Investimentos em Portos no Nordeste Transformam Logística Regional

Economia

Os investimentos em portos no Nordeste representam um marco significativo para a logística e a infraestrutura da região, com previsões de injetar mais de R$ 4 bilhões por meio de iniciativas públicas e privadas nos próximos anos. Esse aporte financeiro visa expandir drasticamente a capacidade operacional portuária, tornando-a um pilar fundamental para o escoamento da produção agropecuária e o recebimento de mercadorias destinadas ao mercado consumidor doméstico. Dados recentes da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) apontam que os dez portos organizados e os 19 terminais de uso privado (TUPs) nordestinos movimentaram um total de 330 milhões de toneladas de mercadorias em 2024, evidenciando um crescimento de 3,52% em comparação com 2023, superando a expansão nacional de 1,32%. O ano de 2024 acumulou uma alta de 1,14% até agosto, confirmando a tendência de elevação.

Essa expansão é atribuída a dois fatores primordiais. Primeiramente, a economia nordestina tem demonstrado um vigoroso crescimento, com projeções da Tendências Consultoria indicando um avanço anual do Produto Interno Bruto (PIB) regional de 3,2% entre 2027 e 2034, patamar superior à média nacional de 2,3% para o mesmo período. Em segundo lugar, os terminais portuários da região estão configurados para desempenhar um papel ainda mais estratégico no escoamento das safras. Isso inclui não apenas a produção oriunda do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), mas também cargas provenientes do Centro-Oeste brasileiro, facilitadas pela implementação de novos corredores logísticos previstos para entrar em funcionamento nos próximos anos. O Secretário Nacional de Portos, Alex Sandro de Ávila, ressalta a urgência de ampliar a oferta de capacidade portuária para atender à demanda crescente por transporte aquaviário no Nordeste.

Investimentos em Portos no Nordeste Transformam Logística Regional

A importância do Porto do Itaqui, no Maranhão, ilustra o dinamismo regional. Em 2024, o porto embarcou 17,8 milhões de toneladas de soja e milho, enquanto recebeu 4 milhões de toneladas de fertilizantes, de acordo com a Antaq. O escoamento dessas cargas agrícolas até o porto maranhense é feito majoritariamente por ferrovias, como o corredor que integra o Tramo Norte da Ferrovia Norte-Sul e a Estrada de Ferro Carajás, além do transporte rodoviário. Para fortalecer ainda mais essa infraestrutura, novos projetos estão em andamento. A Ferrovia Transnordestina, conectando o Matopiba ao porto de Pecém (CE), tem previsão de operar gradualmente entre 2027 e 2028. Recentemente, foi lançado o edital para a construção do trecho ferroviário entre Salgueiro (PE) e o Porto de Suape (PE). Para 2026, o Ministério dos Transportes planeja a licitação do corredor ferroviário Leste-Oeste, composto pelas Ferrovias de Integração Centro-Oeste (Fico) e Oeste-Leste (Fiol), interligando Lucas do Rio Verde (MT) a Ilhéus, no sul da Bahia.

A Expansão da Malha de Transportes Aquaviários e Ferroviários

A infraestrutura hídrica também ganhará reforço com duas hidrovias estratégicas. A Hidrovia do Parnaíba, com 924 km navegáveis, ligará Uruçuí (PI), importante polo de produção de grãos, ao novo porto piauiense em Luís Correia, atualmente em fase de constituição pelo governo estadual. Já a Hidrovia do Rio São Francisco, que abrange 1.371 km entre Pirapora (MG), Juazeiro (BA) e Petrolina (PE), está na mira do Ministério dos Portos e Aeroportos (Mpor) para licitação no final de 2026. A concepção dessa hidrovia inclui uma conexão em Juazeiro com a Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), que poderá levar cargas ao porto de Aratu (BA), e outra conexão em Cariacá (BA) com a Fiol, permitindo o acesso a Ilhéus ou novamente a Aratu, através de um novo trecho ferroviário a partir de Jequié (BA). Tais projetos ressaltam a visão de um sistema de transporte multimodal integrado.

No tocante aos investimentos diretos em portos, o Nordeste vivencia um robusto plano de ampliação do modal marítimo. A União destinará R$ 350 milhões para obras cruciais, como a dragagem dos portos de Suape (PE), Recife (PE) e Natal (RN), essenciais para o recebimento de embarcações de maior calado. Desde 2023, foram contratados R$ 184,75 milhões através de 11 leilões de terminais portuários. Estes incluíram três terminais de granéis sólidos no Recife e outros três de granéis líquidos e um de sólidos em Maceió (AL), além de terminais de passageiros em Maceió e Fortaleza (CE).

Futuro dos Investimentos e Novos Projetos

A expectativa é que novos leilões até o final de 2026 estimulem aportes adicionais de R$ 647,25 milhões. Serão levados a pregão público dois terminais de granéis sólidos (um em Itaqui-MA e outro em Natal-RN), um de contêineres em Fortaleza (CE) e um terminal de passageiros no Recife (PE). Em termos de investimento privado, destaca-se o montante de R$ 1,6 bilhão da APM Terminals, subsidiária da Maersk, para a construção de um terminal em Suape com capacidade de movimentação de 400 mil TEUs (contêineres de 20 pés) anualmente, com previsão de conclusão em 2026. O Terminal de Grãos do Maranhão (Tegram), em Itaqui, também receberá R$ 1,16 bilhão para expandir sua capacidade anual de 15 milhões para 23,5 milhões de toneladas. Esse avanço é crucial, conforme aponta o operador portuário Admar Pereira, da Ziran Logística, que menciona a redução de filas de navios – que podem chegar a 35 dias com custo diário de US$ 30 mil a US$ 40 mil – como um benefício direto. Maurício Laranjeira, gerente de políticas industriais da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe), projeta que o novo terminal de contêineres em Suape atrairá novas linhas marítimas, diversificando rotas com mercados como os Estados Unidos e a Ásia, e gerando “mais oportunidade de mercado para a economia pernambucana”.

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Imagem: valor.globo.com

Expansão via Concessões e Desafios de Conectividade

O volume de investimentos portuários pode ser ainda maior. O Ministério de Portos e Aeroportos busca implementar um plano ambicioso para expandir o porto de Aratu-Candeias (BA) através de uma concessão no modelo “Landlord Port”. Nele, o Estado mantém a posse da infraestrutura e dos terrenos, transferindo a um parceiro privado a responsabilidade de desenvolver as áreas e atrair novos investimentos para projetos greenfield, como a construção de novos cais, berços e terminais. O secretário Alex Sandro de Ávila confirma que o projeto está em fase final de elaboração e será submetido ao Tribunal de Contas da União (TCU) no primeiro semestre de 2026, com o leilão de concessão esperado para o próximo ano. Aratu e Itaqui (MA) são destacados como portos com maior disponibilidade de áreas para tais projetos na região, assumindo um papel fundamental na ampliação da infraestrutura portuária nordestina. Para Carlos Henrique Passos, presidente da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), a região possui boa estrutura portuária com grande potencial de expansão. No entanto, ele enfatiza um gargalo crucial: a dificuldade de acesso terrestre e a carência de conectividade intermodal. Setor produtivo clama por melhorias nas BRs 101 e 116, além da revitalização de malhas ferroviárias existentes, como a Ferrovia Centro-Atlântica (FCA) e a Transnordestina Logística (FTL), que atualmente apresentam velocidades médias insatisfatórias (11 km/h e 7,1 km/h, respectivamente).

A modernização e os vultosos aportes em terminais portuários e corredores multimodais, embora enfrentando desafios de infraestrutura terrestre, estão posicionando o Nordeste como um hub logístico de crescente relevância no cenário nacional e internacional. Essa onda de investimentos na economia regional não apenas promete eficiência no transporte de cargas, mas também impulsiona o desenvolvimento econômico, criando novas perspectivas para o agronegócio e para a atração de novas cadeias produtivas.

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Este cenário de expansão estratégica reafirma o potencial do Nordeste, destacando-se como um pilar de crescimento econômico para o Brasil. Acompanhe nossas atualizações para mais notícias sobre economia e desenvolvimento regional.

Foto: Arte/Valor

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