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Quadrilha disfarçada desvia milhões em benefícios sociais

Uma vasta operação de fraude contra benefícios sociais, executada por uma quadrilha que se utilizava de elaborados disfarces e sofisticação digital, conseguiu burlar o sistema da Caixa Econômica Federal por aproximadamente cinco anos. O esquema criminoso dependia crucialmente da corrupção de funcionários do banco e de casas lotéricas, desviando recursos destinados a cidadãos de baixa […]

Uma vasta operação de fraude contra benefícios sociais, executada por uma quadrilha que se utilizava de elaborados disfarces e sofisticação digital, conseguiu burlar o sistema da Caixa Econômica Federal por aproximadamente cinco anos. O esquema criminoso dependia crucialmente da corrupção de funcionários do banco e de casas lotéricas, desviando recursos destinados a cidadãos de baixa renda em todo o país. A investigação, conduzida pela Polícia Federal (PF) e detalhada em reportagem do programa Fantástico, revela a complexidade da rede de estelionato que, entre outras táticas, usava imagens de crianças e pessoas vulneráveis, além de inteligência artificial, para validar cadastros falsos e acessar contas digitais.

O grupo, cuja liderança é atribuída a Felipe Quaresma Couto, desenvolveu métodos intrincados para desviar os valores, que incluíam não apenas fraudes tecnológicas, mas também a alteração da aparência dos próprios criminosos para enganar os sistemas de reconhecimento facial do banco. A atuação da quadrilha gerou prejuízos significativos aos cofres públicos e, mais importante, impactou diretamente a vida de famílias que dependem desses auxílios para sua subsistência.

Quadrilha disfarçada desvia milhões em benefícios sociais

A PF revelou que a estrutura do golpe era alicerçada por uma “parceria do crime”, onde a facilidade de acesso às contas dos benefícios era concedida com o auxílio de funcionários internos da Caixa. Uma comunicação interceptada pela polícia expôs a interação do líder da quadrilha, Felipe, com um de seus cúmplices: “16 horas o gera começa a soltar”, em uma referência a um gerente de banco cooptado. O delegado Wanderson Pinheiro da Silva, da Polícia Federal no Rio de Janeiro, ressaltou que a principal frente de ação do grupo envolvia a cooptação e coação de empregados tanto da Caixa Econômica quanto de casas lotéricas. A magnitude da corrupção é ilustrada pelo caso de um único funcionário envolvido, que chegou a receber mais de R$ 300 mil em propina. Este indivíduo era responsável por conceder aos criminosos acesso irrestrito ao aplicativo Caixa Tem, plataforma fundamental para o recebimento de diversos benefícios governamentais.

Com o acesso obtido, a quadrilha tinha a capacidade de alterar dados cadastrais e até biométricos dos legítimos titulares das contas. Conforme explicado pelo delegado Wanderson Pinheiro da Silva, os criminosos podiam acessar uma gama vasta de auxílios pagos pelo Caixa Tem, englobando o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), o Bolsa Família e o abono salarial, entre outros. Esta amplitude de atuação demonstra a profundidade da vulnerabilidade explorada e o extenso alcance das fraudes perpetradas pela organização.

O funcionamento do golpe consistia em etapas precisas: o funcionário cooptado primeiro apagava os dados dos verdadeiros beneficiários do sistema da Caixa. Em seguida, era gerado um novo cadastro, porém, mantendo informações cruciais das vítimas, como CPF, nome completo e data de nascimento. As demais informações, como e-mail, número de celular e, crucialmente, o reconhecimento facial, eram substituídas por dados dos próprios golpistas ou de “laranjas”, permitindo que o dinheiro fosse direcionado diretamente para as mãos dos criminosos. O delegado Pinheiro da Silva salientou o severo impacto social, destacando que ficar “um, dois meses sem receber um benefício assistencial” causa “todo um desgaste emocional” em famílias já fragilizadas, que são obrigadas a buscar as agências, contestar o golpe e aguardar um longo processo de ressarcimento.

Para contornar o sistema de segurança baseado em reconhecimento facial da Caixa, a quadrilha empregou várias estratégias inovadoras. A Polícia Federal descobriu que milhares de fotos usadas para validação de cadastros eram geradas por inteligência artificial. Além disso, segundo Paulo Cesar Baroni, especialista em reconhecimento facial da PF-RJ, os criminosos também usavam seus próprios rostos para as fotos de verificação. Áudios interceptados pela investigação revelaram que a principal preocupação não era alinhar as fotos com os nomes dos cadastros, mas sim garantir “uma selfie bem tirada, bem clara, bem nítida” e, idealmente, de “pessoas mais novas” para agilizar o processo. Como não era possível reutilizar a mesma biometria facial, o grupo constantemente buscava por “rostos virgens” – indivíduos que nunca haviam sido submetidos ao sistema de reconhecimento facial do banco. Estas pessoas eram muitas vezes recrutadas nas ruas, em situações de vulnerabilidade social, incluindo moradores de rua, cujas imagens eram exploradas para criar falsos clientes com dados reais de vítimas, conforme detalhou o delegado Wanderson Pinheiro da Silva. Além disso, os próprios criminosos, incluindo Felipe Quaresma e seus comparsas, adotavam disfarces – utilizando perucas loiras, pintando o rosto de preto ou alterando o corte de cabelo – para gerar novas imagens para a validação biométrica. “Vou até fazer a minha barba pra pintar a cara de novo”, relatou um dos criminosos em conversa com um cúmplice, demonstrando o nível de dedicação ao disfarce.

Quadrilha disfarçada desvia milhões em benefícios sociais - Imagem do artigo original

Imagem: g1.globo.com

Em resposta à fraude, a Caixa Econômica Federal informou que participou ativamente das investigações, denunciou o ocorrido e afastou todos os funcionários envolvidos. A instituição financeira reforçou o compromisso com a segurança de seus 140 milhões de usuários do Caixa Tem, assegurando que o sistema de segurança e reconhecimento facial é atualizado diariamente para garantir a tranquilidade. Anderson Possa, vice-presidente de segurança, logística e operações da Caixa, destacou ainda a criação de uma diretoria de cibersegurança, dedicada especificamente à prevenção e combate a crimes cibernéticos. Ele enfatizou que “o sistema de segurança é atualizado constantemente” e que há uma “transferência de inteligência e informação entre os diversos bancos” para o aprimoramento contínuo das defesas. Contudo, Wanderley Abreu Júnior, especialista em segurança da informação, ofereceu uma ponderação importante: “Nenhuma tecnologia funciona sem o ser humano”. Ele alertou que, se a “peça principal”, ou seja, o elemento humano, for “corrompida, o sistema cai”.

Felipe Quaresma Couto, que estava sob monitoramento da Polícia Federal desde 2022 e já atuava em atividades criminosas desde 2020, foi preso na última quinta-feira, dia 18, em seu local de trabalho, um bar. As evidências dos disfarces utilizados pela quadrilha, incluindo as fotos com as transformações, foram encontradas nos celulares de Felipe e de Cristiano Bloise de Carvalho, que também foi detido na operação. Atualmente, quatro outros integrantes da quadrilha permanecem foragidos. Os dois presos, Felipe e Cristiano, enfrentarão acusações por estelionato qualificado, corrupção de funcionários públicos, inserção de dados falsos em sistema e organização criminosa. Eles foram transferidos para o Complexo de Bangu e, ironicamente, tiraram novas fotos na cadeia esta semana – dessa vez, sem os disfarces e sem o sorriso de outrora.

Confira também: artigo especial sobre redatorprofissiona

O desmantelamento desta quadrilha ressalta a importância da vigilância contínua e da integração entre segurança tecnológica e investigações humanas para proteger a integridade dos programas de assistência social do Brasil. Para aprofundar-se em como o crime organizado atua nas grandes metrópoles e no interior, continue explorando nossa seção de Notícias de Cidades para mais análises e reportagens investigativas.

Crédito da imagem: Reprodução Fantástico

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