Em um movimento que desafia narrativas predominantes, cidadãos de Israel, profundamente enlutados pelos eventos de 7 de outubro de 2023, vêm clamando abertamente pelo Reconhecimento do Estado Palestino. A iniciativa, que ganhou força às vésperas da Assembleia Geral da ONU, reflete o anseio por um futuro de coexistência e segurança para ambos os povos na região.
Maoz Inon, um empresário do setor de turismo de 49 anos, exemplifica essa postura. Após a trágica perda de seus pais no ataque do Hamas a território israelense, Inon manifestou publicamente sua recusa à vingança, optando pelo caminho da reconciliação, tanto para si quanto para sua nação. Ele se alinha a milhares de compatriotas que solicitam à comunidade internacional a formalização do reconhecimento do Estado da Palestina, antes que diversos países ocidentais façam seus próprios anúncios de reconhecimento durante a vindoura Assembleia Geral das Nações Unidas.
Israelenses Clamam por Reconhecimento do Estado Palestino
Inon, que já havia participado de movimentos pacifistas há duas décadas, enfatiza que o diálogo, o perdão mútuo e o reconhecimento são pilares para garantir um futuro de paz. “Vingando a morte, não vamos devolver a vida deles. E vamos apenas intensificar o ciclo de violência, derramamento de sangue e vingança no qual estamos presos, não desde 7 de outubro, mas há um século”, declarou ele. Recordando o dia do ataque, Inon afirmou não ter se surpreendido, atribuindo o ocorrido a anos de “ocupação, opressão e muros entre nós e o outro lado”, embora admitisse nunca ter imaginado pagar um preço tão alto, mesmo em seus piores pesadelos, conforme relatado à agência AFP em Tel Aviv.
Desde então, Maoz Inon tornou-se uma voz central na nova campanha em prol do reconhecimento estatal palestino. A iniciativa enfrenta o desafio de convencer a opinião pública israelense; uma pesquisa recente do Centro de Pesquisas Pew revelou que apenas 21% dos adultos em Israel acreditam na coexistência pacífica de Israel com um Estado Palestino, o menor índice desde que a questão começou a ser monitorada em 2013.
Denominada “Não à guerra – Sim ao reconhecimento”, a campanha já angariou mais de 8.500 assinaturas de cidadãos israelenses, com a expectativa de alcançar 10.000 antes de sua apresentação na Assembleia Geral da ONU. O manifesto da campanha ressalta que “Reconhecer um Estado Palestino não é um castigo para Israel, e sim um passo em direção a um futuro mais seguro e melhor, baseado no reconhecimento mútuo e na segurança para ambos os povos.”
A organização por trás da iniciativa é o movimento cidadão israelense Zazim, que mobilizou a distribuição de milhares de cartazes e a instalação de um outdoor impactante em Tel Aviv. Raluca Ganea, cofundadora do Zazim, argumenta que o cenário pós-7 de outubro de 2023 evidenciou o colapso da doutrina de gerenciamento do conflito. Para ela, restam duas vias: “Uma é a destruição total e aniquilação do outro lado, a outra a solução de dois Estados”.
A situação em Gaza, marcada por ofensivas militares israelenses em retaliação ao ataque do Hamas e pelos trágicos relatos como os recentes ataques que resultaram na morte de pelo menos 34 pessoas, será um dos temas dominantes na Assembleia Geral da ONU, que teve início nesta segunda-feira. Notavelmente, nações como França, Reino Unido, Bélgica, Canadá e Austrália sinalizaram sua intenção de formalizar o reconhecimento do Estado Palestino durante o evento. Ganea interpreta esse reconhecimento como um avanço para erradicar a “desumanização” dos palestinos, particularmente em Gaza, concedendo-lhes a dignidade e o status equivalentes às demais nações do globo. Inon acrescenta que este passo deve ser acompanhado por ações tangíveis: “Todos os que atuam contra uma solução de dois Estados devem ser punidos, devem receber sanções”.

Imagem: g1.globo.com
A dor compartilhada une outros. Yonatan Zeigen perdeu sua mãe, Vivian Silver, uma conhecida ativista pela paz, em 7 de outubro de 2023, durante os massacres no kibutz Beeri. Zeigen narrou a experiência traumática de acompanhar a morte da mãe por telefone. Passado o sentimento de “impotência total”, ele hoje afirma com convicção que “o único futuro sustentável e viável é que ambos os povos compartilhem a terra”. Conforme Zeigen, “A libertação palestina e a segurança israelense dependem de que os palestinos obtenham seus direitos básicos”.
Contudo, essa visão contrasta diretamente com a postura do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que reiteradamente insiste que “não haverá Estado palestino”. Membros de extrema-direita de seu governo continuam a promover a expansão da colonização na Cisjordânia ocupada, estratégia que visa explicitamente a inviabilizar a criação de um futuro Estado Palestino.
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Este movimento crescente por parte de israelenses enlutados, defendendo o reconhecimento e a paz, emerge como uma das narrativas mais potentes e surpreendentes em meio ao complexo cenário geopolítico do Oriente Médio. Em suma, as vozes de reconciliação de vítimas diretas do conflito buscam pavimentar um caminho para o fim da violência e para o estabelecimento de uma paz duradoura, ancorada no reconhecimento mútuo. Continue acompanhando os desdobramentos na editoria de Política e fique por dentro dos principais acontecimentos que moldam as relações internacionais.
Foto: Associated Press/Mahmoud Illean
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