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Instrumentista Cesar Roversi Compartilha Detalhes de Sua Trajetória Musical e Lançamento de ‘Re Verso’ em Entrevista

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Em uma recente entrevista concedida à coluna “Música em Letras”, o proeminente instrumentista, compositor, arranjador e professor Cesar Antonio Roversi, 45 anos, ofereceu uma visão aprofundada de sua consolidada jornada artística. Atualmente docente de saxofone e flauta na Emesp Tom Jobim (Escola de Música do Estado de São Paulo), Roversi discutiu os múltiplos aspectos de sua carreira, desde a formação clássica até a exploração de ritmos brasileiros e o recente lançamento de seu álbum autoral, “Re Verso”, que apresenta seis faixas inéditas.

Para complementar a entrevista, um vídeo exclusivo gravado pela “Música em Letras” foi disponibilizado, exibindo o artista em uma performance de improvisação na faixa “Lá na Gafieira”. Essa composição, um samba-choro de sua autoria, é parte integrante do repertório do novo disco e permite aos espectadores uma amostra da expressividade musical do instrumentista.

O Começo e a Busca pelo Equilíbrio Musical

Nascido em Leme, cidade do interior paulista a aproximadamente 200 quilômetros da capital, em 18 de outubro, Roversi — um libriano — faz referência ao simbolismo de seu signo zodiacal ao discorrer sobre sua preferência por dois instrumentos específicos. O músico expressou a necessidade de equilibrar seu gosto e dedicação pelos saxofones soprano e tenor. “Gosto mais de tocar soprano e tenor”, afirmou Roversi, acrescentando que “o soprano é o que mais me sinto à vontade, talvez por ter começado com o clarinete aos sete anos de idade”. Para ele, o soprano “parece que me veste melhor”, sendo o instrumento onde se expressa “melhor”, apesar de não possuir “o som poderoso do tenor”, o qual igualmente aprecia bastante. Além de soprano e tenor, Roversi possui proficiência em sax barítono, sax alto, clarinete, flauta e flautim, demonstrando uma versatilidade notável.

Sua paixão pela composição solidificou-se ao longo de 38 anos de carreira. Os estudos formais de Cesar Roversi são extensos e diversificados. A iniciação musical deu-se com o clarinete na Banda Municipal de Leme, seguindo para o Conservatório de Música e Teatro de Tatuí. Mais tarde, ele retornaria à mesma instituição para aprofundar-se em saxofone, abrangendo os campos popular e erudito. A formação acadêmica prosseguiu em 2004 com o início do bacharelado em saxofone na Faculdade Mozarteum de São Paulo e culminou em 2017 com a pós-graduação em música popular pela UNIFACCAMP (Centro Universitário Campo Limpo Paulista).

Consolidação em Grandes Nomes da Música Brasileira

Cesar Roversi priorizou a música brasileira em diversas de suas colaborações, integrando projetos de renome como a Hermeto Pascoal Big Band, Banda Mantiqueira e Nelson Ayres Big Band. Em sua experiência de oito anos na Hermeto Pascoal Big Band, o músico atua como sax baríono, desenvolvendo um repertório exclusivamente autoral, moldado pelo conceito harmônico único de Hermeto Pascoal e enriquecido por uma vasta gama de ritmos brasileiros. Essa vivência proporciona uma sonoridade que reflete a essência da música nacional e o modo de Roversi conceber a arte musical. “Não só a Big Band, mas todos os trabalhos do Hermeto são minha principal referência na música, tanto em execução como em improvisação e composição”, declarou Roversi, pontuando que a “sua música me despertou o olhar para a cultura musical do Brasil como um todo e mostrou como podemos ser livres na música brasileira”.

No início de 2024, Roversi oficializou sua posição como músico integrante da Banda Mantiqueira, onde já atuava como substituto por uma década, tocando sax barítono, flauta e flautim. Para o músico, este grupo foi fundamental por demonstrar “como tocar uma linguagem de samba no saxofone”. Ele ressaltou que a Mantiqueira “mescla a linguagem tradicional da música brasileira com toques de modernidade, e tem muito do choro e do samba no seu repertório”. O enfoque da banda em interpretar músicas mais reconhecidas visa “criar um elo entre a canção e a música instrumental para que a banda possa atingir um público mais diverso”, uma estratégia que “tem dado muito certo”, conforme observado por Roversi.

Na Nelson Ayres Big Band, que ele integra como sax tenor desde 2018, Roversi encontra um ambiente que mistura a linguagem jazzística com a brasileira. Neste grupo, que equilibra músicas autorais e arranjos de composições de terceiros, ele relata sentir-se “livre para tocar do jeito que [ele] quiser, independente de gêneros e estilos musicais”, uma demonstração de sua adaptabilidade e amplitude estilística.

A Transição Entre o Erudito e o Popular

Além de sua presença marcante na música popular, Roversi colabora em projetos de música erudita com orquestras prestigiadas, como a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP), Orquestra Sinfônica da USP (OSUSP), Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo, Orquestra Sinfônica da TV Cultura, Orquestra Sinfônica Municipal de Santos e a Orquestra Jazz Sinfônica de São Paulo. Seu apreço pelo saxofone clássico e pela música clássica o motivou a estudar e se formar neste estilo no Conservatório de Tatuí. De 2009 a 2017, ele foi membro da Banda Sinfônica do Estado de São Paulo até a extinção do grupo. Ele destacou que “tocar saxofone em orquestra é um conceito diferente de qualquer trabalho na música popular”, diferindo “tanto na sonoridade e interpretação quanto no comportamento musical que é preciso ter dentro do grupo”. Entre os projetos eruditos, os concertos com a OSESP e a Orquestra Municipal de SP foram os que apresentaram maiores desafios, devido à execução das “Bachianas nº 2”, peça com extensos solos de sax tenor em quase toda a sua duração, exceto no último movimento, onde o sax barítono assume o protagonismo.

Questionado sobre como transita com destreza entre a música erudita e a popular, Roversi salientou a importância de “ter esses dois conceitos bem definidos”. Ele recomendou o estudo da “técnica do instrumento direcionada para cada estilo” e a “preparação do corpo”, considerando que a “entonação da sonoridade é diferente”. O músico também enfatizou a necessidade de “ouvir bastante, entender os princípios do saxofone, nos dois estilos”, e, principalmente, “muito estudo, como se fossem instrumentos diferentes”.

Discografia e Projetos Autorais Anteriores

A produção discográfica de Roversi inclui vários álbuns autorais. “Entre Linhas”, com arranjos e composições voltadas para o choro, foi lançado em 2014. Outros álbuns que ele considera autorais são os de seu trio, Código Ternário, e de um grupo que manteve enquanto residiu em Tatuí, o Mente Clara, nos quais as composições foram divididas com outros membros. Esses trabalhos incluem “Mente Clara” (2006), “São Benedito” (2009), “Intensidade” (2015) e “Quarteto Ternário” (2017).

O Conceito por Trás de “Re Verso”

O recém-lançado “Re Verso” é um álbum de música instrumental que aposta em intensas improvisações e na exploração de variados ritmos brasileiros, sem negligenciar a tradição na elaboração dos solos. Roversi explicou que “os improvisos nem sempre obedecem às cadências harmônicas e proporcionam outras atmosferas sonoras criadas no momento da improvisação”, caracterizando-o como “uma proposta de levar a música brasileira a outras esferas sonoras sem tirar o pé da tradição”.

A escolha do título “Re Verso” possui uma dupla significância. Inicialmente, Roversi dedicou-se ao choro como forma de “encontrar e reforçar a música tradicional brasileira no meu modo de tocar”, com o objetivo de utilizá-la como base para a improvisação em uma formação mais jazzística. Ele relatou que o choro “não deixa mais você sair, te contagia, e [ele] ficou tocando esse gênero por mais de 10 anos”, transformando o que era um estudo em sua principal manifestação artística. “Após muitos anos, achei que era hora de voltar à ideia inicial de tocar numa forma mais aberta e ver o que o choro tinha me proporcionado como alicerce da música tradicional brasileira para outros estilos e principalmente para a improvisação”, descreveu o instrumentista. Assim, “Re Verso é um retorno a esse ponto”, além de ser um trocadilho com seu sobrenome, que “mostra a essência da minha personalidade na música”.

Parcerias Essenciais e Colaborações de Destaque

O álbum “Re Verso” conta com o acompanhamento de um time de músicos de alto calibre: André Marques (piano), Rodrigo Digão Braz (bateria) e Alberto Luccas (contrabaixo). Roversi detalhou os motivos da escolha de cada um. André Marques, ele descreve como um “expert da música brasileira”, elogiando seu “conhecimento rítmico de vários gêneros na nossa música” e um “conceito harmônico muito rebuscado, com uma técnica perfeita”, atributos que “ajudaram a levar o som do álbum ao lugar que [ele] imaginava”. Dada a influência de Hermeto Pascoal, e para que suas composições tivessem a sonoridade e o conceito da “Música Universal”, a presença de André, que trabalha com Hermeto há anos, foi crucial. Rodrigo Digão Braz, um “parceiro de longa data” do grupo Mente Clara, foi fundamental como “terreno de estudos e desenvolvimento da música brasileira”. A sinergia entre eles é tão forte que Roversi “conhece como ele toca e ele sabe para onde vou sem sequer nos olharmos”. Alberto Luccas foi descoberto por Roversi durante um show com o baterista Nenê (Realcino Lima Filho). Impactado pela “precisão rítmica e com a sonoridade linda” de seu contrabaixo, Roversi se comprometeu a convidá-lo para gravar um álbum, consolidando uma promessa carregada por anos. Para o saxofonista, a formação com Digão, André e Alberto possibilitaria total liberdade criativa, com a segurança de que Alberto estaria lá “firme, unindo a gente por mais longe que fôssemos”.

O álbum também conta com participações especiais de Carolina Cohen, que adiciona congas em “Quarteto Ternário” e “Portal do Sabiá”, Guegué Medeiros na percussão de “Jabutuga”, e Alexandre Rodrigues com seus pífanos, também em “Jabutuga”. A colaboração de Carolina Cohen surgiu após a gravação principal, quando Roversi percebeu que algo faltava em duas faixas. Inspirado por sua audição casual das congas de Carolina em um estúdio, ele a convidou para enriquecer o álbum. O resultado foi tão satisfatório que ela agora faz parte da banda principal nos shows. Para as participações em “Jabutuga”, um forró que remete a uma melodia tradicional na segunda parte, a intenção de Roversi era evocar uma “festa de rua típica do Nordeste”, onde sons de diferentes bandas se mesclam. A expertise de Guegué Medeiros, percussionista paraibano, e de Alexandre Rodrigues, multi-instrumentista e construtor de pífanos pernambucano, foi fundamental para “reproduzir essa ideia com uma banda de pife”, com Guegué executando todos os instrumentos de percussão e Alexandre, os pífanos.

Análise Faixa a Faixa do Álbum “Re Verso”

Cesar Roversi detalhou cada faixa do álbum “Re Verso”, todas de sua autoria, exceto “No Fio da Navalha”, composta em parceria com Zé Barbeiro:

“Quarteto Ternário”

Esta faixa é descrita como um resumo do álbum, apresentando “diversidade de ritmos, mudanças de compassos, improvisação desconstrutiva abordando diferentes climas dentro da música”. A composição inicia com um samba de partido alto, evolui para um ritmo original inventado e se transforma em um samba em 5/4, compasso que diverge dos binários usuais do samba. Criada originalmente para seu trio Código Ternário em formações expandidas, a faixa é uma regravação que “faz parte dessa descoberta de como o choro [o] influenciou e transformou como músico e compositor”, explicando a inclusão de músicas que antes eram dedicadas a formações de choro.

“Lá na Gafieira”

Instrumentista Cesar Roversi Compartilha Detalhes de Sua Trajetória Musical e Lançamento de ‘Re Verso’ em Entrevista - Imagem do artigo original

Imagem: www1.folha.uol.com.br

Um samba-choro, essa música foi inspirada pela composição “Esperando a Feijoada” do guitarrista Heraldo do Monte. Roversi relatou ter sentido uma “sensação de alegria e esperança” ao ouvi-la, e desejou “passar essa mesma sensação através de uma composição”, com o claro intuito de criar “uma música para dançar”.

“Jabutuga”

Trata-se de um baião com uma “harmonia bem característica da linguagem do Hermeto Pascoal”, onde a improvisação se desenrola sobre uma estrutura harmônica simples, permitindo ao músico “explorar sons com muita liberdade, sem muitas regras”. A intenção no final da faixa era “reproduzir uma banda de pife para fazer alusão à cultura nordestina”, que exerceu forte influência em sua formação.

“Portal do Sabiá”

Esta foi a faixa que demandou maior esforço para se encontrar um arranjo adequado à formação do grupo. Roversi revelou que após um último ensaio na véspera da gravação, “chegou em casa e mudou tudo para gravarmos no dia seguinte”. Notavelmente, é a única música do álbum que incorpora “o ritmo de jazz no tema e na improvisação”, apresentando-se como “bem desafiador para solar” para o instrumentista.

“Cest Ici”

Este samba foi composto após o retorno de uma turnê internacional, período em que Roversi vivenciou um “sentimento de pertencimento à [sua] cultura”. Daí o título em francês, que significa “É aqui!”, simbolizando seu desejo de estar, viver e tocar no Brasil. A gravação inclui um solo de bateria que, sobre uma rítmica peculiar, “disfarça o tempo principal, dando a sensação de uma certa confusão rítmica, mas depois tudo se ajeita”. A música termina com uma chacarera, ritmo argentino, reforçando a ideia de união latino-americana.

“No Fio da Navalha” (Cesar Roversi e Zé Barbeiro)

A única composição não exclusivamente de Roversi no álbum, ela é uma homenagem ao violonista Zé Barbeiro. Roversi convidou Barbeiro para colaborar pois não conseguia finalizar a primeira parte da música, levando-o a compor as segunda e terceira seções. Este frevo é “extremamente desafiador para improvisar na linguagem e num andamento bastante rápido”, com a intenção final de que ele “não soe difícil, apenas bonito”.

Choro e Jazz: Pontes e Peculiaridades

Ao abordar a distinção entre choro e jazz, Cesar Roversi afirmou não se considerar “um músico de jazz no sentido do gênero musical”, apesar de seus aprofundados estudos em saxofonistas do gênero. Para ele, sua relação com o jazz se aproxima mais de “um conceito metafórico para definir flexibilidade, improvisação, afirmação, liberdade e mudanças culturais”. Atualmente mais afastado de trabalhos diretamente ligados ao choro, Roversi enfatiza que o gênero permanece intrínseco em sua musicalidade: “ele está presente em tudo que toco. Sinto que tantos anos de pesquisa e prática se solidificaram como alicerce da minha maneira de tocar”. Ele observa que, “mesmo sem tocar o gênero específico, o choro sempre aparece, seja nas notas, nas melodias ou nos ritmos”.

Roversi pontuou que choro e jazz possuem “histórias muito parecidas”, ambos originários da diáspora africana e criados por pessoas escravizadas, porém se desenvolveram de formas distintas em diferentes nações ao longo do tempo. As diferenças entre eles são diversas, mas, de seu ponto de vista, as mais relevantes são “a subdivisão (jazz em 3 e choro em 4) e a acentuação e articulação, que, numa maneira menos técnica, seria a pronúncia da frase musical”.

A contribuição de ambos os gêneros para sua formação como instrumentista foi substancial. O choro lhe proporcionou “linguagem musical brasileira, técnica mais elaborada, agilidade, melhor compreensão da harmonia e uma autoafirmação como solista”. O jazz, por sua vez, o conduziu à “liberdade na criação musical, ao desenvolvimento na improvisação e ao aperfeiçoamento da linguagem do saxofone”. Para dominar qualquer estilo musical, Roversi considera essencial “mergulhar na música, imergir, saber o que cada instrumento toca, conhecer os principais representantes de cada gênero e de onde e como esses estilos musicais foram criados e desenvolvidos”, para então, durante ou após a pesquisa, “colocar tudo no instrumento”.

Encontros Musicais Memoráveis

Ao longo de sua trajetória, Cesar Roversi dividiu o palco com inúmeros nomes de peso da música brasileira e internacional, como Leny Andrade (1943-2023), Toninho Horta, Leila Pinheiro, Francis Hime, Fabiana Cozza, Arismar do Espírito Santo, Danilo Caymmi e Mônica Salmaso. Sobre o impacto dessas experiências, ele declarou: “Todos eles me impactaram positivamente. Não vejo um impacto maior entre um e outro, apenas diferente, e todos com excepcional importância. Para minha sorte, essas experiências me proporcionaram sempre um crescimento na música como um todo”. No entanto, a artista Leny Andrade representou uma importância diferenciada para Roversi, configurando uma “realização pessoal de estar tocando com uma referência musical da minha infância e adolescência, quando a assistia pela TV, e que me impressionava muito”. Ele recordou de assistir a shows dela com Paquito D’Rivera, outro saxofonista que marcou sua formação.

Ao se referir a como o público deve interagir com “Re Verso”, que está disponível em diversas plataformas de streaming, Roversi sugeriu: “Este álbum é uma imersão na improvisação em ritmos brasileiros com muitas surpresas sonoras e músicas um pouco mais longas. É preciso ouvir com a disposição de sentir sons mais densos como parte da experiência sensorial e aproveitá-los para potencializar a sensação de relaxamento nos momentos seguintes”.

Com informações de Folha de S.Paulo

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