As manifestações populares que varreram o Brasil neste domingo transcenderam a tradicional análise de força política ou apoio a figuras específicas. Segundo a observação do colunista Reinaldo Azevedo, a efervescência cívica demonstrada por milhares de pessoas por todo o país é um claro indicativo de repúdio contundente contra atos de roubo dos cofres públicos e, principalmente, das instituições que regem a nação.
Reinaldo Azevedo destaca que não é sua prática habitual utilizar manifestações de rua como único barômetro para disputas eleitorais ou para medir o apoio popular a determinados ideais. Contudo, reconhece que há quem faça essa leitura, e alerta para o risco do ridículo ao tentar estabelecer equivalências superficiais. Embora se possa argumentar uma semelhança entre o público que ocupou a Avenida Paulista e Copacabana neste domingo, focado na luta contra a impunidade, e o contingente bolsonarista presente nas celebrações de 7 de setembro, o jornalista enfatiza que tal comparação tende mais a mascarar do que a revelar a verdadeira essência dos acontecimentos.
Atos Pelo País Expressam Repúdio à Impunidade e Roubos
A profundidade e a abrangência do movimento foram notáveis. De acordo com o que foi reportado, neste último domingo, registraram-se manifestações substanciais em todas as capitais brasileiras. Cidades como Brasília, Salvador, Recife e Belo Horizonte testemunharam atos gigantescos. No total, os protestos se espalharam por 33 localidades em território nacional, sinalizando um amplo engajamento cívico. O colunista frisa a rapidez com que a mobilização foi organizada: o “grito” da rua foi convocado em apenas cinco dias após a aprovação de uma medida polêmica pela Câmara dos Deputados, vista como uma “aberração em favor da impunidade” no dia 16 do mês em questão. Este cenário surge após a Câmara dos Deputados ter aprovado uma proposta controversa que beneficia a impunidade, medida esta que pode ser acompanhada no site oficial da Câmara dos Deputados. Diferente dos grupos bolsonaristas que costumam planejar suas manifestações com significativa antecedência para orquestrar campanhas massivas nas redes e na conscientização pública, os grupos de tendência “progressista” tiveram um tempo extremamente limitado, atuando na base do “vamos ou vai dar errado”.
Reinaldo Azevedo revela que ele próprio sentia um receio inicial de que a mobilização não surtisse o efeito desejado, uma cautela que ele denomina como “pessimismo prudencial”. No entanto, sua perspectiva começou a mudar ao receber a mensagem de uma amiga, pessoa com pouquíssimo interesse em política e mais afeita à literatura e música, que anunciava sua presença na Paulista. Este foi um sinal crucial que o fez perceber que “o troço pegou”, indicando uma indignação que transcendeu os círculos políticos. Sua posterior incursão pelas redes sociais apenas confirmou a intensidade e o transbordar da revolta.
Em sua análise, o jornalista pontua um “entorpecimento da razão crítica” nos dias atuais, que se soma ao terreno fértil para discursos “afascistados” ganharem projeção tanto no Brasil quanto globalmente, potencializados por plataformas que monetizam o ódio. Ele traça um paralelo com a realidade dos Estados Unidos, que em sua visão, se assemelham cada vez mais a uma autocracia. Mesmo com as instituições norte-americanas, em certa medida, protegidas dos ataques do “Ogro Alaranjado” – uma alusão ao ex-presidente Trump –, as potências econômicas, incluindo as “big techs”, demonstram complacência ou até encorajam uma postura ainda mais agressiva por parte dele, a ponto de impor sua vontade por meio de terrorismo econômico e perseguição a pensadores divergentes.
Os valores defendidos pela extrema direita, segundo Azevedo, encontram-se atualmente mais “internacionalizados” em comparação com as bandeiras progressistas. Como exemplo, o colunista cita a “heroicização” de um fascista como Charlie Kirk. Ele lamenta a brutalidade de sua morte, considerada absurda, e as implicações políticas que os grupos “fascistoides” estão colhendo dessa tragédia, aproveitando-se do infortúnio para alavancar suas narrativas.
Considerando este cenário e essa “metafísica influente”, um conceito de Umberto Eco que ele emprega, Reinaldo Azevedo classifica o sucesso das manifestações deste domingo como uma “vitória formidável” para os grupos progressistas. Ele pondera que, embora alguns analistas pudessem argumentar que o mérito das esquerdas não foi tão grandioso, e sim a “bancada do Centrão” que, ao cometer diversos equívocos, pavimentou o caminho para a reação popular, ele discorda. Reitera uma ideia que já expressou anteriormente: a gratidão aos que, “rasgando a fantasia”, se lançaram em favor da impunidade sem temor das consequências.

Imagem: noticias.uol.com.br
Recordando uma anedota de Marco Maciel, vice-presidente durante o mandato de Fernando Henrique Cardoso, que em tom de pilhéria costumava afirmar: “As consequências vêm sempre depois…”, Azevedo conclui que as consequências se manifestaram. Diante disso, se tivesse tal prerrogativa, seu conselho à Câmara seria para que continuasse a “tirar o manto diáfano da fantasia que cobre a nudez forte da verdade”, uma adaptação à realidade brasileira da epígrafe do romance “A Relíquia”, de Eça de Queirós.
É vital, em sua percepção, que os cidadãos brasileiros obtenham clareza sobre as intenções e as ações do Congresso Nacional. Isto porque a próxima legislatura dificilmente apresentará grandes distinções da atual. O colunista adverte que, sem engajamento e vigilância constante, há o risco de um avanço rumo à barbárie. Portanto, é crucial que as lideranças progressistas analisem profundamente o que motivou os eventos deste domingo e as razões da ampla mobilização popular no país, para que movimentos semelhantes possam ocorrer novamente, pois do contrário, os ladrões “arrombam os cofres e as instituições”.
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A expressiva mobilização observada em diversas cidades do Brasil sinaliza uma clara insatisfação da população com a impunidade e as fragilidades institucionais. O cenário destacado por Reinaldo Azevedo demonstra a importância da vigilância cidadã e do envolvimento ativo na esfera pública para defender os princípios democráticos. Para aprofundar a análise sobre a movimentação política no cenário nacional e os rumos da legislação brasileira, convidamos nossos leitores a explorar mais artigos em nossa seção de Política, mantendo-se sempre informados.
Imagem: Custódio Coimbra / Agência O Globo
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