Militares Chineses Desaparecem de Eventos Cruciais na China

Economia

O recente desaparecimento de militares chineses ligados ao presidente Xi Jinping tem gerado intensos questionamentos sobre o processo de consolidação de poder dentro do Partido Comunista Chinês e as Forças Armadas. Uma série de ausências notáveis em encontros partidários e cerimônias de alta relevância sublinha os esforços de Xi para combater a corrupção e reafirmar o controle sobre segmentos estratégicos da defesa do país.

Em outubro, uma reunião do Partido Comunista Chinês expôs de forma patente as fissuras na hierarquia militar. Mais de 60% dos oficiais com participação prevista não compareceram, um sinal inequívoco de movimentos internos significativos. Situações semelhantes repetiram-se em 5 de novembro, durante a cerimônia de comissionamento do Fujian, o terceiro porta-aviões da China, na província de Hainan. Dois comandantes de peso do Exército de Libertação Popular – Hu Zhongming, chefe da Marinha chinesa, e Wu Yanan, chefe do Comando do Teatro Sul – figuraram entre os ausentes, mesmo sendo figuras esperadas ao lado de Xi Jinping.

Militares Chineses Desaparecem de Eventos Cruciais na China

As ausências desses oficiais não se limitaram à cerimônia do porta-aviões. Tanto Hu Zhongming quanto Wu Yanan também não estiveram presentes no quarto plenário do 20º Comitê Central do Partido Comunista Chinês, um encontro fundamental realizado entre 20 e 23 de outubro em Pequim. A dimensão dos expurgos ficou ainda mais evidente no discurso de Xi Jinping no plenário. O líder chinês proferiu um alerta contundente: “Se não combatermos a corrupção com mão de ferro, nossos problemas futuros serão intermináveis”, reafirmando a prioridade de fortalecer a disciplina partidária e o domínio sobre o setor militar.

O Comitê Central realiza suas sessões plenárias ao menos uma vez por ano, reunindo aproximadamente 200 membros, os quadros de maior patente do partido. O quarto plenário constituiu a quarta assembleia desde o Congresso Nacional do Partido Comunista, evento quinquenal. Do total de 42 militares e oficiais da reserva que integravam o Comitê Central à época do plenário, vinte e sete estavam ausentes, correspondendo a mais de 60% do contingente militar esperado, incluindo os já mencionados Wu e Hu. Desse grupo, oito haviam sido anteriormente destituídos de seus postos no partido e nas forças armadas, sob a alegação de “graves violações disciplinares”.

Entre os oficiais de alta patente que enfrentaram sanções estavam figuras como He Weidong, que serviu como ex-vice-presidente da Comissão Militar Central; Miao Hua, outro ex-membro da mesma comissão; e Lin Xiangyang, ex-comandante do Comando do Teatro Oriental, cuja área de atuação abrangia o sensível Estreito de Taiwan. Notavelmente, os três tinham em comum a origem no antigo 31º Grupo do Exército, baseado na cidade de Xiamen, província de Fujian. Esse grupo era reconhecido como parte da “facção de Fujian”, uma rede de influência que ganhou proeminência durante o período em que Xi Jinping trabalhou na província.

A ofensiva contra essa facção foi pública. Em 17 de outubro, o Ministério da Defesa Nacional da China oficializou a expulsão de nove indivíduos do Partido Comunista, entre os quais os três citados líderes. Esta ação prévia ao quarto plenário visava sinalizar a capacidade das Forças Armadas de erradicar a corrupção. As informações diplomáticas de Pequim sugerem que muitos dos militares ausentes do plenário que ainda não foram oficialmente expulsos podem estar sob custódia, submetidos a investigações internas.

“No processo de investigação da corrupção dentro da facção de Fujian, os envolvidos foram sendo encontrados um após o outro”, revelou uma fonte diplomática. Essa trama de conexões corruptas atingiu proporções significativas, uma vez que quase 60% dos ausentes possuíam histórico em distritos ou departamentos militares onde He e Miao exerceram influência no passado. A metade desse grupo está associada ao Comando do Teatro Oriental, onde He e Miao serviram por mais de quatro décadas, remontando à antiga Região Militar de Nanjing.

A outra parcela dos militares ausentes coincide com os locais de atuação anteriores de Miao: a antiga Região Militar de Lanzhou, situada em Gansu, além de cargos na Marinha e no Departamento de Trabalho Político da Comissão Militar. Este último departamento, responsável por assuntos de pessoal e no qual Miao ascendeu hierarquicamente, é agora objeto de escrutínio. Há suspeitas de práticas corruptas, como nomeações em troca de subornos, que poderiam ter sido facilitadas sob a gestão de Miao, conforme o fluxo de notícias sobre a política chinesa e seus desdobramentos.

Paradoxalmente, Xi Jinping havia promovido ativamente a “facção de Fujian”. O presidente depositou confiança e reconheceu as realizações de Miao, alçando-o à Comissão Militar Central em 2017. Em 2022, Xi designou He Weidong como vice-presidente da Comissão Militar Central e membro do poderoso Politburo do partido, composto por 24 integrantes. A atual repressão contra o grupo que antes apoiava Xi ressalta uma complexa teia de lealdades e ameaças.

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Imagem: Ludovic Marin via valor.globo.com

O professor Lim Jae-hwan, da Universidade Aoyama Gakuin em Tóquio, aponta que “a existência da camarilha de Fujian pode ter parecido uma ameaça potencial para Xi, que busca consolidar seu controle sobre as Forças Armadas”. Para Xi Jinping, que mantém a possibilidade do uso da força para anexar Taiwan, a lealdade irrestrita dos militares é vital. A influência crescente da facção de Fujian em operações ligadas a Taiwan pode ter sido um fator determinante para a percepção de ameaça à sua autoridade.

Entre as marcantes ausências no quarto plenário, notou-se a falta de militares com experiência na Força de Foguetes, setor responsável pelo arsenal nuclear e mísseis, e com o qual Xi Jinping já havia enfrentado problemas. Em outubro de 2024, Xi inspecionou uma base da Força de Foguetes na província de Anhui, enfatizando a exigência de “disciplina rigorosa”. Essa visita sucedeu a expulsão de altos comandantes do partido por corrupção, três meses antes, no terceiro plenário.

Apesar das medidas, a corrupção ressurgiu entre os sucessores, desencadeando uma nova rodada de limpeza. Desde sua criação há aproximadamente uma década por iniciativa de Xi Jinping, a Força de Foguetes passou por quatro ondas de expurgos em sua liderança. “A descoberta de corrupção nas Forças Armadas equivale a uma traição para Xi, que vem defendendo uma disciplina rigorosa”, comentou um oficial de segurança japonês, prevendo que “a repressão provavelmente continuará”.

A Comissão Militar Central, reconstituída em outubro de 2022 com sete membros no início do terceiro mandato de Xi, sofreu uma redução drástica. Com a queda de He, Miao e do ex-ministro da Defesa Li Shangfu, a estrutura foi reduzida a apenas quatro membros. Xi não designou substitutos na quarta sessão plenária, o que leva à crença de que essa configuração mais enxuta deve ser mantida. Para o professor Lim, “uma estrutura de liderança menor na Comissão Militar Central é mais fácil de controlar”, sugerindo que “o poder real provavelmente ficará cada vez mais concentrado nas mãos de Xi”.

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Os eventos recentes indicam uma campanha implacável de Xi Jinping para assegurar total lealdade e erradicar qualquer vestígio de corrupção ou influência contrária em um setor crucial para seus objetivos políticos, especialmente em relação a Taiwan. Para aprofundar a compreensão sobre os complexos jogos de poder na China e suas implicações globais, continue acompanhando nossa cobertura especializada na editoria de Política.

Crédito da imagem: Valor Econômico

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