Lula condena “velhas retóricas” sobre intervenção em países

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfatizou a relevância do multilateralismo entre as nações durante sua participação, no domingo (9), em Santa Marta, Colômbia. Em um contexto de crescente instabilidade global e regional, o líder brasileiro proferiu fortes críticas a articulações que buscam legitimar o uso da força e a intervenção ilegal em países soberanos. Suas declarações ocorreram em um cenário de inquietação para a América Latina e o Caribe, com foco nas manobras retóricas que, segundo ele, são frequentemente recicladas para justificar intromissões indevidas nos assuntos internos de outras nações.

A preocupação com o reaparecimento de ameaças militares e a retórica agressiva que as acompanha tem se tornado um ponto central nas discussões regionais. Lula ressaltou que “velhas manobras retóricas” estão sendo reutilizadas para legitimar intervenções ilegítimas, embora o presidente não tenha apontado países ou agentes específicos em sua fala. A tônica de seu discurso reiterou a posição do Brasil em favor da paz, enfatizando que a América Latina e o Caribe constituem uma “região de paz” e que o combate ao crime deve respeitar integralmente o direito internacional, sem que democracias o violem.

Lula condena “velhas retóricas” sobre intervenção em países

As afirmações de Lula foram feitas durante a sessão plenária do primeiro dia da 4ª Cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e da União Europeia (UE). Este evento, que reuniu líderes de 27 países da UE e 33 da Celac, serviu como plataforma para debater questões cruciais que afetam ambos os blocos, incluindo o fortalecimento das relações diplomáticas e comerciais, a coordenação de políticas regionais e o alinhamento de esforços para a construção de uma ordem mundial mais equilibrada e pautada no diálogo. Lula destacou que esses dois agrupamentos de países são peças fundamentais na edificação de um cenário global caracterizado pela paz, pelo multilateralismo e pela multipolaridade, valores que considera essenciais para o progresso coletivo.

Ofensiva Americana no Caribe e a Tensão Regional

Um dos temas de fundo que permeiam o encontro e geram preocupação entre os governos latino-americanos é a intensificação das operações dos Estados Unidos. Desde setembro, sob ordens do então presidente americano Donald Trump, militares têm interceptado e atacado embarcações em águas internacionais do Mar do Caribe e do Oceano Pacífico. Essas ações são justificadas pela alegação de que tais navios estariam envolvidos no transporte de drogas de países como a Venezuela com destino aos Estados Unidos. Na sexta-feira, 7 de novembro, um desses ataques resultou na morte de três pessoas, e o anúncio da ofensiva foi realizado pelo então secretário de Defesa americano, Pete Hegseth, destacando uma escalada nas operações que já ceifaram a vida de, ao menos, 70 pessoas.

Donald Trump, por sua vez, tem mantido uma postura confrontacional em relação à Venezuela, inclusive ventilando a possibilidade de intervenções terrestres. O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, nega veementemente qualquer ligação de seu país com atividades narcotraficantes e interpreta as movimentações norte-americanas como uma tentativa de fabricar pretextos para invadir a Venezuela, que detém as maiores reservas de petróleo do mundo. Essa tensão adiciona uma camada de complexidade às discussões sobre não intervenção e soberania regional, temas centrais na Cúpula Celac-UE.

América Latina e Caribe: Uma Região de Contradições e Desafios

Apesar da retórica em prol da unidade e da cooperação, Lula admitiu que a América Latina e o Caribe se encontram, novamente, em um estado de divisão, muitas vezes mais focada em influências externas do que em seu próprio desenvolvimento interno. O presidente identificou diversas ameaças contemporâneas que fragilizam a coesão regional, como o extremismo político, a proliferação da manipulação de informações e a crescente influência do crime organizado transnacional. Em um lamento que reflete a frustração de muitos líderes, ele observou que, apesar da abundância de ideias e iniciativas discutidas em reuniões sucessivas, grande parte delas não consegue sair do papel, resultando em uma estagnação no avanço das agendas regionais.

Para o presidente, a capacidade de superar essas divisões e implementar projetos concretos é crucial para a região afirmar seu papel no cenário global. A necessidade de uma ação mais coesa e pragmática foi um ponto ressaltado por Lula, que busca incentivar uma maior autossuficiência e direcionamento estratégico para o continente.

O Desafio do Combate ao Crime Organizado

Menos de quinze dias após uma intensa operação no estado do Rio de Janeiro que mirou a facção criminosa Comando Vermelho, resultando na morte de 121 pessoas, incluindo quatro policiais, o presidente Lula reafirmou a segurança pública como um dever inalienável do Estado e um direito fundamental de todos os cidadãos. Embora não tenha mencionado diretamente o incidente no Rio de Janeiro, o presidente abordou a questão da criminalidade de forma abrangente, salientando que “não existe solução mágica para acabar com a criminalidade”. Ele defendeu a necessidade de repressão efetiva ao crime organizado e suas lideranças, priorizando o corte de seu financiamento e a eliminação do tráfico de armas, além de intensificar o rastreamento das redes criminosas. Tal abordagem sistêmica, segundo ele, é imperativa para desmantelar as estruturas que sustentam a criminalidade.

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Imagem: agenciabrasil.ebc.com.br

O presidente salientou ainda que nenhum país pode enfrentar sozinho o desafio do crime organizado. Para ilustrar essa perspectiva, ele citou duas iniciativas consideradas plataformas de cooperação permanentes para o combate a crimes financeiros, tráfico de drogas, armas e pessoas: o Comando Tripartite da Tríplice Fronteira, envolvendo Brasil, Argentina e Paraguai, e o Centro de Cooperação Policial Internacional da Amazônia, que agrupa nove nações sul-americanas. Essas plataformas representam esforços colaborativos essenciais na luta contra a criminalidade transfronteiriça. Para aprofundar a compreensão sobre os princípios que Lula defende, o site da Organização das Nações Unidas oferece informações relevantes sobre o multilateralismo.

Foco na Sustentabilidade: A COP30 na Amazônia

Em seu discurso, o presidente Lula também dedicou atenção à iminente 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que está prestes a ter início nesta segunda-feira (10) em Belém. Lula aproveitou a plataforma da Cúpula Celac-UE para sublinhar a importância do evento, que será sediado “no coração da Amazônia”. Para ele, a COP30 representa uma oportunidade singular para a América Latina e o Caribe demonstrarem ao mundo o valor intrínseco de conservar as florestas, projetando a ideia de que essa conservação é, de fato, cuidar do futuro do planeta. Ele expressou o objetivo de que a Amazônia se torne um símbolo global da luta contra as alterações climáticas.

Em sua explanação, o presidente destacou o Fundo Florestas Tropicais Para Sempre (TFFF, da sigla em inglês), uma das iniciativas mais emblemáticas do Brasil para a COP30. Lula descreveu o TFFF como uma “solução inovadora” que busca valorizar as florestas em pé mais do que as desmatadas, criando um incentivo econômico e sustentável para a preservação ambiental. Além disso, Lula instou os países a concentrarem esforços na transição energética, incentivando o predomínio de energias limpas em detrimento dos combustíveis fósseis, grandes emissores de gases de efeito estufa e causadores do aquecimento global. Ele frisou o papel estratégico da região, afirmando que a América Latina é uma “fonte segura e confiável de energia limpa” e, portanto, pode acelerar a diminuição da dependência global dos combustíveis fósseis, contribuindo significativamente para um futuro mais sustentável.

O Apelo por uma Liderança Feminina na ONU

Em uma vertente dedicada às políticas de igualdade de gênero, Lula aproveitou a ocasião para pleitear a nomeação de uma mulher latino-americana para a posição mais elevada das Nações Unidas. O presidente sublinhou a representatividade global das mulheres, que correspondem a mais da metade da população mundial, mas que, historicamente, jamais ocuparam o cargo de Secretária-Geral da ONU. “É chegada a hora de ter uma latino-americana no cargo de secretária-geral da ONU”, sentenciou, marcando uma clara defesa da diversidade e da inclusão nos mais altos escalões da governança global.

O mandato do atual secretário-geral, o português António Guterres, expira em 2026. O Brasil tem sido um defensor consistente da presença feminina nessa posição de destaque, e alguns nomes de lideranças políticas latino-americanas já são cotados e discutidos em diversos círculos diplomáticos, entre eles, a ex-presidente do Chile, Michelle Bachelet, e a primeira-ministra de Barbados, Mia Mottley. O apelo de Lula visa não apenas reconhecer a capacidade de liderança feminina, mas também garantir uma maior equidade de gênero e representatividade regional em instituições globais. No mesmo dia de suas declarações na Cúpula Celac-UE, o presidente Lula deixou Santa Marta e seguiu viagem diretamente para Belém, no Brasil, a fim de participar dos primeiros eventos da COP30.

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As manifestações do Presidente Lula na Cúpula Celac-UE em Santa Marta reafirmam o compromisso brasileiro com a diplomacia multilateral, a condenação de intervenções indevidas e a busca pela paz. Questões como segurança regional, crise climática e igualdade de gênero foram articuladas com clareza, destacando a complexidade dos desafios contemporâneos e a necessidade de cooperação. Para ficar por dentro de outros temas cruciais que impactam a política nacional e internacional, convidamos você a continuar navegando em nossa editoria de Política e acompanhar as últimas análises e notícias relevantes.

Crédito da imagem: Luisa Gonzalez/Proibida reprodução

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