A Polícia Federal (PF) deflagrou na última quarta-feira, dia 3 de setembro de 2025, a Operação Cassandra, uma ampla ação que visava desmantelar uma complexa rede de tráfico de mulheres com fins de exploração sexual, atuante em diversos estados brasileiros e com ramificações na Europa. A ofensiva cumpriu mandados em seis estados do Brasil – Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Minas Gerais e Mato Grosso – e também na Irlanda, em cooperação com autoridades internacionais.
As investigações da PF revelaram os detalhes do modus operandi do grupo criminoso, que vinha operando ativamente desde 2017. O esquema era meticulosamente planejado, aliciando mulheres em locais estratégicos, como baladas e boates no estado de Santa Catarina. O controle sobre as vítimas, uma vez inseridas na rede, era rigoroso, caracterizando um sofisticado padrão de exploração.
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A ação resultou em um total de cinco prisões preventivas executadas em território nacional, além de outras três prisões realizadas na Irlanda, evidenciando o alcance transnacional da operação. Ademais, 30 mandados de busca e apreensão foram cumpridos nos estados brasileiros mencionados, e também foram realizadas buscas em residências e estabelecimentos ligados à organização criminosa no país europeu. Até o presente momento, a investigação aponta para a exploração de, no mínimo, 70 mulheres, muitas das quais ainda residem na Europa sob as condições impostas pelo grupo.
Organização Criminosa Estruturada e Aliciamento de Vítimas
O delegado Farnei Franco Siqueira, responsável pelo caso, destacou a existência de diversos integrantes com funções bem definidas dentro da organização criminosa. Eles eram encarregados especificamente de recrutar as jovens, abordando-as em boates, clubes e até mesmo dentro de suas comunidades de origem. A estratégia de aliciamento era direcionada pelo “perfil da menina, pelas características físicas e por uma série de circunstâncias”, segundo a apuração inicial da polícia.
As vítimas, predominantemente jovens e em situação de vulnerabilidade financeira, viajavam para a Europa com conhecimento prévio de que iriam se prostituir. No entanto, o delegado esclareceu que, ao chegarem ao destino, as condições prometidas pelos aliciadores frequentemente não se concretizavam, tornando a exploração muito mais severa do que o inicialmente previsto. Essa discrepância gerava um cenário de desamparo e controle ainda maior por parte dos criminosos sobre as mulheres.
Aspectos Financeiros e Crimes Associados
A complexidade do esquema criminoso se estendia para além do tráfico de mulheres e da exploração sexual. A Polícia Federal confirmou que o grupo também é investigado por uma série de outros delitos graves. Entre eles, destacam-se crimes de rufianismo (incentivo ou mediação da prostituição), lavagem de dinheiro, crimes contra o sistema financeiro nacional e crimes tributários.
Para ocultar a origem ilícita e usufruir dos vastos lucros obtidos com a exploração sexual, a organização criminosa empregava métodos sofisticados de lavagem de dinheiro, utilizando-se de fraudes documentais e outras artimanhas financeiras. Uma estimativa preliminar da PF sugere que cada mulher explorada poderia render à organização criminosa uma soma de aproximadamente R$ 700 mil por mês. Contudo, essa contabilidade ainda é inicial e será aprofundada ao longo da investigação, conforme salientou o delegado Siqueira, indicando a vasta dimensão econômica das atividades ilegais.
Cooperação Internacional e Alcance da Operação
A Operação Cassandra contou com um pilar fundamental de cooperação internacional. A Polícia Federal atuou em estreita parceria com a EUROPOL (Agência da União Europeia para a Cooperação Policial) e a Garda National Protective Services Bureau, força policial da Irlanda. Essa colaboração permitiu que, simultaneamente à ação brasileira, as autoridades irlandesas deflagrassem a “Operation Rhyolite”.
A Operation Rhyolite na Irlanda foi especificamente direcionada a apurar crimes praticados pelo mesmo grupo criminoso naquele país, o que demonstra a abrangência e a coordenação das investigações entre as diferentes nações. Essa ação conjunta foi crucial para a identificação, desarticulação e prisão dos envolvidos em ambos os lados do Atlântico, que utilizavam a Europa como destino principal para suas vítimas.

Imagem: g1.globo.com
Distribuição dos Mandados
Abaixo, detalhamos a distribuição dos mandados de busca e apreensão e de prisão preventiva cumpridos nos seis estados brasileiros e na Irlanda, evidenciando a capilaridade da rede criminosa:
Estado/País | Cidade | Busca e Apreensão | Prisão Preventiva |
---|---|---|---|
Santa Catarina | Florianópolis | 7 | 1 |
Santa Catarina | São José | 7 | 3 |
Santa Catarina | Camboriú | 1 | 1 |
Santa Catarina | Biguaçu | 2 | 1 |
Santa Catarina | Palhoça | 5 | – |
São Paulo | São Paulo | 1 | – |
São Paulo | Franca | 1 | – |
São Paulo | Barueri | 1 | – |
Rio de Janeiro | Rio de Janeiro | 2 | 1 |
Paraná | Curitiba | 1 | – |
Mato Grosso | Cuiabá | 1 | – |
Minas Gerais | Belo Horizonte | 1 | – |
Irlanda | Não especificado | Várias buscas | 3 |
A operação, portanto, representa um marco significativo no combate a essa modalidade de crime transnacional, demonstrando a capacidade de atuação da Polícia Federal brasileira em conjunto com agências internacionais para enfrentar organizações criminosas de grande porte. A continuidade das investigações promete aprofundar o conhecimento sobre a extensão total da rede e suas ramificações, buscando garantir a punição dos responsáveis e a proteção das vítimas.
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A apuração seguirá para detalhar as atividades de lavagem de dinheiro, identificar bens adquiridos ilicitamente e responsabilizar todos os envolvidos nesse grave esquema de exploração humana e delitos financeiros.
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Fonte: G1
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