A cidade de Rio Bonito do Iguaçu, no sudoeste do Paraná, enfrenta um cenário desolador após a passagem de múltiplos tornados e um ciclone extratropical, que assolaram o Sul do Brasil. Com ventos atingindo impressionantes 330 km/h, o fenômeno natural deixou um rastro de destruição, impactando cerca de 90% das edificações e infraestrutura do município, lar de aproximadamente 14 mil habitantes. A tragédia se insere em um contexto mais amplo de desastres que já resultaram na morte de sete pessoas e deixaram mais de 750 feridos em toda a região.
Na sexta-feira (7), o Paraná foi palco de três tornados distintos, conforme dados divulgados pelo Sistema de Monitoramento Ambiental do estado (Simepar). A virulência desses eventos culminou na aniquilação quase total de Rio Bonito do Iguaçu, transformando a rotina de seus moradores em uma luta pela sobrevivência e pela reconstrução. As equipes de monitoramento também confirmaram que outros dois tornados adicionais atingiram as cidades paranaenses de Guarapuava e Turvo na segunda-feira (10), reforçando a dimensão dos impactos climáticos sobre a região.
Rio Bonito do Iguaçu: Vento a 330 km/h destrói 90% da cidade
O cenário catastrófico em Rio Bonito do Iguaçu foi intensificado pela ocorrência de um ciclone extratropical que afetou simultaneamente a região. Uma das vítimas fatais, por exemplo, foi um homem em São José dos Ausentes, no Rio Grande do Sul, evidenciando a abrangência geográfica dos fenômenos. Além das sete mortes confirmadas, mais de 750 pessoas ficaram feridas em diversas localidades, demandando assistência médica emergencial. Dados de um único hospital em Laranjeiras do Sul revelaram que 455 dos 835 indivíduos feridos e internados em cidades vizinhas foram recebidos na unidade.
Pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR) apontam uma relação direta entre a perda de cobertura florestal ao longo dos anos e a vulnerabilidade acentuada da região a ventos fortes e fenômenos extremos. A mata, que historicamente funcionou como um anteparo natural contra a força dos ventos, teve sua presença drasticamente reduzida, conforme demonstram mapas históricos do estado. Um geógrafo e professor da UFPR explicou que, nesse contexto, Rio Bonito do Iguaçu se tornou um ponto de impacto direto do fenômeno, o que explica a devastação em sua trajetória.
Com a urgência da situação, engenheiros iniciaram vistorias nas construções restantes desde a manhã de segunda-feira (10). Das oito edificações públicas analisadas até o momento, quatro já foram designadas para demolição. A engenheira civil Regina de Toni, do CREA-PR, enfatizou a quantidade substancial de moradias que requerem demolição ou interdição, não se limitando apenas a danos em telhados ou forros, mas compreendendo comprometimentos estruturais significativos, especialmente na área central do município.
O governo do Paraná, ciente da gravidade e da extensão dos prejuízos, anunciou um investimento de R$ 50 milhões destinados à reconstrução das moradias em Rio Bonito do Iguaçu. A medida prevê a concessão de até R$ 50 mil em materiais de construção para cada família diretamente afetada pelos tornados. O governador do Paraná, Ratinho Junior (PSD), informou que já está autorizada a construção imediata de 320 casas nos próximos dias para atender aos casos mais emergenciais. A estimativa otimista é de que a completa recuperação da cidade possa levar até um ano para ser concretizada.
Enquanto os esforços de reconstrução ganham forma, os relatos de dor e resiliência se multiplicam. Noeli Severini, uma aposentada que viu seu patrimônio ruir, expressou a dor de perder o que cultivou por uma vida inteira, mas manteve a gratidão por estar viva. Paralelamente, 21 pessoas seguem hospitalizadas em cidades vizinhas. Marcos Paulo, um jovem de 19 anos, trabalhava em um mercado que não resistiu à força dos ventos, sofrendo ferimentos na mão e nos pés, mas conseguiu se abrigar em uma igreja que, junto de seu pai e irmão, serviu de refúgio para dezenas de desabrigados.

Imagem: g1.globo.com
A solidariedade da comunidade tem sido um pilar fundamental no socorro às vítimas. Voluntários atuam incansavelmente na preparação de refeições em ginásios, que também servem como ponto central para triagem de doações, incluindo roupas, alimentos e produtos de higiene. O empresário Paulo Dobrovolski viajou mais de 100 km para restaurar a conectividade de internet na área, permitindo que os afetados pudessem se comunicar com suas famílias. Um casal de Curitiba percorreu 700 km para doar alimentos, exemplificando o espírito de apoio mútuo que permeia o cenário da tragédia.
As organizações sociais estão mobilizadas para prestar auxílio contínuo. Para aqueles que desejam contribuir, a plataforma paraquemdoar.com.br funciona como um recurso valioso, listando entidades que estão atuando nas localidades mais prejudicadas. O site oferece um caminho direto para direcionar doações e apoiar os esforços humanitários.
Confira também: Imoveis em Rio das Ostras
A destruição em Rio Bonito do Iguaçu e a resiliência demonstrada por seus habitantes e voluntários ressaltam a urgência de debates sobre vulnerabilidade climática e desenvolvimento sustentável. Os tornados no Paraná e o ciclone no Sul do Brasil são lembretes poderosos da necessidade de preparo e planejamento para eventos extremos. Continue acompanhando a editoria de Cidades para mais notícias e análises sobre o impacto das mudanças climáticas e as ações de recuperação em nosso blog.
Foto: Reprodução/TV Globo


