcações foi conduzida em estrito cumprimento de uma ordem judicial emitida pela Justiça Federal do Amazonas. Para entender a gravidade da atuação em áreas ambientalmente sensíveis e as dinâmicas de proteção do bioma, vale consultar informações adicionais sobre as responsabilidades do Ibama em fiscalização ambiental e combate ao desmatamento.
A atividade do garimpo ilegal no rio Madeira, que emprega majoritariamente o uso de dragas, não se restringe apenas a indivíduos isolados; abrange diferentes comunidades ribeirinhas na região de Humaitá, assim como proprietários de grandes equipamentos que navegam pelo rio com o propósito de explorar ouro em larga escala. Este complexo cenário gera uma forte reação popular sempre que há intervenção do Estado, complicando o processo de fiscalização.
Histórico de Resistência e Incidentes em Humaitá
Historicamente, a cada investida contra o garimpo ilegal, a população de Humaitá protagoniza protestos, evidenciando a tensão na região. Em um episódio marcante, que data de 2017, indivíduos armados atearam fogo à unidade do Ibama na cidade, em uma clara retaliação a uma ação de combate à mineração ilícita. Desde então, o prédio do órgão ambiental permanece abandonado e inoperante, simbolizando a fragilidade do controle estatal diante da persistente resistência garimpeira.
Durante a mais recente operação policial, especificamente no dia 15 de setembro, a Polícia Federal realizou uma ação considerada inédita: o ateamento de fogo em nove dragas de grande dimensão que estavam ancoradas diretamente em frente à cidade, além de diversas balsas de menor porte. Relatos de moradores de Humaitá com ligações ao garimpo indicam que nunca antes uma destruição em tal escala havia ocorrido nessa parte específica do rio. Uma tática comum e previamente empregada pelos proprietários dessas estruturas era justamente ancorar as dragas e balsas em áreas urbanas, onde, tradicionalmente, as operações de fiscalização tendiam a evitar intervenções diretas devido ao elevado risco de confrontos e distúrbios sociais.
Confrontos e Estratégias de Garimpeiros para Evasão
Com o apoio de 30 Policiais Militares da Força Nacional de Segurança Pública e da Polícia Rodoviária Federal (PRF), foi possível proceder com a destruição das dragas estacionadas no perímetro urbano de Humaitá. No entanto, o clima de animosidade em Humaitá foi palpável, com parte significativa das pessoas presentes na orla do rio Madeira protestando ativamente contra a atuação da PF e contra as forças de segurança.
Para tentar frustrar a destruição de suas embarcações pelos agentes policiais, os garimpeiros adotaram uma tática de afundamento intencional de seus equipamentos. Ao passarem por Humaitá no dia 15, as equipes da PF identificaram aproximadamente 40 dragas e balsas que haviam sido parcialmente submersas, uma estratégia que visava protegê-las do fogo policial e dificultar a ação repressiva. As dragas destruídas durante a operação foram avaliadas pela PF em R$ 20 milhões. De acordo com as investigações, os garimpeiros levam cerca de quatro meses para reconstruir estruturas desse tipo, o que, segundo cálculos da polícia, resultaria em um lucro cessante estimado em R$ 171,8 milhões para os criminosos nesse período de inatividade forçada.
O delegado Paulo Henrique Oliveira, que coordena o CCPI Amazônia, enfatizou um dos principais propósitos da ação policial: “Um dos objetivos da operação é identificar proprietários de dragas que ganham lucros milionários às custas da degradação ambiental”. Ele reiterou a necessidade premente da destruição das embarcações para erradicar a prática ilegal, argumentando que é inviável tanto a remoção dessas grandes estruturas do rio Madeira quanto a sua permanência sob a custódia dos próprios garimpeiros. Oliveira sublinhou ainda que o principal dano a ser mitigado urgentemente é a contaminação do rio e, consequentemente, da saúde das comunidades ribeirinhas pela grande quantidade de mercúrio utilizado no processo de mineração.
Ciclos Anteriores de Garimpo Ilegal no Rio Madeira
A situação de garimpo ilegal no rio Madeira não é recente. Um ano antes da recente operação da PF, durante a maior estiagem já registrada no rio Madeira, a região testemunhou uma das mais intensas ondas de garimpo ilegal movidas por dragas e balsas. Em um trecho de aproximadamente 100 km, que parte de Humaitá, havia, na época, mais de 100 embarcações em operação ostensiva. Dentre estas, 25 dragas eram de grande porte, algumas dotadas de confortáveis hospedagens, sistemas de ar-condicionado na parte superior, motores hidráulicos de alta potência, comandos automatizados e, notoriamente, o uso disseminado e ostensivo de mercúrio. Outra parcela significativa de dragas menores, popularmente denominadas balsas, estava em fase de reconstrução ou inoperante à época daquela constatação.
É alarmante que a intensa atuação dessas dragas no rio Madeira, no pior momento já registrado em uma estiagem na região, ocorreu em menos de 15 dias após uma operação conjunta anterior da Polícia Federal e do Ibama. Aquela ação prévia, especificamente, resultou na destruição de 459 dragas, um número expressivo que demonstra a amplitude da ilegalidade. No entanto, essa operação havia provocado um violento protesto de garimpeiros em Humaitá, em agosto de 2024, onde foram utilizados rojões para atacar os agentes e houve tentativas de invasão a prédios públicos. Tais eventos recentes demonstram a persistência, a complexidade e a violência do desafio do garimpo ilegal na região amazônica.
Confira também: artigo especial sobre redatorprofissiona
Este cenário de garimpo ilegal no rio Madeira, com seus vastos lucros e graves danos ambientais e sociais, continua a demandar ações enérgicas e coordenadas do Estado brasileiro. As operações da Polícia Federal são cruciais para coibir a exploração de ouro, que compromete ecossistemas vitais e a saúde de inúmeras comunidades ribeirinhas vulneráveis. Para mais análises e reportagens sobre a atuação da segurança pública e questões ambientais na Amazônia e outras localidades do Brasil, continue acompanhando as atualizações em nossa seção de Cidades.
Crédito da imagem: Lalo de Almeida / Folhapress
🔗 Links Úteis
Recursos externos recomendados