Domínio da China em Minerais Críticos Alerta o Mundo

Economia

O domínio da China em minerais críticos emergiu como um ponto de alerta global, evidenciando uma demorada compreensão por parte de grandes economias como Estados Unidos, Europa e até mesmo o Brasil. A dependência de Pequim na cadeia de valor de insumos estratégicos, cruciais para diversos setores, tornou-se patente. Essa sonolência estratégica foi abruptamente interrompida em abril, quando o governo chinês implementou restrições severas sobre suas exportações de compostos, metais e ímãs de terras raras, diretamente visando o mercado norte-americano. Essa ação foi uma clara retaliação às agressivas tarifas de importação impostas por Washington aos produtos chineses, inaugurando uma nova e complexa vertente geopolítica na guerra comercial entre as maiores potências econômicas mundiais.

Nesse cenário de reconfiguração, as nações que conseguirem desenvolver-se como alternativas viáveis à hegemonia de Pequim no mercado de minerais estratégicos ganharão uma influência decisiva. Essa influência se estenderá sobre as cadeias tecnológica, de transição energética e de defesa, além de impactar diretamente a segurança alimentar – pilares fundamentais da economia do século XXI, todos com uma demanda crescente por esses insumos vitais. O futuro do mercado de minerais essenciais está configurado para moldar a economia global por décadas a vir.

A urgência em reduzir o poder da China no setor de matérias-primas críticas foi acentuada após Pequim demonstrar sua capacidade de usar essa prerrogativa como arma política e econômica. Esta é a visão de Silvio Cascione, diretor para o Brasil do Eurasia Group, que resumiu a nova dinâmica global. Para aprofundar a compreensão desse panorama complexo, revisitamos o principal tema que molda essa nova era de desafios econômicos e geopolíticos.

Domínio da China em Minerais Críticos Alerta o Mundo

A atual disputa em escala global, segundo Frederico Viana Rodrigues, sócio do escritório Cescon Barrieu, especializado no setor de mineração, reside essencialmente na capacidade de processamento desses minerais e na garantia de seu acesso irrestrito.

Ascensão Chinesa e Suas Raízes

Ainda que a ameaça de interrupção nas linhas de produção mundiais pairasse, o poderio chinês nesse segmento não será ofuscado em curto ou médio prazo. Especialistas como Tulio Cariello, diretor de pesquisa do Conselho Empresarial Brasil China (CEBC), preveem que a dominância persistirá por anos, senão décadas. Dados recentes da Agência Internacional de Energia (AIE) confirmam a liderança da China no refino de vinte minerais essenciais para a fabricação de bens que impulsionam a transição energética global. A projeção da AIE indica que a demanda por esses insumos deverá quadruplicar até a metade do século, em comparação com os níveis de 2022. Essa é uma informação crucial para entender a profundidade da questão e a centralidade de tais recursos na economia global.

Para ilustrar o alcance e a profundidade desse controle, vale ressaltar que a China possui uma infraestrutura desenvolvida para o refino e processamento de um vasto leque de materiais, sendo uma peça-chave no fornecimento de componentes essenciais para a indústria eletrônica, automotiva e de energias renováveis em todo o planeta. Uma visão aprofundada sobre a crescente demanda por esses insumos vitais pode ser encontrada nos relatórios da Agência Internacional de Energia (AIE), que mapeia as tendências globais e as necessidades futuras.

O tempo e a meticulosa preparação que a China dedicou à consolidação de sua liderança contrastam dramaticamente com a situação dos países que almejam superar essa hegemonia, incluindo o Brasil. Otaviano Canuto, ex-presidente do Banco Mundial e membro sênior do Policy Center for the New South, recorda que o falecido líder chinês Deng Xiaoping (1904-1997) já delineava os planos do país para as terras raras na década de 1980, com a notória afirmação: “O Oriente Médio tem petróleo. A China tem terras raras.” Essa perspicácia histórica ressalta a visão de longo prazo de Pequim.

O Desafio da Agregação de Valor para Minerais Críticos

Para os potenciais concorrentes da China, o desafio é notável: precisarão percorrer um caminho similar, porém desprovidos da mesma estrutura de planejamento centralizada que impulsionou o país asiático, conforme pondera Canuto. Atualmente, a simples posse de jazidas exploradas não é o fator determinante; a capacidade de agregação de valor a esses minerais tornou-se imperativa. Este “salto” estratégico é crucial para evitar a exportação de insumos em estado bruto e, assim, escalar, no mínimo, um degrau na competitividade econômica mundial.

A concorrência acirrada por tecnologias de ponta, investimentos robustos em exploração e processamento, bem como a obtenção de financiamento, mobiliza países da Europa, Estados Unidos, Canadá, Austrália, Indonésia, e o próprio Brasil, entre outras nações. Apesar de a China ser um “alvo comum” nessa disputa, a possibilidade de formação de alianças estratégicas não é eclipsada. Parcerias, salienta Cariello, podem se tornar a rota para países com expressivas reservas minerais oferecerem produtos com maior valor agregado e, desse modo, solidificarem-se como atores influentes nessa nova dinâmica geopolítica dos minerais críticos. Tal cenário se apresenta como uma oportunidade singular para o Brasil.

Domínio da China em Minerais Críticos Alerta o Mundo - Imagem do artigo original

Imagem: Divulgação via valor.globo.com

Brasil e as Possíveis Alianças Estratégicas

Em tese, uma colaboração frutífera poderia emergir das negociações entre Brasil e Estados Unidos referentes à controversa elevação tarifária imposta por Washington sobre produtos brasileiros. Embora o assunto não tenha sido abordado durante o encontro entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump (ocorrido em outubro em Kuala Lumpur, Malásia), ele permanece um item em destaque nas conversas bilaterais em andamento. Como observa Silvio Cascione, já existe pelo menos um ponto de partida palpável. Em 2024, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Corporação Financeira de Desenvolvimento Internacional (DFC) dos Estados Unidos assinaram um acordo-quadro de cooperação para coinvestimentos, abrangendo os cruciais setores de mineração, baterias e semicondutores, todos ligados aos veículos elétricos. Este pacto continua em vigor sob a administração Trump.

A postura prudente do Brasil ao ser impactado pelas tarifas, sem adotar retaliações, igualmente tem sido um fator positivo para esse diálogo contínuo. Desde o princípio, o governo brasileiro rejeitou a hipótese de respostas agressivas, mesmo diante da inicial resistência americana em atender às autoridades brasileiras por meses. Rodrigues exemplifica o poder de barganha do Brasil: se o presidente Lula tivesse acenado com possíveis restrições à exportação de nióbio, mineral do qual o Brasil detém 90% da comercialização global, a indústria aeronáutica dos Estados Unidos teria entrado em colapso.

No entanto, essa abordagem estratégica implica riscos: uma tal atitude por parte do Brasil teria devastado a confiança internacional no fornecimento de nióbio e de outros minerais por parte do país, um efeito tão negativo quanto a desconfiança gerada pelas ações da China. Além disso, a oportunidade de amenizar o tarifaço americano teria sido perdida, em vez de evoluir para um acordo de apaziguamento, tal como Pequim e Washington estão novamente à beira de selar pela segunda vez.

Cascione enfatiza a sensatez de um acerto entre Brasil e EUA nesse campo, estendendo a lógica para parcerias com a Europa. Esse movimento traria dividendos econômicos e políticos, fortaleceria laços bilaterais e, crucialmente, afastaria o Brasil de uma perigosa dependência em relação à China no segmento de minerais essenciais.

Relação com a China: Perspectivas e Escolhas

Em um polo oposto, a possibilidade de uma parceria aprofundada com a China em áreas-chave, como a transferência de tecnologia para separação dos elementos de terras raras e o refino de outros minerais estratégicos, seria vista como uma surpresa e um movimento improvável. A perspectiva mais realista aponta para um incremento no fluxo de investimentos chineses direcionados à mineração brasileira, com o objetivo primordial de garantir o fornecimento de insumos em estado bruto para o vasto mercado chinês.

O embaixador José Alfredo Graça Lima adverte que, caso a China se mostre disposta a firmar um pacto de maior alcance com o Brasil, haverá inevitáveis exigências de contrapartidas, o que poderia gerar certo constrangimento para o lado brasileiro. A mera existência de reservas minerais no Brasil não garante, por si só, um posicionamento vantajoso. Diante de um cenário geopolítico e econômico tão complexo e com o domínio da China em minerais críticos consolidado, o país precisará fazer escolhas estratégicas bem fundamentadas.

Confira também: Imoveis em Rio das Ostras

Em síntese, o domínio da China em minerais críticos tem redefinido o tabuleiro da geopolítica e da economia mundial. As nações agora precisam focar não apenas na extração, mas na agregação de valor e na busca por alianças estratégicas para assegurar o futuro tecnológico e energético. A posição do Brasil, com suas ricas reservas, exige uma gestão diplomática e econômica astuta, capaz de balancear relações e otimizar oportunidades sem criar novas dependências. Para se aprofundar ainda mais nos desdobramentos da economia global e suas interconexões com a política, convidamos você a continuar acompanhando nossa editoria de Economia.

Deixe um comentário