O ex-presidente Jair Bolsonaro, filiado ao Partido Liberal (PL), encontra-se em discussões estratégicas intensas com seus aliados para determinar se sua presença física será marcada no Tribunal do Supremo Tribunal Federal (STF). A questão central dessas deliberações é a participação presencial de Bolsonaro no julgamento da chamada “trama golpista”, processo que tem previsão de início para o dia 2 de setembro e expectativa de conclusão até o dia 12 do mesmo mês. A decisão final, segundo fontes próximas, será multifacetada, englobando avaliações de cunho político, as orientações de sua equipe de defesa e, crucialmente, as considerações sobre seu atual estado de saúde.
Bolsonaro expressou a pessoas de seu círculo mais íntimo o desejo de estar presente na corte em algumas das sessões, visando um confronto direto com os ministros que ele percebe como seus “algozes”. Esse plano, no entanto, é permeado pela ressalva de seus colaboradores, que apontam seu quadro de saúde como um potencial impedimento para concretizar tal intento. A expectativa da participação do ex-presidente no “último capítulo do processo” é estratégica: trata-se de um meio, conforme seu entorno descreve, de exibir resiliência e força, rechaçando qualquer impressão de que ele estaria acuado perante seus julgadores. Este processo específico poderá resultar em uma condenação que ultrapassa os 40 anos de reclusão, sob a grave acusação de ter sido o líder de uma tentativa de golpe de Estado.
Apesar da possibilidade de o julgamento se estender por duas semanas, a proposta daqueles que defendem a ida do ex-presidente ao tribunal não abrange o acompanhamento integral de todas as sessões. O planejamento sugere uma presença mais simbólica, concentrada nos dias mais críticos do processo, especificamente no primeiro dia das audiências e, se viável, também no último dia de deliberações.
Aspectos Legais e Processuais da Participação
Conforme as normativas vigentes, Bolsonaro, assim como os demais réus implicados no processo, detém o direito de comparecer às sessões no Supremo Tribunal Federal para acompanhar seu próprio julgamento. Contudo, em virtude de sua condição de prisão domiciliar – regime ao qual se submete desde 4 de agosto – sua participação presencial na corte requer uma autorização expressa do ministro relator do caso, Alexandre de Moraes. Esta exigência está devidamente ancorada nas disposições do Código de Processo Penal brasileiro, que estabelece os ritos para réus em regime cautelar.
A definição sobre essa participação transformou-se em um tema central nas últimas semanas, antes do marco inicial do julgamento. As conversas não se restringem ao ex-presidente e seus assessores jurídicos, mas se estendem a um grupo ampliado de aliados políticos. Nessas discussões, todos os vértices da decisão – as implicações políticas de uma presença ou ausência, a avaliação técnica da equipe de defesa sobre a melhor estratégia e os cuidados exigidos pelos critérios médicos – estão sendo exaustivamente ponderados. O desfecho dessa complexa avaliação ainda está por ser determinado, e sua proximidade intensifica as discussões em todos os níveis.
O Peso das Preocupações de Saúde na Decisão
Um dos fatores mais prementes e debatidos que podem influenciar a decisão final sobre a presença de Bolsonaro no STF é seu atual estado de saúde. Segundo relatos fornecidos por aliados próximos, o ex-presidente tem enfrentado episódios recorrentes de crises de soluço, algumas das quais evoluem para episódios de vômitos. Embora essas crises não ocorram diariamente, a intermitência do quadro de saúde é vista com preocupação, especialmente considerando a característica das sessões no Supremo Tribunal Federal, que tendem a ser prolongadas, estendendo-se por muitas horas e exigindo considerável resistência física e emocional dos presentes.
O ex-presidente permanece em prisão domiciliar desde o dia 4 de agosto e sua única saída autorizada do local ocorreu no último dia 16 do mesmo mês. Nessa ocasião, ele se deslocou para a realização de exames médicos específicos. O boletim médico subsequente, divulgado publicamente, detalhou que Bolsonaro continua em tratamento contínuo para hipertensão arterial e refluxo, além de receber medidas preventivas destinadas a evitar episódios de broncoaspiração. Esses detalhes sublinham a relevância do critério médico na avaliação de sua capacidade de suportar o rigor de uma presença prolongada em ambiente judicial.
Cálculos Políticos e a Estratégia de Resiliência
No cenário político, diversos aliados de Bolsonaro defendem veementemente sua participação presencial no julgamento como uma medida estratégica. O objetivo primário, segundo eles, é exibir publicamente o que classificam como “resiliência” frente ao “cerco do Supremo” ao ex-presidente. Argumentam que um gesto como esse permitiria a Bolsonaro “marcar uma posição” clara e direta perante a opinião pública e, de modo especial, transmitir a seus apoiadores uma mensagem política inabalável: a de que ele não “capitulou” diante do tribunal, mesmo em um contexto onde a sua condenação já é percebida como um desfecho quase “garantido” por seus próprios aliados.
Contrário à expectativa de exibição de força, esses mesmos aliados admitem a existência de um considerável cenário de incerteza em relação ao comparecimento do ex-presidente. Essa insegurança abrange múltiplos aspectos, desde as diversas interpelações e questionamentos feitos pelo ministro Alexandre de Moraes a Bolsonaro, relacionados ao estrito cumprimento das medidas cautelares que foram impostas pelo Supremo Tribunal Federal, até a incerteza intrínseca sobre o estado físico e emocional atual do ex-presidente, que poderia ser comprometido por uma presença prolongada e sob pressão em um ambiente de alta tensão judicial.
Se a decisão for pelo comparecimento ao STF, Bolsonaro replicará uma atitude que adotou em uma ocasião anterior significativa. Em março, quando houve o recebimento da denúncia que o transformou em réu no processo, o ex-presidente fez uma aparição surpreendente no tribunal, escolhendo se sentar na primeira fileira das cadeiras. Sua decisão, que à época gerou repercussão, foi tomada poucos dias antes de ele ser formalmente declarado réu no mesmo processo. Este tipo de movimento é por vezes comparado ao adotado pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que no ano anterior sentou-se à mesa da defesa em seu julgamento ocorrido em Nova York, nos EUA. É importante ressaltar que, diferentemente do Brasil, onde a presença do acusado não é estritamente obrigatória em casos penais, nos Estados Unidos a participação física do réu em processos criminais é uma exigência legal.

Imagem: www1.folha.uol.com.br
A Alternativa da Observação Doméstica e o Cenário Atual
Na eventualidade de o ex-presidente Jair Bolsonaro decidir por não comparecer fisicamente ao tribunal para o julgamento, a alternativa delineada por pessoas próximas é que ele acompanhe as sessões de sua residência, por meio da televisão. Atualmente em prisão domiciliar, ele conta com a companhia constante de sua esposa, Michelle Bolsonaro, de sua filha, Laura, e de sua enteada Letícia. Adicionalmente, seus filhos têm livre acesso à residência, estando aptos a acompanhar e apoiar o pai neste período de intenso processo judicial. Este acompanhamento seria feito a partir do conforto do lar, permitindo que o ex-presidente esteja ciente dos desdobramentos sem a exposição e o desgaste físico inerentes à presença no plenário do STF.
Diante da iminente aproximação do julgamento, um estado crescente de tensão tem se manifestado entre o ex-presidente e seu círculo mais próximo de assessores e familiares. Segundo relatos recentes, Bolsonaro tem exibido um temperamento mais irritado e manifesta um profundo sentimento de injustiça em relação aos acontecimentos judiciais que o cercam, evidenciando o impacto emocional da situação.
As visitas à residência de Bolsonaro, localizada no Jardim Botânico, em Brasília, estão sujeitas a rigorosas restrições, sendo permitida apenas uma visita por dia. Essas visitas não são apenas limitadas em número, mas também dependem de um processo burocrático que envolve a solicitação formal ao Supremo Tribunal Federal e a obtenção de autorização direta do ministro Alexandre de Moraes. Esse sistema de permissão prévia tem gerado inconvenientes, uma vez que nem sempre os solicitantes conseguem efetivar a visita nos dias que lhes são designados pelo ministro, levando a eventuais cancelamentos.
Mais recentemente, uma situação adicionou complexidade à questão das visitas. Desde o dia 15 de agosto, o ministro Moraes não tem respondido às solicitações apresentadas pela defesa de Bolsonaro a respeito de novos pedidos para que autoridades do Partido Liberal (PL) pudessem visitar o ex-presidente. A defesa buscou prioridade para que Bolsonaro pudesse conversar com líderes do partido, como o deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) e o presidente da legenda, Valdemar Costa Neto, antes do início de seu julgamento, ressaltando a importância estratégica desses encontros.
No entanto, existem exceções a essas regras rigorosas de visita. Membros familiares como irmãos, filhos e cunhados possuem livre trânsito e podem acessar a residência de Bolsonaro sem a necessidade de solicitar uma autorização prévia a Moraes, o que flexibiliza as interações dentro do círculo familiar. Nesse contexto, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) tem se mantido presente e ativo, frequentando a casa do pai logo cedo para o café da manhã e consolidando-se como o principal porta-voz do ex-presidente no cenário político.
Novos Desdobramentos e Impacto Político Recente
Paralelamente à proximidade do término do processo principal na corte, na última quarta-feira, dia 21 de agosto, um novo e significativo desenvolvimento jurídico adicionou mais um elemento de complexidade ao cenário político envolvendo o ex-presidente. A Polícia Federal (PF) formalizou o indiciamento de Jair Bolsonaro e do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), ambos sob a suspeita de obstrução do julgamento referente à trama golpista. Este indiciamento decorre de evidências obtidas na investigação policial.
O relatório divulgado pela PF, que embasa os indiciamentos, revelou a existência de trocas de mensagens entre o ex-presidente, seu filho Eduardo Bolsonaro e o pastor Silas Malafaia. O conteúdo dessas comunicações incluiu “discussões e xingamentos”, o que, por sua vez, resultou em um desgaste considerável para o grupo político liderado por Bolsonaro, expondo tensões internas e divergências. Mais do que meros conflitos pessoais, o teor dessas mensagens indicou a existência de notórias divergências relacionadas à atuação política da própria família Bolsonaro, além de uma forte desconfiança expressa por parte do deputado Eduardo Bolsonaro em relação ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP). As revelações provocaram reações significativas entre importantes expoentes do cenário político, abrangendo espectros que vão do centro à direita do espectro político nacional.
Com informações de Folha de S.Paulo
🔗 Links Úteis
Recursos externos recomendados