O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou da Cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e da União Europeia (UE) neste domingo, dia 9 de novembro, em Santa Marta, na Colômbia. Este encontro diplomático de grande relevância teve como ponto central a análise de questões críticas para a soberania e a estabilidade regional, em especial a crescente movimentação militar dos Estados Unidos na região do Caribe.
A participação do chefe de estado brasileiro sublinha o engajamento do país nas discussões geopolíticas que moldam o continente. Oportunidade para a diplomacia sul-americana articular-se e buscar soluções consensuais para os desafios enfrentados pela região. O posicionamento do Brasil reforça a importância de plataformas como a Celac para a cooperação e o diálogo entre as nações, priorizando a manutenção da paz e o desenvolvimento conjunto, essenciais para a prosperidade dos blocos regionais.
Lula na Cúpula da Celac na Colômbia e a Tensão Regional
Durante uma entrevista concedida a agências de notícias internacionais, realizada em Belém, no Pará, na semana que antecedeu o evento, o presidente Lula destacou a relevância da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) como um foro estratégico para abordagens sensíveis. Ele enfatizou que o momento atual seria propício para um debate aprofundado acerca da ostensiva movimentação de tropas terrestres, submarinos e navios militares dos Estados Unidos nas águas caribenhas e na costa venezuelana.
Lula, reiterando seu histórico posicionamento de defesa da autodeterminação dos povos e da não-intervenção em assuntos internos de outras nações, afirmou que a reunião de cúpula da Celac só ganharia verdadeiro sentido se fosse utilizada para abordar esta delicada situação. O presidente fez um paralelo com conversas anteriores que teve com o então presidente dos EUA, Donald Trump, nas quais já havia enfatizado que a América Latina constitui uma “zona de paz”, isenta da necessidade de conflitos bélicos.
“Somos uma zona de paz, não precisamos de guerra aqui”, declarou o presidente brasileiro. Em sua visão, os desafios que afligem a Venezuela, país vizinho ao Brasil e foco de muitas das tensões internacionais recentes, são de natureza essencialmente política e, portanto, demandam uma resolução igualmente política. Essa perspectiva ressalta a primazia do diálogo e da negociação sobre a imposição de forças externas na busca por estabilidade regional e respeito à soberania dos Estados.
O Cenário de Tensão no Caribe e os Interesses Geopolíticos
A Cúpula da Celac em Santa Marta ocorre em um contexto de elevada instabilidade na região caribenha. Os Estados Unidos intensificaram sua presença militar na área, justificando as ações como parte de uma estratégia de combate a rotas de narcotráfico que alegam abastecer o território norte-americano. Reportagens da época inclusive apontaram que o governo Donald Trump teria promovido bombardeios a embarcações na região sob esta mesma alegação, intensificando a presença de forças em uma área já delicada.
Essa narrativa é fortemente contestada pelo presidente da Venezuela, Nicolás Maduro. O líder venezuelano argumenta que a mobilização militar estadunidense tem um propósito muito mais amplo e intervencionista, visando na realidade os vastos interesses dos EUA nas reservas de petróleo da Venezuela. Segundo Maduro, o objetivo oculto por trás do reforço militar seria desestabilizar seu governo e, eventualmente, removê-lo do poder, em uma clara manobra de ingerência em assuntos internos de um país soberano do continente americano.
A questão da presença militar em áreas próximas a zonas de rica extração de recursos naturais, como o petróleo venezuelano, é um elemento de atrito constante nas relações internacionais. A percepção de um duplo padrão, onde o combate ao narcotráfico se confunde com objetivos de projeção de poder e controle de recursos estratégicos, adiciona uma camada de complexidade às relações diplomáticas entre as nações latino-americanas e os Estados Unidos, demandando uma postura coesa e defensora da paz por parte dos blocos regionais.
Retomada do Diálogo Birregional e Acordos Comerciais
Para além das discussões sobre segurança regional, a cúpula em Santa Marta reúne um total de líderes dos 27 países membros da União Europeia e das 33 nações que compõem a Celac. Um dos focos primordiais do encontro é a reafirmação e a retomada do diálogo birregional. Este diálogo se mostra crucial após períodos de menor intensidade nas relações entre os blocos, e sua revitalização representa um esforço conjunto para estreitar laços políticos, culturais e econômicos em um cenário global complexo.
As negociações em torno do aguardado acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia constituíram outro pilar fundamental da agenda da cúpula. Este acordo, que busca eliminar barreiras alfandegárias e harmonizar regulamentações comerciais, tem o potencial de impulsionar significativamente o comércio e o investimento entre os dois blocos, beneficiando uma vasta gama de setores produtivos e consumidores em ambos os lados do Atlântico e promovendo um ambiente de maior integração econômica.
Esta edição marcou a quarta cúpula oficial entre Celac e UE e representa o décimo encontro de alto nível entre as duas importantes regiões desde 1999, refletindo uma parceria de longa data e a busca contínua por um relacionamento estratégico e construtivo. Durante o evento, as expectativas eram altas para a consolidação de documentos chave, como a denominada Declaração de Santa Marta e o Mapa do Caminho 2025-2027. Esses instrumentos têm como meta converter as pautas e debates do diálogo birregional em ações concretas e resultados tangíveis nos próximos anos, solidificando o engajamento mútuo.
Presidências da Celac e o Retorno do Brasil
A estrutura de liderança rotativa da Celac desempenha um papel importante na condução dos trabalhos da comunidade e na definição de suas prioridades anuais. No ano de 2025, a Colômbia detém a posição de presidência pro tempore da reunião, assumindo o bastão da presidência anterior, que esteve a cargo de Honduras. Para o ano de 2026, a responsabilidade de liderar o bloco será transmitida ao Uruguai, demonstrando a dinâmica de rodízio e a participação equitativa dos países-membros na coordenação dos objetivos estratégicos da Celac, promovendo a cooperação sul-americana.
A presença de Luiz Inácio Lula da Silva em Santa Marta também marcou a continuidade da reintegração do Brasil à Celac. O país havia retomado sua participação no bloco em janeiro de 2023, após um hiato de três anos de ausência, período no qual a cooperação regional ficou parcialmente fragilizada. A reinserção brasileira na Celac é vista como um passo importante para o fortalecimento da diplomacia regional e a reafirmação da liderança do Brasil nas articulações sul-americanas e caribenhas, garantindo voz e voto em debates cruciais para o futuro do continente.
O cronograma do evento em Santa Marta previu sua extensão até a segunda-feira, dia 10 de novembro. No entanto, o presidente Lula participou exclusivamente do primeiro dia da reunião. Sua agenda já contava com compromissos urgentes e de igual relevância ambiental em seu próprio país, exigindo seu retorno imediato a Belém. Na capital paraense, o líder brasileiro se prepara para a abertura da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP30, evidenciando a interligação entre as agendas climática e diplomática internacional do país e sua posição de destaque em ambos os foros.
Confira também: Imoveis em Rio das Ostras
A presença do presidente Lula na Cúpula da Celac e da UE na Colômbia reitera o compromisso do Brasil com a diplomacia multilateral e a busca por soluções pacíficas para as tensões regionais, ao mesmo tempo em que impulsiona agendas comerciais vitais para o desenvolvimento. Para se manter informado sobre as últimas análises em política internacional, acordos econômicos e os movimentos que impactam o cenário global, continue acompanhando nossa editoria de Política e aprofunde-se nos debates mais relevantes da atualidade.
Crédito da imagem: Tânia Rêgo/Agência Brasil
