Uma entidade fundamental na assistência a pacientes oncológicos em Uberlândia, Minas Gerais, e em cidades vizinhas, a Associação do Câncer de Uberlândia (Acraac), vem lidando com um desafio crítico: a significativa redução nas doações. Essa queda nos recursos financeiros compromete diretamente a capacidade da associação de manter seus múltiplos serviços e, principalmente, de incluir novos indivíduos que buscam apoio em meio ao tratamento e recuperação do câncer. O cenário acende um alerta sobre o futuro do amparo oferecido a centenas de pessoas que enfrentam uma das jornadas mais difíceis de suas vidas.
Fundada há quase 23 anos, a Acraac se estabeleceu como um pilar de suporte em momentos de extrema vulnerabilidade para a comunidade local e regional. Atualmente, a organização contabiliza em torno de 400 pacientes cadastrados em seus registros. Em função das etapas e desdobramentos de seus respectivos tratamentos, aproximadamente 190 desses pacientes recebem atendimento direto e contínuo. Entretanto, ao estender o alcance para os familiares que também são impactados pela doença e usufruem de um acompanhamento indireto, a rede de pessoas beneficiadas pelos esforços da Acraac em Uberlândia e em mais dez municípios próximos eleva-se para a marca impressionante de dois mil indivíduos. Essa amplitude sublinha a relevância e a necessidade ininterrupta dos serviços oferecidos pela instituição, que agora se vê diante de um obstáculo financeiro sem precedentes.
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A batalha pessoal contra o câncer é complexa, e a história de Vanda Lourenço ilustra vividamente o papel indispensável da Acraac. Em janeiro de 2024, Vanda recebeu a temida notícia de um diagnóstico de câncer de mama, descrito por ela como um evento que “fez o chão sair debaixo dos meus pés”. Sua jornada, iniciada com o susto e a incerteza, transformou-se em uma luta diária. Três meses após a descoberta, a ex-inspetora pedagógica iniciou seu tratamento intensivo no Hospital do Câncer em Uberlândia, submetendo-se a procedimentos como cirurgia, sessões de quimioterapia e radioterapia. Mesmo após atravessar as fases mais agudas do tratamento, Vanda continua frequentando o hospital semanalmente para acompanhamento médico, monitorando a remissão da doença, e busca o amparo complementar oferecido pela Acraac.
Movida por uma amiga que também recebia tratamento, Vanda encontrou na Associação do Câncer um refúgio e uma fonte de suporte essencial em 2024. Sua participação na instituição, que se localiza no Bairro Martins, tornou-se parte integral de sua recuperação e bem-estar. Segundo Vanda, a consciência de “não estar sozinho no mundo” e o valor da família impulsionaram sua decisão de lutar, não apenas por si, mas também pelos seus entes queridos. Embora admita a extrema dificuldade do processo, ela enfatiza que “se a pessoa tiver um amparo, ela consegue enfrentar”. Para ela, esse apoio provém, em grande parte, da Acraac.
A Acraac distingue-se pela vasta gama de serviços assistenciais, sociais e terapêuticos, funcionando como um suporte vital em paralelo aos hospitais e às redes públicas de saúde. Vanda, por exemplo, destaca a importância da roda de conversa com a psicóloga, onde encontra um ambiente de acolhimento e escuta. Ela também valoriza as orientações da nutricionista, buscando dicas essenciais para sua dieta durante o tratamento. O trabalho da assistência social é igualmente enaltecido por Vanda, que reconhece o papel fundamental dessa área. Para ela, a associação tornou-se “um dos lugares que me sinto bem para isso, sabe?”, em referência à possibilidade de dialogar abertamente sobre suas experiências e desafios.
Os serviços oferecidos pela Acraac são abrangentes e foram estruturados para atender às múltiplas necessidades dos pacientes oncológicos e suas famílias. O acompanhamento social da entidade é rigoroso e humanizado; para receber apoio, os pacientes devem apresentar documentação que permita uma avaliação minuciosa do perfil socioeconômico da família. Essa análise é crucial para determinar o tipo e o grau de auxílio necessário, garantindo que os recursos sejam direcionados a quem realmente precisa. Entre as doações materiais, a Acraac provê cestas básicas, que asseguram a segurança alimentar das famílias; fraldas, item de primeira necessidade para muitos pacientes; suplementos alimentares, vitais para manter a força e o sistema imunológico durante os desgastantes tratamentos; e medicamentos que não são cobertos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), como analgésicos à base de morfina, essenciais para o controle da dor crônica, ou fármacos destinados a tratar comorbidades como diabetes e depressão, condições frequentemente agravadas pela experiência do câncer e seus tratamentos.
Além do suporte material e social, a Associação oferece um valioso acompanhamento jurídico. Este serviço visa auxiliar os pacientes em ações que buscam garantir o acesso a medicamentos de alto custo, que muitas vezes representam um fardo financeiro insustentável para as famílias, e que, embora previstos em direito, enfrentam burocracias ou negativas de órgãos públicos e planos de saúde. No âmbito da saúde especializada, os pacientes contam com o suporte de profissionais como nutricionistas, que auxiliam na elaboração de dietas específicas para cada fase do tratamento e recuperação; psicólogas, que promovem o bem-estar emocional e mental, com atendimentos individuais e em grupo; reumatologistas e cardiologistas. O diferencial da Acraac é que esses acompanhamentos podem ser realizados tanto na sede da instituição, proporcionando um ambiente familiar e acolhedor, quanto em visitas domiciliares, estendendo o cuidado a pacientes acamados ou com mobilidade reduzida.
A Acraac não limita sua atuação apenas à sede. Equipes dedicadas de nutrição e assistência social frequentemente se deslocam para as cidades vizinhas que também dependem de seus serviços. Essas visitas externas são facilitadas pela colaboração ativa com as secretarias municipais de saúde locais, garantindo que o apoio chegue a um público ainda maior. A associação também promove atividades terapêuticas integrativas, reconhecendo a importância da saúde holística no processo de cura. Práticas como o Reiki, técnica de harmonização energética, e o Yoga, que melhora a flexibilidade e reduz o estresse, são oferecidas como complementos aos tratamentos médicos. Adicionalmente, são desenvolvidas atividades de integração social e estimulação da criatividade, como aulas de canto, violão e crochê. Essas iniciativas visam não apenas ocupar o tempo dos pacientes de forma construtiva, mas também fomentar a socialização, o apoio mútuo entre eles e o desenvolvimento de novas habilidades, contribuindo significativamente para o bem-estar físico e emocional durante o desafiador percurso da doença.
Imagem: TV Integração via g1.globo.com
Para custear toda essa estrutura e manter a variedade de serviços essenciais, a Acraac se apoia em uma série de iniciativas contínuas. A realização de bazares e eventos beneficentes são pilares importantes na arrecadação de fundos, mobilizando a comunidade em prol da causa. Além disso, a associação estabelece parcerias estratégicas com o setor empresarial, como a colaboração com supermercados, que organizam campanhas de arrecadação de alimentos ou programas de troco solidário, nos quais os clientes podem doar o troco de suas compras para a instituição. No que diz respeito às contribuições individuais, o diretor da Acraac, Raimundo Medina, informa que elas giram em torno de R$ 12 por doador. Somando todas as fontes de receita, a associação consegue arrecadar aproximadamente R$ 120 mil por mês, um valor que, embora pareça expressivo, é constantemente desafiado pelas despesas crescentes e pela instabilidade na captação de recursos.
Medina expressa uma preocupação crescente diante da flutuação nas doações: “A gente está sempre correndo atrás de alguma coisa para não faltar recurso para o atendido.” Ele reconhece a imprevisibilidade, mencionando que “tem mês que está bom, mas tem mês que a receita despenca, depende até da situação financeira do país”. A realidade de Uberlândia e região reflete um desafio maior, onde a incerteza econômica geral se soma a uma crescente desconfiança da população em relação às entidades beneficentes. O diretor nota que “as pessoas hoje estão muito desconfiadas. Qualquer situação que ocorre, já falam: não vou ajudar vocês”. Para combater essa percepção e reforçar a credibilidade da Acraac, a direção adota uma abordagem transparente e proativa: “O que a gente faz é convidar as pessoas para virem visitar, porque não tem nada melhor do que ver com os próprios olhos e tirar as dúvidas”, conclui Medina. Essa estratégia busca estabelecer uma ponte de confiança direta com a comunidade.
Apesar de todas as dificuldades enfrentadas, Raimundo Medina reafirma o compromisso inabalável da Acraac: nenhum novo paciente é recusado em busca de apoio. A associação mantém sua sede na Rua Arthur Bernardes, nº 630, um espaço que, conforme a experiência de Vanda Lourenço, tornou-se um dos locais mais frequentados e valorizados nos últimos anos. Mesmo após alcançar o estágio de acompanhamento de remissão da doença, Vanda expressa a firme intenção de continuar sua ligação com a Acraac. Para ela, a experiência com o câncer, que abala profundamente tanto o paciente quanto sua família, é suavizada pelo acolhimento oferecido pela instituição. Vanda declara com convicção: “Com esse acolhimento que a gente tem aqui, torna tudo um pouco mais leve essa jornada. Eu vou continuar como assistida ou voluntária, com certeza!”.
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A situação atual da Acraac destaca a urgência de uma maior sensibilização da sociedade e o apoio contínuo para que a associação possa seguir desempenhando seu papel essencial. Manter as portas abertas e a qualidade dos serviços é vital para os milhares de pacientes e suas famílias que dependem diretamente dessa assistência humanizada e profissional, especialmente em um momento de tantas incertezas. A continuidade das operações da Acraac não significa apenas a garantia de tratamentos e insumos, mas a preservação da esperança e da dignidade para aqueles que lutam pela vida a cada dia.
Com informações de g1 Triângulo Mineiro
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