O cenário político no Congresso Nacional se intensifica com a articulação de uma nova proposta de anistia para indivíduos condenados por sua participação nos atos de 8 de Janeiro de 2023. O senador Davi Alcolumbre (União-AP), que preside o Senado Federal e foi fotografado conduzindo uma sessão em 16 de julho de 2025, é o responsável por desenvolver um projeto legislativo que oferece um caminho alternativo para a situação dos sentenciados, reacendendo um debate crucial sobre as consequências dos ataques violentos às sedes dos Três Poderes em Brasília.
Este esforço de Alcolumbre, contudo, já encontra forte resistência por parte da oposição dentro do Senado. O desafio central para o senador amapaense reside na tarefa de angariar o apoio de parlamentares bolsonaristas para uma proposta que, diferentemente das expectativas de parte da base do ex-presidente, não estenderia qualquer benefício a Jair Bolsonaro (PL), caso ele venha a ser condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por uma possível tentativa de golpe de Estado. Esta iniciativa parlamentar propõe uma revisão significativa da forma como as penalidades são aplicadas, sem no entanto conceder uma anistia abrangente para todas as acusações e indivíduos envolvidos, especialmente as figuras de maior relevo político.
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Reedição e Detalhes da Proposta de Alcolumbre para o 8 de Janeiro
O projeto atualmente em gestação retoma e reconfigura uma ideia que já havia sido aventada no primeiro semestre do ano, apresentando uma abordagem renovada para a contagem e aplicação das penas. A essência da proposta é introduzir um novo mecanismo de cálculo para as sentenças dos envolvidos diretamente nos eventos do 8 de Janeiro. Ele prevê a unificação de delitos específicos em um único enquadramento criminal para aqueles que estiveram na linha de frente dos atos violentos na capital federal, uma distinção que procura diferenciar a atuação individual dos condenados.
Especificamente, o texto elaborado pela equipe de Alcolumbre propõe que crimes como “tentativa de golpe de Estado” e “abolição violenta do Estado Democrático de Direito”, que atualmente são considerados como infrações distintas na legislação penal brasileira, sejam agrupados em um crime único. Essa junção implicaria que, ao invés de cumprir penas separadas para cada uma dessas condutas, os indivíduos seriam submetidos a uma única sentença para as duas ações criminosas. A consequência prática de tal alteração seria uma significativa redução no total da pena imposta aos condenados. Essa medida poderia, assim, potencialmente viabilizar a progressão para regimes de cumprimento mais brandos, como o semiaberto ou o aberto, para vários detidos que hoje estão privados de liberdade em regime fechado.
Impacto Estratégico e a Visão dos Aliados
Para os aliados do senador Davi Alcolumbre, a concepção dessa alternativa estratégica busca desarticular parte dos argumentos defendidos pelos setores bolsonaristas, que advogam por uma anistia ampla, geral e irrestrita. Acreditam que, ao oferecer uma solução concreta para a situação de grande parte dos condenados sem abranger as acusações mais graves contra lideranças, a proposta poderia criar uma fissura no consenso da oposição. Essa fragmentação da bancada bolsonarista e seus aliados geraria um novo e polarizado debate dentro do Congresso Nacional, forçando uma divisão de posicionamentos entre os parlamentares sobre qual seria o melhor caminho para tratar os casos dos sentenciados.
Este projeto foca em mitigar as consequências para os executores diretos dos atos, sem anular a responsabilização de possíveis mandantes ou incentivadores das ações violentas. Dessa forma, enquanto atende a uma demanda por tratamento diferenciado para os participantes que agiram sob influência, por exemplo, ele mantém a separação e o endurecimento das penas para os casos que representam um ataque mais direto à institucionalidade democrática e que seriam julgados em esferas superiores. Nesses foros, como o STF, o ex-presidente Bolsonaro é investigado e possui processos em andamento que poderiam levar a uma condenação, para a qual a proposta de Alcolumbre não traria benefícios.
Cenário Político na Câmara dos Deputados e a Reação do Planalto
Enquanto o Senado discute uma proposta mais contida e cirúrgica, a Câmara dos Deputados tem presenciado um fortalecimento expressivo da movimentação em favor de uma anistia que seja, de fato, “ampla, geral e irrestrita”. Nos últimos dias, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), juntamente com importantes bancadas parlamentares, tem atuado ativamente nas negociações para consolidar esse tipo de anistia. Esta iniciativa já conta com o endosso e apoio político de partidos como o PL (partido de Jair Bolsonaro), Republicanos, União Brasil, PP e uma porção substancial do PSD. Esse alinhamento demonstra uma capacidade crescente de articulação da direita e centro-direita em torno da causa, representando um considerável poder de influência no parlamento para avançar com tal projeto.
A percepção dentro do Palácio do Planalto, que abriga o governo do presidente Lula, é de que a situação na Câmara se tornou extremamente desfavorável. Observa-se um crescente risco de que uma proposta de anistia ampla, que venha a beneficiar diretamente Jair Bolsonaro e outras figuras de destaque com pendências judiciais relativas aos atos de janeiro, possa prosperar e ser aprovada na casa. Diante deste panorama complexo, a avaliação do governo é clara: somente o Senado Federal teria a força política e o poder de manobra necessários para conter, ou pelo menos mitigar, o avanço de um projeto de anistia que atinja o ex-presidente. Essa análise estratégica leva à conclusão de que Alcolumbre, apesar dos desafios e resistências que enfrenta, possui um papel decisivo para influenciar o resultado final.

Imagem: Jefferson Rudy via g1.globo.com
Estratégia Governamental e o Papel do Senado
O governo Lula entende que será praticamente inviável para Alcolumbre e para a base governista bloquear por completo o debate sobre a anistia no Congresso. A pauta tem ganhado força considerável, especialmente na Câmara dos Deputados, indicando que a questão precisa ser enfrentada de alguma forma, sem ser simplesmente ignorada ou vetada de imediato. A estratégia, portanto, não é tentar sufocar o tema, mas sim moldá-lo e direcioná-lo para um desfecho que seja mais alinhado aos interesses e às visões do Planalto. É nesse contexto que o senador do Amapá entra como figura chave, incumbido de formular um texto alternativo à anistia geral, visando a modular o alcance da medida.
O objetivo é criar uma contraproposta que redefina os termos da discussão sobre a anistia. Ela busca focar na redução de penas para os condenados pelos atos de 8 de Janeiro, mas com a exclusão expressa de figuras como Jair Bolsonaro dos seus benefícios. Esta manobra política visa não apenas frear o avanço de uma anistia que desagrade profundamente ao governo, mas também demonstrar uma via jurídica que, por um lado, reconhece as complexidades e eventuais falhas no processo dos eventos de janeiro de 2023. Por outro lado, o projeto busca evitar conceder salvo-conduto e impunidade para os envolvidos em acusações de liderança ou articulação de golpes de Estado contra o Estado Democrático de Direito.
A equipe do presidente do Senado está ativamente trabalhando nos gabinetes do Senado, detalhando as minúcias dessa legislação que busca traçar um caminho intermediário. Esse caminho tenta atender às demandas por um desfecho judicial menos severo para alguns condenados, mas mantendo a intransigência e o rigor em relação aos casos mais emblemáticos e às principais lideranças acusadas de envolvimento. Este projeto se configura como uma peça crucial na estratégia política do governo para gerenciar as repercussões dos atos de 8 de Janeiro, equilibrando justiça e pragmatismo político em um ambiente altamente volátil e polarizado no país.
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A tensão entre as diferentes bancadas no Congresso e a clara oposição de parcelas bolsonaristas à proposta de Alcolumbre sinalizam que o caminho até uma resolução para a questão da anistia será permeado por intensas negociações e embates ideológicos. A capacidade de Alcolumbre em construir pontes e isolar a pauta pró-Bolsonaro dependerá diretamente de sua habilidade de argumentação e convencimento. Este convencimento será crucial, especialmente para aqueles que veem no projeto alternativo uma falha em proteger o ex-mandatário ou uma traição aos princípios que defendem.
A cena política continua em plena efervescência, com o projeto de anistia se firmando como um dos pontos nevrálgicos do diálogo entre o Poder Legislativo e o Poder Executivo. A busca por um desfecho que contemple diversas visões, sem desfigurar a intenção de responsabilização pelos atos golpistas, pautará os próximos movimentos de líderes e bancadas no Senado Federal, moldando o futuro político e jurídico de muitos envolvidos nos acontecimentos de 8 de janeiro de 2023.
Fonte: G1 Globo.com
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