Presenciar um desmaio, tecnicamente conhecido na medicina como síncope, pode ser um momento de grande preocupação. Este evento é caracterizado por uma perda transitória e súbita da consciência, que se resolve de forma espontânea e geralmente rápida. Sua causa primordial é a falta momentânea de oxigenação adequada no cérebro. Agir corretamente nos primeiros momentos pode ser crucial para a segurança da pessoa envolvida, diferenciando situações benignas de emergências mais graves que exigem atenção imediata.
A compreensão das causas e a distinção de um desmaio em relação a outras condições como convulsões ou paradas cardíacas são fundamentais para prestar os primeiros socorros adequados. Muitas vezes, a resposta imediata de quem assiste ao episódio pode influenciar significativamente o bem-estar e a segurança da vítima, especialmente ao evitar quedas bruscas ou complicações posteriores. Saber o que fazer, e principalmente o que não fazer, é um conhecimento valioso que pode fazer a diferença em situações inesperadas.
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Primeiros Passos Imediatos ao Presenciar um Desmaio
Ao se deparar com uma pessoa desmaiada, a primeira e mais importante medida é garantir o posicionamento correto para auxiliar na recuperação da circulação cerebral. O cardiologista Antonio Amorim, que atua como presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia no Rio Grande do Norte (RN), ressalta que é fundamental deitar a pessoa de barriga para cima. Em seguida, as pernas devem ser elevadas, permitindo que o fluxo sanguíneo retorne de maneira gradual e eficaz em direção à cabeça. Essa manobra simples contribui significativamente para restabelecer a oxigenação cerebral, que foi a principal falha que levou ao episódio de perda de consciência.
É importante, ainda, avaliar rapidamente se a condição da pessoa corresponde realmente a um desmaio ou se pode ser algo mais sério, como uma convulsão ou até mesmo uma parada cardíaca – eventos que podem ser desencadeados por condições como AVC ou infarto. Para essa verificação inicial, os seguintes passos são essenciais:
- Verificar a Respiração: Observe o movimento do tórax e do abdômen para identificar se a pessoa está respirando de forma normal.
- Checar o Pulso: Localize o pulso no pescoço, na região da artéria carótida, ou no braço. Sinta a presença e a regularidade das pulsações.
Quando Acionar Serviços de Emergência Médica
A necessidade de acionar imediatamente o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) é crucial em cenários específicos. Se, ao verificar a pessoa, não houver respiração ou pulsação perceptível, a situação configura uma emergência médica grave, indicando possivelmente uma parada cardiorrespiratória. O chamado ao SAMU (ligue 192) deve ser feito sem demora.
Adicionalmente, se a pessoa permanecer desacordada por um período superior a cinco minutos, é improvável que se trate apenas de um desmaio simples. Nesses casos, a prolongada inconsciência também é um sinal de alerta que exige avaliação médica profissional urgente. O cardiologista Luiz Aparecido Bortolotto, do InCor, também enfatiza a importância de analisar as características do pulso:
“Se o pulso estiver bom, forte, estiver presente, ele pode notar uma frequência do coração muito baixa. Isso já é um problema. E se ele estiver muito acelerado, pode significar uma arritmia.”
– Cardiologista Luiz Aparecido Bortolotto, InCor
Uma frequência cardíaca anormalmente baixa ou muito acelerada durante um desmaio ou após a verificação do pulso pode indicar problemas cardíacos subjacentes que demandam investigação médica.
Causas Subjacentes da Síncope: Batimentos e Pressão Arterial
Os desmaios podem ter suas raízes em duas principais causas fisiológicas: alterações significativas nos batimentos cardíacos ou uma queda abrupta e pronunciada da pressão arterial. Dentre estas, a hipotensão (queda da pressão) é a razão mais frequentemente observada para episódios sincopais. Na grande maioria dos casos, essas situações são consideradas benignas e não representam risco imediato à vida do indivíduo. Contudo, é vital estar ciente de que existem origens mais perigosas para a síncope, notavelmente a chamada síncope cardíaca. Essa forma particular de desmaio pode estar diretamente vinculada a arritmias severas ou a outros problemas cardíacos graves, incluindo infarto. A diferenciação entre esses cenários é crucial para determinar a necessidade de intervenção médica especializada.
Entendendo os Diferentes Tipos de Síncope
A medicina categoriza os desmaios, ou síncopes, em três tipos principais, cada um com suas características e implicações específicas:
1. Síncope Reflexa, ou Síndrome Vasovagal
Este é, de longe, o tipo mais comum de desmaio. Ele afeta uma parcela considerável da população, atingindo aproximadamente 3% a 5%, e é predominantemente observado em indivíduos jovens, na faixa etária entre 10 e 30 anos. Sua ocorrência está frequentemente associada a uma predisposição individual. A síncope vasovagal se manifesta quando a pressão arterial do indivíduo sofre uma queda, a frequência cardíaca pode aumentar e os vasos sanguíneos são pressionados. A causa subjacente dessa síncope é considerada benigna, ou seja, não representa uma ameaça séria à saúde a longo prazo.
Uma característica importante deste tipo de desmaio é a presença de sintomas prévios, que servem como “avisos” ao indivíduo. Entre eles, destacam-se:
- Tontura
- Vista turva (sensação de “escurecimento” da visão)
- Sudorese (suor frio e excessivo)
- Perda de equilíbrio
Esses sinais são cruciais porque muitas vezes ajudam a pessoa a perceber, mesmo que de forma subconsciente, que é o momento de deitar-se ou buscar apoio, o que pode prevenir uma queda brusca. O maior risco associado à síncope vasovagal é, de fato, a possibilidade de uma queda que resulte em um traumatismo cranioencefálico, como uma concussão. No entanto, a manifestação dos sintomas prodrômicos (que antecedem o desmaio) em grande parte dos casos auxilia o indivíduo a tomar precauções e, assim, evitar a queda.
Vários fatores podem atuar como gatilhos para a síncope reflexa:
- Desidratação: Manter-se hidratado é uma recomendação fundamental para quem tem predisposição, pois a água ajuda na regulação da temperatura e da pressão arterial.
- Ambientes muito quentes e aglomerados: O calor excessivo e a falta de espaço podem precipitar o desmaio.
- Dor aguda: Um estímulo doloroso intenso pode ser um gatilho.
- Emoção intensa: Situações de estresse emocional elevado ou choque.
- Ficar muito tempo em pé: A permanência prolongada na posição ereta pode comprometer o retorno venoso e a irrigação cerebral.
2. Síncope por Hipotensão Ortostática
Este tipo de síncope é mais frequentemente observada em pessoas idosas. Assim como a síncope vasovagal, ela costuma vir acompanhada de sintomas prévios que alertam o indivíduo. Os sinais incluem tontura, vista turva, sudorese e sensação de perda de equilíbrio.
A hipotensão ortostática pode ser causada por diversos fatores, entre eles:
- Uso de medicamentos: Alguns fármacos, como os prescritos para problemas de próstata e certos diuréticos, podem contribuir para a queda da pressão arterial ao mudar de posição.
- Levantar-se rapidamente: É um gatilho comum quando o indivíduo se levanta abruptamente da cama ou de uma posição sentada. Por isso, a recomendação específica para idosos é sentar-se na beira da cama por cerca de dois minutos antes de tentar se levantar, dando tempo ao corpo para ajustar a pressão arterial.
3. Síncope Cardíaca
Considerada a forma mais grave de desmaio, a síncope cardíaca caracteriza-se por ocorrer de forma súbita e, crucialmente, sem quaisquer sinais prévios que alertem o indivíduo. Diferente dos outros tipos, ela não dá “avisos” de tontura ou mal-estar antes da perda de consciência.
Os sintomas que podem acompanhar uma síncope cardíaca incluem:
- Palpitações (sensação de coração acelerado ou batendo fora do ritmo)
- Dor no peito
O principal risco dessa modalidade é a grande chance de a pessoa bater a cabeça na queda, dada a sua ocorrência inesperada. Devido à sua seriedade, a síncope cardíaca exige acompanhamento e investigação por um médico especialista. Ela pode estar intimamente associada a arritmias cardíacas complexas ou a condições graves do coração, como o infarto agudo do miocárdio, tornando-se uma emergência médica que necessita de diagnóstico e tratamento urgentes.
Orientações Práticas: O Que Fazer e O Que Evitar Durante um Desmaio
Ações corretas são determinantes para a segurança de alguém que desmaia. A lista a seguir detalha as medidas que devem ser tomadas e aquelas que devem ser evitadas:
O QUE FAZER:
- Posicione a pessoa corretamente: Deite o indivíduo de barriga para cima. Se possível e não houver contraindicação (como suspeita de trauma grave), eleve as pernas da pessoa. Esta ação ajuda no rápido retorno do sangue ao cérebro, facilitando a recuperação da consciência.
O QUE EVITAR:

Imagem: g1.globo.com
- Não jogue água no rosto: Diferentemente do que muitos acreditam, jogar água no rosto não é uma medida eficaz para fazer a pessoa acordar e não oferece benefício real.
- Não tente levantar a pessoa imediatamente: Após um desmaio, a pessoa deve permanecer deitada até sentir-se completamente restabelecida. Levantar-se rapidamente pode causar um novo episódio, pois a circulação ainda não se normalizou totalmente.
- Não ofereça alimentos, bebidas ou sal: Enquanto a pessoa estiver desacordada, qualquer tentativa de oferecer comida, bebida ou sal pode resultar em engasgos perigosos, dada a ausência de reflexos de deglutição. Além disso, não há benefício comprovado em administrar sal nesse contexto.
Distinguindo a Síncope de Outras Emergências Médicas
É de extrema importância saber diferenciar um desmaio (síncope) de outras emergências que, embora apresentem perda de consciência ou alteração de estado mental, demandam condutas de primeiros socorros distintas. A correta identificação da situação garante que a ajuda adequada seja prestada.
Lidando com Convulsões: Uma Abordagem Diferente
Em casos de convulsão, a perda de consciência é acompanhada por movimentos cíclicos e involuntários dos braços e/ou outras partes do corpo. As ações recomendadas nesses cenários são:
- Posicione a pessoa de lado: Isso é fundamental para evitar a broncoaspiração, ou seja, que em caso de vômito, o conteúdo estomacal seja inalado para os pulmões.
- Nunca coloque a mão na boca da pessoa: Durante uma convulsão, a mordida é forte e involuntária, representando risco de sérios ferimentos ao socorrista.
A Urgência da Parada Cardíaca e o Uso do DEA
Quando se trata de uma parada cardíaca, frequentemente provocada por um Acidente Vascular Cerebral (AVC) ou infarto, a ausência de pulso é o sinal crítico. Nesta situação, as medidas de emergência são extremamente urgentes:
- Acione imediatamente o SAMU: A chamada de emergência deve ser a primeira ação.
- Inicie a massagem cardíaca: A reanimação cardiopulmonar (RCP) deve ser iniciada e mantida enquanto a equipe de emergência não chega com um desfibrilador para a reanimação.
A disponibilidade de um Desfibrilador Externo Automático (DEA) no local representa um diferencial significativo. Esses aparelhos podem ser utilizados até mesmo por pessoas leigas, sem formação médica, após seguir as instruções do próprio dispositivo. Locais com grande circulação de pessoas, como centros comerciais, aeroportos, terminais rodoviários e estádios, costumam dispor desses equipamentos salvadores de vidas. Em casos de parada cardíaca, especialmente quando resultante de infarto ou AVC, cada minuto que se passa reduz drasticamente as chances de recuperação da vítima. Portanto, agir com rapidez, utilizando o DEA antes mesmo da chegada do socorro médico, é crucial para aumentar as perspectivas de sobrevida e diminuir as sequelas. É importante lembrar que, durante o uso do desfibrilador, não se deve tocar na vítima para evitar choque elétrico ao socorrista.
Reconhecendo a Hipoglicemia e a Segurança na Ajuda
Em casos de hipoglicemia, especialmente em pessoas com diabetes, há uma grande probabilidade de que a pessoa demonstre sonolência ou até mesmo uma diminuição do nível de consciência. Nestes quadros, é possível administrar um carboidrato que seja rapidamente absorvido, como suco de frutas ou algum tipo de doce, com o intuito de elevar os níveis de açúcar no sangue.
Entretanto, uma condição fundamental deve ser respeitada: a pessoa precisa estar consciente o suficiente para conseguir deglutir o alimento ou a bebida de forma segura. Jamais se deve tentar colocar algo na boca de uma pessoa que está totalmente desmaiada. Indivíduos inconscientes perdem o reflexo de engasgo, o que acarreta um elevado risco de que o alimento ou líquido siga para a traqueia (broncoaspiração), podendo obstruir as vias aéreas ou causar complicações pulmonares graves. A segurança na prestação dos primeiros socorros é sempre prioritária.
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Aprender a reconhecer os sinais de um desmaio, compreender suas possíveis causas e diferenciar essa condição de outras emergências médicas é um passo fundamental para a segurança e o bem-estar de todos. Estar preparado com o conhecimento de ações básicas de primeiros socorros pode capacitar qualquer pessoa a prestar auxílio eficaz e rápido, potencializando a chance de uma recuperação plena e segura, minimizando riscos até a chegada de profissionais de saúde, se necessário.
Com informações de G1 Globo
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