A mais recente divulgação dos arquivos Epstein pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos, realizada na sexta-feira, trouxe à luz milhares de documentos cruciais ligados ao falecido criminoso sexual Jeffrey Epstein. A análise inicial revela uma presença expressiva de menções ao ex-presidente democrata Bill Clinton, contrastando com a escassa referência ao então presidente Donald Trump. A notável ausência de detalhes sobre Trump gerou particular interesse, considerando as inúmeras fotografias e documentos que o envolviam em publicações anteriores ao longo dos anos. Tais materiais prévios incluíam, por exemplo, manifestos de voo que registravam o nome de Trump como passageiro do avião particular de Epstein, divulgados em fevereiro pelo Departamento de Justiça em um lote anterior de documentos.
Além das implicações políticas e das referências a figuras proeminentes, a liberação de documentos apresentou outros elementos de grande relevância. Entre eles, destaca-se uma queixa datada de 1996, protocolada junto ao FBI, que acusava Epstein de participação em atividades de “pornografia infantil”. Esta denúncia surgiu anos antes de qualquer investigação policial oficial sobre suas práticas. Maria Farmer, responsável por apresentar a queixa, lamentou em comunicado que o FBI não deu o devido seguimento às suas alegações. Farmer expressou o significado pessoal da divulgação: “Este é um momento que esperei por três décadas, mais da metade de minha vida. Quando fui ignorada e rejeitada pelo FBI em 1996, meu mundo virou de cabeça para baixo e me senti congelada no tempo”, declarou.
Arquivos Epstein revelam Clinton, poucas menções a Trump
As revelações também incluíram uma série de fotografias, embora muitas estivessem sem data e contexto claro. Essas imagens mostram celebridades como o falecido âncora Walter Cronkite, os renomados cantores Mick Jagger, Michael Jackson e Diana Ross, o empresário britânico Richard Branson e Sarah Ferguson, ex-duquesa de York. Importa salientar que nenhuma dessas personalidades foi acusada de qualquer conduta imprópria relacionada a Jeffrey Epstein, sendo suas aparições nas fotos apenas um registro visual desprovido de imputações criminais.
A decisão de liberar parcialmente os documentos nesta última sexta-feira alinhou-se com uma legislação aprovada de forma esmagadora pelo Congresso em novembro, que exigiu a total divulgação dos arquivos relacionados a Epstein. Este movimento legislativo ocorreu a despeito dos esforços persistentes, ao longo de meses, do ex-presidente Trump para manter esses documentos sob sigilo. O complexo escândalo envolvendo Epstein transformou-se em uma “ferida política” autoinfligida para Trump, que durante anos propagou teorias conspiratórias sobre o financista para sua base de apoiadores. No entanto, o volume total e a substancialidade dos novos materiais ainda são incertos, visto que grande parte da documentação relativa a Epstein já havia se tornado pública após sua morte na prisão em 2019, que foi oficialmente registrada como suicídio.
Muitos dos arquivos liberados continham extensas redações, com vários documentos de cem ou mais páginas completamente ocultos. O Departamento de Justiça reconheceu estar ainda em processo de análise de centenas de milhares de páginas adicionais para futuras divulgações. Este material engloba evidências provenientes de diversas investigações sobre as atividades de Epstein, bem como fotografias de Bill Clinton, as quais têm sido historicamente exploradas por políticos republicanos para fins de ataque. Curiosamente, a liberação parece conter poucas ou nenhuma imagem de Donald Trump, nem documentos que o citem, apesar da bem documentada amizade entre Trump e Epstein na década de 1990 e início dos anos 2000, relação que se deteriorou antes da primeira condenação de Epstein em 2008. É fundamental reiterar que Trump nunca foi formalmente acusado de irregularidades e sempre negou ter conhecimento dos crimes de Epstein, embora a luta contra crimes como o tráfico humano seja uma prioridade do Departamento de Segurança Interna, conforme indicado em seu portal oficial sobre campanhas como a Blue Campaign, que visa combater o tráfico de pessoas.
O foco na figura de Clinton por parte do Departamento de Justiça ficou evidente quando dois porta-vozes divulgaram, em plataformas de mídias sociais, imagens que supostamente mostravam o ex-presidente com vítimas de Epstein. Em resposta a esta movimentação, Angel Urena, vice-chefe de gabinete de Clinton, emitiu um comunicado alegando que a Casa Branca estaria buscando “proteger-se” ao direcionar a atenção para o ex-presidente. “Eles podem divulgar quantas fotos granuladas de mais de 20 anos quiserem, mas não se trata de Bill Clinton”, afirmou Urena, reforçando a ideia de um desvio de foco.
No mês anterior às novas divulgações, Donald Trump havia solicitado ao Departamento de Justiça uma investigação sobre os laços de Clinton com Epstein, um movimento interpretado por muitos críticos como uma tentativa de desviar o foco de seu próprio relacionamento com o financista. Entre as imagens divulgadas, Clinton é visto em uma piscina com uma pessoa cujo rosto foi borrado, e em outra cena, aparece em uma banheira de hidromassagem com uma figura semelhante, com o rosto igualmente apagado. Bill Clinton, por sua vez, expressou arrependimento por seus encontros com Epstein e sempre manteve que não tinha conhecimento das atividades criminosas do pedófilo.
Todd Blanche, procurador-geral adjunto, informou em uma carta ao Congresso que os nomes de mais de 1.200 vítimas ou seus familiares devem ser retirados dos arquivos antes da divulgação. Em um pronunciamento, a Casa Branca buscou valorizar a divulgação como uma demonstração de transparência e comprometimento com a justiça para as vítimas de Epstein, criticando gestões democratas anteriores por alegadamente não terem tomado as mesmas medidas. No entanto, esta declaração omitiu o fato de que as recentes revelações somente ocorreram devido à pressão legislativa do Congresso, após as autoridades ligadas a Trump terem declarado, no início deste ano, que nenhum arquivo adicional de Epstein seria tornado público.
A ação governamental gerou críticas imediatas por parte de alguns legisladores pela não divulgação integral de todos os arquivos. Chuck Schumer, líder da minoria democrata no Senado, declarou que “Esse conjunto de documentos altamente editados divulgados hoje pelo Departamento de Justiça é apenas uma fração de todo o conjunto de provas”. Da mesma forma, o representante republicano Thomas Massie, uma das figuras-chave por trás da legislação de divulgação, manifestou no X (antigo Twitter) que a liberação “falha grosseiramente em cumprir tanto o espírito quanto a letra da lei”, indicando uma frustração com a amplitude do material disponibilizado. Adicionalmente, a lei em questão também requeria que o Departamento de Justiça fornecesse informações detalhadas sobre a gestão da investigação de Epstein, incluindo relatórios internos e correspondências por e-mail, materiais que não pareciam fazer parte do lote de documentos entregues na sexta-feira. A legislação, contudo, permitiu a retenção de dados pessoais de vítimas e de informações que pudessem comprometer investigações em curso.
Entre os eleitores de Trump, a questão Epstein tem sido motivo de considerável frustração, com muitos acusando a gestão de encobrir os laços de Epstein com figuras poderosas e de reter detalhes sobre sua morte na prisão de Manhattan, onde ele aguardava julgamento por acusações de tráfico e abuso de meninas menores de idade. Uma pesquisa recente da Reuters/Ipsos revelou que apenas 44% dos adultos norte-americanos que se identificam como republicanos aprovam a forma como Trump abordou o caso Epstein, um contraste marcante com seu índice geral de aprovação de 82% entre o grupo. A polêmica gerou um impacto negativo na posição política de Trump antes das eleições de meio de mandato de 2026, onde o controle do Congresso estará em disputa.
No mês passado, democratas na Câmara dos Deputados tornaram públicos milhares de e-mails do espólio de Epstein, incluindo uma mensagem na qual Epstein afirmava que Trump “sabia sobre as meninas”, sem oferecer detalhes adicionais sobre o significado da declaração. Trump reagiu, acusando os democratas de explorarem o caso como uma tática de distração. No mesmo dia, republicanos na Câmara divulgaram mais e-mails, um dos quais indicava que Trump visitou a casa de Epstein várias vezes, mas “nunca recebeu uma massagem”. Divulgações anteriores já haviam mostrado que, mesmo após sua condenação em 2008, Epstein manteve contato com figuras influentes como Steve Bannon, ex-conselheiro de Trump, Larry Summers, ex-secretário do Tesouro de Clinton, Peter Thiel, cofundador do PayPal, e Andrew Mountbatten-Windsor (anteriormente Príncipe Andrew da Grã-Bretanha), que foi destituído de seu título real por suas ligações com Epstein. Representantes de Bannon, Thiel e Mountbatten-Windsor não se manifestaram sobre o assunto. Em 2023, o JPMorgan pagou US$290 milhões a algumas vítimas de Epstein, encerrando alegações de negligência no tráfico sexual, já que o banco manteve Epstein como cliente por cinco anos após sua condenação em 2008 por aliciar uma menor.
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A análise minuciosa dos arquivos Epstein e suas revelações sobre Clinton e a escassez de referências a Trump continua a ser um tópico de alta relevância, desdobrando-se com amplas implicações políticas e sociais nos Estados Unidos. Fique por dentro de todas as novidades sobre este e outros casos complexos explorando a nossa editoria de Política e acompanhando as investigações que moldam o cenário global.
Crédito da Imagem: Divulgação/Departamento de Justiça dos EUA
