Seca Extrema na Foz do Amazonas Volta a Isolar Ribeirinhos no Amapá

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A severa seca na foz do Rio Amazonas tem provocado o isolamento de diversas comunidades ribeirinhas no Amapá, especialmente as localizadas no arquipélago do Bailique, na área de Macapá. Exatamente um ano após um esforço comunitário para dragar o Canal do Livramento, os moradores se veem novamente com dificuldades de deslocamento. O fenômeno, marcado pelo intenso assoreamento dos cursos d’água, afeta diretamente a rotina dessas populações, que dependem essencialmente do transporte fluvial para atividades essenciais como ir à escola, praticar a pesca e acessar o trabalho.

Essa problemática é uma ocorrência regular, que se intensifica acentuadamente durante o período de estiagem. Com a redução do nível da água, as marés não alcançam altura suficiente para a navegação plena, e o estreitamento dos canais torna a passagem de embarcações um desafio contínuo. Vídeos registrados pelos próprios habitantes ilustram dramaticamente a transformação de áreas que antes eram leito de rio em extensões de lama e vegetação. Em um dos registros, é possível observar um residente enfrentando a lama, arrastando uma mala na tentativa de chegar a uma porção navegável do rio. Apenas embarcações de menor porte, como as rabetas, conseguem se aproximar, e mesmo assim, apenas quando as condições da maré são favoráveis.

Seca Extrema na Foz do Amazonas Volta a Isolar Ribeirinhos no Amapá

As consequências do assoreamento e da baixa hídrica são amplamente sentidas por uma vasta lista de comunidades. Entre as localidades gravemente afetadas, estão Ponta da Esperança, Capinal, Arraio, Livramento, Ilha das Marrequinhas, Equador, Campos do Jordão, Maranata, Igaçaba, Ponta do Bailique, Igarapé do Meio, Franquinho, Macedônia, Progresso e Freguesia. Em Livramento, considerada a região mais crítica, a seca já atinge uma extensão de aproximadamente seis quilômetros. Zeth Serges, uma moradora local que participou ativamente do mutirão de desassoreamento do canal em outubro do ano anterior, relata os prejuízos e transtornos causados pela interrupção do transporte.

Zeth descreve situações em que alimentos importantes se perderam devido à impossibilidade dos barcos avançarem. Ela testemunhou famílias inteiras presas com caixas de peixe que não puderam ser transportadas, exigindo que os produtos fossem abandonados na praia. Similarmente, embarcações carregadas com melancia ou banana, destinadas a Macapá, frequentemente ficam retidas, incapazes de completar o percurso. Essa interrupção não só gera perdas econômicas para os ribeirinhos, mas também dificulta o acesso a bens essenciais e compromete a segurança alimentar das famílias.

Medidas Governamentais e o Desafio da Dragagem

Diante do cenário crítico de comunidades ribeirinhas isoladas no Amapá, o secretário de Transportes do Amapá, Marcos Jucá, informou que o governo tem atuado com dragas desde o ano passado, buscando ampliar o canal e remover os sedimentos. Jucá destacou que o fenômeno nunca havia sido registrado com tal intensidade no Bailique, o que tornou indispensável a realização de um estudo técnico aprofundado para compreender a dinâmica do assoreamento. A iniciativa de dragagem, impulsionada por um investimento de R$ 9 milhões do Governo Federal, teve início em junho de 2025.

Conforme os dados apresentados, a extensão total do assoreamento atinge onze quilômetros, dos quais cinco quilômetros já foram desobstruídos, cobrindo o trecho entre Arraio e Livramento. Atualmente, as equipes concentram seus esforços no avanço em direção ao Igarapé Grande, com um quilômetro já finalizado. O secretário expressou a expectativa de concluir os trabalhos em cerca de três meses, mas ponderou sobre a incerteza do comportamento dos sedimentos com a chegada do próximo inverno, o que pode influenciar a manutenção dos resultados. Atualmente, a navegação é extremamente restrita: somente embarcações pequenas conseguem transitar durante a maré alta, e na maré baixa, a passagem é totalmente impossibilitada. Para combater essa situação, uma escavadeira anfíbia e uma draga estão sendo utilizadas na operação de abertura e manutenção do canal.

Ajuda Humanitária e o Impacto no Acesso a Recursos

Em resposta à urgência da situação das comunidades ribeirinhas, uma significativa ação de ajuda humanitária foi implementada na terça-feira, dia 16. Uma embarcação dedicada entregou um volume considerável de recursos, incluindo 100 mil litros de água potável e 2.250 cestas básicas no Bailique. Essas medidas são cruciais para aliviar o sofrimento das famílias impactadas diretamente pelo isolamento e pela escassez de suprimentos.

O acesso limitado aos cursos d’água não afeta apenas o transporte de pessoas e mercadorias, mas também a identidade e a subsistência das comunidades. Para ribeirinhos, o rio é mais do que um meio de transporte; é fonte de alimento, lazer e conexão com o mundo exterior. A perda de navegabilidade é, portanto, uma ameaça direta ao modo de vida e à cultura dessas populações tradicionais da foz do Rio Amazonas. Compreender a dimensão ambiental é vital para mitigar os efeitos das mudanças climáticas, conforme aponta o Governo Federal em suas iniciativas de preservação e desenvolvimento sustentável no contexto ambiental brasileiro.

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Imagem: g1.globo.com

A Visão Científica e os Desafios Futuros

A situação no Bailique é alvo de monitoramento constante pelo Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas (Iepa), que acompanha a região há mais de quatro décadas, utilizando imagens de satélite para documentar as mudanças. O pesquisador Orleno Marques ressalta que o processo de dragagem deve cobrir a totalidade da extensão do canal para ser verdadeiramente eficaz. Além disso, ele enfatiza a importância de um estudo de balanço sedimentar, essencial para entender a dinâmica de redistribuição do material removido e prevenir que ele se deposite novamente, assoreando o canal em outros pontos.

De acordo com Marques, o monitoramento deve ser conduzido em conjunto com as operações de dragagem, com uma “modelagem do sedimento” para garantir que o material retirado não se torne um problema em outro local. O pesquisador adverte que, sem um controle rigoroso desse processo, a questão do assoreamento é passível de retornar continuamente. Além disso, a longo prazo, o planejamento para o futuro pode ter que contemplar o eventual deslocamento de comunidades inteiras. Quando o canal assoreia, os moradores perdem sua ligação intrínseca com o rio, o que pode levá-los a “deixar de ser ribeirinhos” e a uma perda significativa de sua identidade cultural.

Bailique: Uma Região Vulnerável às Mudanças Climáticas

Os estudos do Iepa classificam o arquipélago do Bailique como uma área de grande fragilidade diante dos efeitos das mudanças climáticas, devido à sua localização estratégica em uma zona costeira. Orleno Marques reforça que o ambiente costeiro está entre os mais vulneráveis do planeta. Alterações nos padrões de chuva e elevação do nível do mar são fatores que intensificam os fenômenos já existentes na região, exacerbando os problemas enfrentados pelas comunidades ribeirinhas do Amapá. A urgência da situação exige não apenas respostas imediatas, mas também estratégias de longo prazo para garantir a resiliência e a sustentabilidade dessas populações.

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Em suma, a recorrente seca e o intenso assoreamento na foz do Rio Amazonas representam um desafio complexo para as comunidades ribeirinhas do Amapá, que enfrentam o isolamento e a interrupção de suas atividades diárias. Enquanto medidas emergenciais e programas de dragagem são implementados, a análise científica aponta para a necessidade de soluções mais abrangentes e adaptadas às realidades das mudanças climáticas. Continue explorando as notícias sobre meio ambiente, comunidades e ações governamentais em nossa editoria de Cidades.

Crédito da Imagem: Reprodução

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