A possibilidade de um corte da Selic pelo Banco Central brasileiro no início de seu ciclo de flexibilização monetária em 2026 enfrenta um obstáculo significativo. Esta avaliação é de Roberto Secemski, economista-chefe para o Brasil do Barclays, que projeta o primeiro movimento de redução da taxa básica de juros a partir de março do próximo ano. A perspectiva surge em um cenário caracterizado por um mercado de trabalho aquecido, uma inflação de serviços que se mostra persistente e, crucially, uma série de medidas governamentais que prometem injetar fôlego adicional na atividade econômica do próximo ano, intensificando os desafios para a autoridade monetária.
Historicamente, a decisão de diminuir a taxa Selic é guiada por uma variedade de indicadores macroeconômicos, tais como o enfraquecimento da atividade produtiva, a desaceleração das taxas inflacionárias e a diminuição da pressão no mercado de trabalho. No entanto, o panorama atual exibe particularidades que desviam-se de um alinhamento total com as condições típicas que impulsionariam uma flexibilização monetária mais robusta ou antecipada. A confluência desses elementos molda um ambiente complexo para a determinação dos rumos da política econômica brasileira, exigindo que o Banco Central acompanhe atentamente cada desenvolvimento econômico.
Conforme a análise aprofundada do economista do Barclays, a situação atual não se resume a um movimento fiscal isolado, mas sim a uma intricada combinação de programas governamentais de cunho notavelmente expansionista. Essas iniciativas, que se espera que se concretizem ao longo dos próximos trimestres, totalizam um volume impressionante de R$ 225 bilhões em impulsos para a economia no ano que vem. Tal montante financeiro realça os desafios já indicados por Roberto Secemski, especialmente ao examinar a tese central que compõe a preocupação com os juros:
Estímulos Governamentais Desafiam Corte Selic, Diz Barclays
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O Vultoso Pacote de Estímulos e Sua Projeção de Impacto
O montante de R$ 225 bilhões, que, segundo as projeções do economista, será injetado na economia em 2026, se ramifica em diversas esferas. Um impulso considerável provém do setor de crédito habitacional, não só por meio de programas já estabelecidos como o Minha Casa, Minha Vida, mas também através do Sistema Financeiro Habitacional (SFH), que agora inclui o recém-lançado programa Reforma Casa Brasil, o qual oferece linhas de crédito com condições subsidiadas. A finalidade primordial desses programas não é apenas dinamizar a construção civil e o mercado imobiliário, mas igualmente estimular de forma direta o consumo e a geração de novas oportunidades de emprego, elevando, por conseguinte, a renda disponível e o poder de compra das famílias.
Adicionalmente, Secemski pontua a isenção do Imposto de Renda (IR) para trabalhadores com salários de até R$ 5 mil como outra medida de relevo. Embora essa política seja qualificada como fiscalmente neutra – sem causar impacto negativo direto e imediato nas contas públicas – o especialista frisa que ela “não é neutra do ponto de vista de consumo”. Ao proporcionar um alívio na carga tributária que incide sobre uma parcela expressiva da força de trabalho, a isenção do IR libera recursos adicionais, os quais, em grande parte, tendem a ser canalizados para o consumo de bens e serviços. Essa movimentação infere um impulso indireto à demanda agregada. Esses fatores, somados a outras iniciativas do governo, delineiam uma provável sustentação prolongada da atividade econômica, o que poderá resultar na manutenção do Produto Interno BrBusto (PIB) operando acima de seu potencial por um período estendido.
Projeções Macroeconômicas Revisadas e as Consequências para a Política Monetária
Em virtude desse panorama, o Barclays revisou para cima suas estimativas de crescimento para o PIB em 2026, ajustando a projeção de 1,7% para 2%. Essa revisão reflete, primordialmente, a antecipação dos impactos das políticas fiscais com orientação expansionista. O economista-chefe salienta que, mesmo com a previsão de 2,25 pontos percentuais de corte na taxa Selic no ano vindouro – com o ciclo de flexibilização projetado para iniciar em março e se estender até setembro – o movimento configuraria um ciclo de afrouxamento que ele categoriza como restrito. Isso indica que, a despeito da esperada redução nos juros, as condições monetárias em seu todo deverão permanecer em um patamar relativamente apertado, influenciando a atividade econômica nos trimestres subsequentes, contudo de uma maneira mais gradual do que o que se poderia antecipar inicialmente.
Secemski argumenta enfaticamente que essa interação entre as políticas governamentais de viés expansionista e a manutenção das taxas de juros em patamares elevados por um período considerável, estabelece um ambiente onde uma porção significativa dos esforços da política monetária do Banco Central, voltada para o controle inflacionário, acaba sendo atenuada ou neutralizada. “Esse número de R$ 225 bilhões impressiona, e há uma dificuldade em medir quanto se traduz em impulso à atividade, mas tudo isso sugere um ambiente em que parte do esforço da política monetária seguirá neutralizado, de certa forma, por iniciativas de cunho expansionista, o que enseja espaço relativamente pequeno para redução dos juros”, explicita o economista, sublinhando a delicada margem de manobra para cortes mais profundos ou céleres.

Imagem: infomoney.com.br
Resiliência do Mercado de Trabalho e Desafios para a Desinflação
Apesar de o Barclays e outras instituições analíticas reconhecerem a progressão positiva da atividade econômica e da dinâmica inflacionária em consonância com as metas da política monetária, a questão fulcral reside na velocidade com que essa desaceleração se manifesta. Para justificar uma antecipação nos planos de diminuição da taxa Selic, seria imperativo observar um enfraquecimento dos indicadores em um ritmo superior ao projetado. Contudo, o mercado de trabalho, componente de grande relevância nas avaliações do Banco Central do Brasil, persiste com vigor.
Embora existam “sinais tênues de que um ponto de inflexão está próximo” – exemplificado pelo fato de que a taxa de desemprego interrompeu sua trajetória de queda, mas ainda não sinaliza um aumento claro – essa resiliência se torna um obstáculo a uma política monetária mais leniente. A inflação de serviços, em particular, permanece resistente, refletindo diretamente a pujança da demanda interna e os impactos inerentes à dinâmica do mercado de trabalho. Para aprofundar a compreensão sobre a política monetária no Brasil e o papel decisório do BC, é sempre recomendável consultar o site oficial do Banco Central do Brasil, fonte primária de informações e dados sobre o tema.
Essa conjunção de uma atividade econômica robusta e a persistência de focos inflacionários, impulsionados pelos estímulos governamentais em curso e projetados, limita de maneira considerável o grau de liberdade de atuação do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. O economista Roberto Secemski reforça a premissa de que, mesmo com a concretização de um ciclo de cortes na taxa Selic, as condições monetárias em âmbito geral deverão se manter em patamares elevados. Essa postura reflete a necessidade premente de equilibrar o crescimento econômico com a manutenção da estabilidade de preços, inseridos em um complexo cenário macroeconômico global. A trajetória da Corte Selic, o comportamento da inflação e os efeitos dos pacotes governamentais continuarão a ser pontos de intensa observação nos meses vindouros.
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Em suma, a perspectiva delineada pelo economista-chefe do Barclays, Roberto Secemski, evidencia a intricada rede de fatores que dificultam uma descompressão rápida da taxa Selic no Brasil. A amálgama entre a resiliência econômica, a tenacidade da inflação de serviços e, especialmente, os volumosos estímulos governamentais programados para 2026, aponta para a neutralização parcial do esforço contracionista da política monetária. Isso antevê um período de taxas de juros sustentadas e um ciclo de afrouxamento caracterizado por ser restrito, panorama que merece um acompanhamento minucioso por parte de investidores e consumidores. Para aprofundar suas análises sobre a economia brasileira e outros temas de relevância nacional e internacional, convidamos você a continuar navegando em nossa editoria de Economia.
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