Mudanças nas Regras do Vale-Alimentação: Impacto no Mercado

Economia

O cenário do benefício corporativo para trabalhadores sofreu importantes alterações com as recentes mudanças nas regras do vale-alimentação e vale-refeição. Um decreto presidencial, assinado na última terça-feira, 11 de julho, pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), delineia um novo panorama para o Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT), gerando divergências e expectativas em todo o mercado.

Entre as principais diretrizes estabelecidas pelo decreto, destacam-se a imposição de um limite máximo de 3,6% sobre as taxas de administração cobradas dos estabelecimentos credenciados, conhecida como MDR (Merchant Discount Rate), e a redução do prazo para repasse de pagamentos, que passa de trinta para quinze dias. A normativa também introduz a abertura para arranjos de pagamento para plataformas que atendam mais de 500 mil trabalhadores, além de instituir a interoperabilidade entre as bandeiras dos cartões.

Mudanças nas Regras do Vale-Alimentação: Impacto no Mercado

As novas disposições visam aprimorar a eficiência e a justiça no ecossistema do PAT. Um ponto central do decreto é o retorno ao propósito original do programa, que é garantir uma alimentação acessível e de alta qualidade aos trabalhadores brasileiros. Essa reformulação coloca o trabalhador no foco central da política pública, buscando assegurar um ambiente de benefícios mais equitativo e competitivo, com repercussões positivas para o conjunto da economia nacional.

Setores e Empresas Reagem ao Novo Decreto

A recepção do decreto foi variada entre os principais players do mercado de benefícios. O iFood, que atua com o seu iFood Benefícios desde 2020, expressou total apoio à medida. Em um comunicado oficial, a empresa salientou que as novas normas restituem o verdadeiro objetivo do PAT, promovendo um mercado mais aberto e justo para todos os envolvidos, o que, por sua vez, reflete diretamente na economia.

De maneira similar, a Câmara Brasileira de Benefícios ao Trabalhador (CBBT), que agrega companhias inovadoras como Caju, Flash e Swile, classificou as providências como corretivas, aptas a resolver imperfeições e impulsionar a concorrência no segmento. A associação também argumenta que a legislação recém-promulgada facilitará a aceitação ampliada dos vales, concedendo maior autonomia aos trabalhadores para escolherem onde utilizar seus benefícios, seja em restaurantes ou supermercados.

Contudo, nem todos compartilham o mesmo entusiasmo. Paulo Solmucci, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), apesar de reconhecer as boas intenções por trás do decreto, demonstrou apreensão. Solmucci teme que o estabelecimento de um teto para as taxas possa gerar mais desorganização do que ganhos para o setor de bares e restaurantes. Uma de suas maiores surpresas foi a vedação de arranjos fechados para empresas que gerenciam benefícios para mais de 500 mil colaboradores.

Nesse modelo tradicional de arranjo fechado, os estabelecimentos comerciais precisam de um credenciamento específico para aceitar determinado cartão de benefício. Com a alteração, companhias que atendem a esse volume expressivo de trabalhadores serão compelidas a operar em arranjos abertos, nos quais os vouchers são vinculados a bandeiras de cartão de crédito convencionais, possibilitando a aceitação em qualquer máquina de pagamento.

“Na lei os dois modelos estão permitidos, então isso certamente vai ser questionado”, afirmou Solmucci. Ele revelou que as empresas diretamente afetadas pela medida já estão avaliando a possibilidade de ingressar com ações judiciais para contestar as novas imposições, indicando um possível cenário de embate jurídico.

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Imagem: Marcelo Camargo via valor.globo.com

Na visão de Gilles Coccoli, presidente da Edenred no Brasil — empresa detentora da marca Ticket e uma das líderes do segmento —, as recentes modificações correm o risco de desvirtuar e fragilizar o Programa de Alimentação do Trabalhador. Em entrevista ao jornal Valor Econômico, Coccoli ressaltou que o PAT é, fundamentalmente, um incentivo social dotado de regulamentações próprias, não devendo ser confundido com um mero instrumento de pagamento. Esta perspectiva enfatiza a natureza social do programa versus uma visão estritamente financeira dos benefícios.

Impacto dos Arranjos de Pagamento no Mercado

A determinação que exige a abertura de arranjos de pagamento para operadoras com grande número de usuários (acima de 500 mil trabalhadores) é uma das pedras angulares do novo decreto. Essa mudança busca fomentar a competitividade, ao exigir que plataformas como o iFood Benefícios ou similares se adaptem a um modelo de interoperabilidade. A interoperabilidade significa que um cartão de benefício, independente de sua bandeira original, deve ser aceito em qualquer terminal que aceite a bandeira subjacente, como Visa ou Mastercard, por exemplo, o que aumenta o poder de escolha do consumidor e reduz a dependência de estabelecimentos específicos.

Atualmente, as maiores operadoras dominavam o mercado com arranjos predominantemente fechados. Para elas, essa transição para o arranjo aberto representa um desafio significativo em termos de infraestrutura e renegociação com os estabelecimentos e adquirentes. Enquanto as novas entrantes, representadas pela CBBT, já operavam sob modelos mais abertos ou se beneficiam da flexibilidade que a interoperabilidade proporciona, as companhias com sistemas fechados encaram a necessidade de uma reestruturação para se adequar ao cenário exigido pelo decreto.

As **mudanças nas regras do vale-alimentação** e vale-refeição refletem uma tentativa do governo de democratizar o acesso e o uso desses benefícios. A intenção é reduzir as práticas que, de alguma forma, limitavam a liberdade de escolha do trabalhador e oneravam os estabelecimentos. No entanto, o debate entre os defensores de um mercado mais regulado e aqueles que veem nas novas regras um excesso de intervenção promete se intensificar, com possíveis desdobramentos jurídicos, como já antecipado pela Abrasel. Para um aprofundamento sobre como medidas governamentais impactam o ambiente empresarial e financeiro, consulte reportagens e análises em portais especializados como o Valor Econômico.

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Em suma, as mudanças nas regras do vale-alimentação e vale-refeição, implementadas pelo decreto presidencial, representam um divisor de águas no setor, visando maior transparência e concorrência. Embora celebradas por alguns, outras vozes alertam para possíveis entraves e consequências imprevistas. Continue acompanhando as atualizações e análises detalhadas sobre as políticas econômicas e seus desdobramentos em nosso portal de economia, para se manter sempre informado sobre os acontecimentos mais relevantes do país.

Crédito da imagem: Agência Brasil

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