Na última quarta-feira, 3 de setembro, o presidente da Guiana, Irfaan Ali, proclamou sua reeleição após uma expressiva vitória nas urnas. O Partido Progressista do Povo (PPP), liderado por Ali, assegurou a maior parte dos votos no país vizinho, obtendo 56% do total, em contraste com os 24% alcançados pelo segundo colocado. Esta significativa preferência popular foi observada em oito dos dez distritos da Guiana, consolidando o mandato do atual presidente.
A eleição transcorreu na segunda-feira, 1º de setembro, com a apuração dos votos sendo concluída até a quarta-feira. Os resultados rapidamente apontaram para um cenário de clara vantagem para o PPP, confirmando a declaração de vitória do líder Irfaan Ali e garantindo sua continuidade à frente do governo guianês para os próximos anos. A base de seu governo para a eleição esteve amplamente ancorada nos frutos da recente exploração petrolífera e em iniciativas sociais.
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## Irfaan Ali Comenta a Vitória Eleitoral
Em um breve pronunciamento a seus apoiadores nesta quarta-feira, o presidente reeleito, Irfaan Ali, enfatizou a clareza dos números eleitorais. Ele destacou o amplo apoio recebido e o otimismo em relação ao futuro da nação.
“Os números são claros. O PPP obteve uma vitória acachapante. Teremos uma grande maioria e estamos prontos para fazer o país avançar.”
A declaração ressalta a percepção de um mandato fortalecido, indicando que o partido está preparado para implementar suas políticas com o suporte necessário no parlamento.
## O Sistema Eleitoral e a Composição Parlamentar
O processo eleitoral da Guiana adota um sistema conhecido como voto duplo simultâneo, uma modalidade que distingue a prática de apenas quatro países globalmente, incluindo Angola, Bolívia e Uruguai. Neste sistema, os eleitores depositam seu voto unicamente no partido de sua escolha, e esse mesmo voto é subsequentemente computado para a eleição presidencial.
Até o momento, a comissão eleitoral do país não divulgou a projeção exata de quantas cadeiras cada sigla política ocupará no Parlamento. O corpo legislativo da Guiana é composto por um total de 65 assentos, e a distribuição destes postos será fundamental para a governabilidade e para a implementação das propostas do governo recém-eleito. A obtenção de uma maioria significativa pode simplificar a tramitação de projetos e a aprovação de medidas.
## O Desempenho dos Opositores
No pleito recente, o segundo partido mais votado foi o WIN (Nós Investimos na Nação), uma sigla que despontou na cena política da Guiana há apenas três meses. O WIN conseguiu atrair 24% dos votos, consolidando sua presença e obtendo a maioria em dois distritos eleitorais. O partido foi fundado pelo bilionário Azruddin Mohamed, uma figura controversa com um histórico marcante.
A ascensão do WIN representou um revés para a tradicional oposição, a Parceria da Unidade Nacional (APNU), que obteve 17% dos votos e ficou em terceiro lugar. Este resultado aponta para uma alteração no cenário político guianês, com novos atores desafiando as forças estabelecidas e angariando parte do eleitorado.
### O Papel de Azruddin Mohamed e Suas Sanções Internacionais
Azruddin Mohamed, o bilionário de 38 anos à frente do WIN, é filho do renomado magnata do garimpo de ouro Nazar Mohamed. Em 2024, Mohamed foi alvo de sanções dos Estados Unidos, fundamentadas na Lei Magnitsky. Essa mesma legislação, globalmente reconhecida por combater a corrupção e violações de direitos humanos, foi empregada para sancionar, por exemplo, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
As sanções contra Azruddin Mohamed e seu conglomerado familiar, a Mohameds Enterprise, foram justificadas pelo Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros (Ofac) americano com base em evidências de irregularidades financeiras. Conforme o Ofac, entre 2019 e 2023, a empresa teria omitido mais de 10 mil quilogramas de ouro de suas declarações de importação e exportação, o que resultou em uma evasão fiscal superior a US$ 50 milhões em impostos devidos ao governo guianês. Além disso, o órgão citou pagamentos de propinas efetuados pela família Mohamed para falsificação de documentos, visando facilitar remessas ilegais de ouro.
Em declarações à imprensa local em julho, Mohamed expressou otimismo quanto à resolução de sua situação legal nos Estados Unidos. Ele informou que possui uma equipe de advogados atuando no país e demonstrou confiança em sua remoção da lista de sanções do Ofac, na expectativa de “trabalhar conjuntamente com os EUA”. No dia da proclamação dos resultados eleitorais, apesar de comemorar o bom desempenho de seu partido, Mohamed lançou acusações, sem apresentar provas, sobre a integridade do pleito, sugerindo que o PPP teria feito uso de recursos públicos na sua campanha eleitoral.
## O Mandato de Irfaan Ali e os Benefícios do Petróleo
A reeleição do presidente Irfaan Ali encontra um dos seus pilares mais sólidos na prosperidade econômica impulsionada pela intensificação da exploração petrolífera no país. Seu governo coincidiu com os anos iniciais de aproveitamento do bloco petrolífero de Stabroek, uma empreitada conjunta das gigantes americanas Exxon Mobil e Chevron, juntamente com a chinesa CNOOC. Esta atividade impulsionou uma série de benefícios que o presidente capitalizou politicamente.
A Guiana, sob a liderança de Ali, experimentou uma fase de expansão de programas sociais e de transferência de renda, diretamente financiados pela receita do petróleo. Ele também reforçou sua imagem como o principal defensor dos interesses do país na disputa territorial com a vizinha Venezuela pela região de Essequibo. Esta área, que corresponde a aproximadamente dois terços do território guianês, é historicamente reivindicada por Caracas, e a postura firme de Ali nessa questão reverberou positivamente junto à população.
Além das questões econômicas e de soberania, o governo de Ali promoveu uma série de avanços sociais e infraestruturais. Foram implementadas políticas de educação superior gratuita e realizadas obras significativas, como a construção de novas escolas e hospitais. Estes investimentos tiveram um impacto notável no desenvolvimento humano do país, resultando em um crescimento do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) em 2022 que foi cinco vezes superior à média mundial.
A capital, Georgetown, tornou-se um canteiro de obras, com guindastes e novas construções surgindo para modernizar a infraestrutura urbana e atender à crescente demanda. A cidade presenciou a aceleração na construção de novas vias e edifícios, reflexo direto do robusto aumento de 44% no Produto Interno Bruto (PIB) do país em 2024, consolidando a Guiana como uma das economias de maior crescimento globalmente.
## Desafios e Controvérsias: O Reverso da Medalha
Embora a explosão econômica tenha sido celebrada, ela também veio acompanhada por um aumento nas denúncias de corrupção e atrasos em grandes projetos de infraestrutura. Um exemplo notável foi a construção da grande ponte sobre o rio Demerara. Apesar de o governo ter acelerado sua conclusão para uma suposta entrega na sexta-feira, 29 de agosto, às vésperas do pleito, a estrutura ainda não se encontra operacional. Essa situação levantou questionamentos sobre a transparência e a eficácia na gestão dos recursos públicos, ofuscando parcialmente o brilho do crescimento econômico. A rápida ascensão e o vasto influxo de capital, assim, impuseram novos desafios em termos de governança e fiscalização.
A complexidade da eleição e os diversos fatores em jogo, desde a riqueza do petróleo até as controvérsias políticas, pintam um retrato multifacetado da Guiana atual, onde a promessa de desenvolvimento caminha lado a lado com os desafios da corrupção e da boa governança.
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Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2025/09/presidente-da-guiana-obtem-vitoria-confortavel-e-se-declara-reeleito.shtml
Imagem: www1.folha.uol.com.br
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