O etarismo, preconceito velado ou explícito contra pessoas mais velhas, vai muito além de uma questão social; ele impulsiona um lucrativo mercado global, gerando lucros expressivos à custa da insegurança sobre o envelhecimento. Este é o cerne da análise da advogada Karen Walrond, que destaca como a venda de uma eterna juventude se tornou um modelo de negócio altamente rentável. A indústria antienvelhecimento, apenas nos Estados Unidos, movimenta cerca de 37 bilhões de dólares, o que equivale a quase 200 bilhões de reais, anualmente.
A força desse mercado é tamanha que a pressão para combater os sinais do tempo começa cedo: mulheres jovens, por volta dos 28 anos, já são estimuladas a usar produtos antirrugas. A lógica é simples e implacável: ao vender a promessa de ‘antiaging’, as empresas garantem uma clientela vitalícia. De cremes faciais a procedimentos de cirurgia plástica, o consumidor é capturado em um ciclo de consumo que visa combater o processo natural de envelhecimento. É nesse contexto que Walrond, advogada e escritora, defende uma mudança de perspectiva, conclamando por uma revolução que celebre e empodere a maturidade.
Etarismo lucrativo: Karen Walrond critica mercado anti-idade
Karen Walrond, hoje com 58 anos, que escreveu seu penúltimo livro aos 55, dedica-se a explorar e desmistificar os estigmas da idade. Sua obra, intitulada “Radiant rebellion: reclaim aging, practice joy & raise a little hell”, traduzível para o português como “Rebelião radiante: reivindique o envelhecimento, pratique a alegria e cause um pouco de confusão”, serve como um manifesto. Nele, a autora compartilha o que ela descreve como um roteiro pessoal para resistir às normas sociais que perpetuam o etarismo, buscando criar uma visão de futuro onde o foco está na evolução humana contínua, e não no declínio atribuído à velhice. A ‘rebelião’ proposta é, na verdade, uma resistência ativa contra os estereótipos depreciativos.
A Revolução da Velhice com Vitalidade
Em contraponto às mensagens midiáticas que constantemente bombardeiam a sociedade com ideais de juventude eterna, Walrond observa uma crescente onda de pessoas que escolhem viver sua velhice com plena vitalidade. Ela enfatiza que o etarismo é, em sua essência, uma violação dos direitos humanos. Sua perspectiva é de encorajamento: assim como superamos desafios em outras fases da vida, há sempre um caminho para enfrentar as novas provações que surgem com a idade, porque a experiência prévia constrói resiliência. Em seu percurso pessoal, Walrond decidiu investigar todas as facetas de sua vida, incluindo a forma sutil como o idadismo pode se infiltrar na autopercepção, para projetar um futuro repleto de alegria e propósito.
A autora rejeita o rótulo de “superager”, um indivíduo que sente a obrigação de realizar feitos extraordinários na velhice, como escalar montanhas aos 60 anos, algo que nunca praticou. Para Walrond, o caminho da plenitude reside em apreciar a vida como ela é, inclusive em face de limitações físicas. A prática do autocuidado e da autocompaixão tornam-se essenciais. Ela argumenta veementemente que o envelhecimento deve ser celebrado, não temido. Investir no bem-estar físico e mental representa um empoderamento contínuo na jornada da vida, derrubando a premissa de que o declínio é uma etapa inevitável.
O Poder do Amadorismo e a Experimentação
Em sua obra mais recente, “In defense of dabbling: the brilliance of being a total amateur”, que pode ser traduzida como “Em defesa da experimentação: a genialidade de ser um completo amador”, Karen Walrond faz uma apaixonada defesa dos hobbies. A autora questiona a atual cultura em que até mesmo os passatempos são pressionados a se transformar em fontes de renda extra ou campos para a busca incessante por especialização. Esse cenário leva à alienação do puro prazer e da diversão, distanciando as pessoas do que realmente lhes agrada. O valor intrínseco de se envolver em atividades sem a pretensão de excelência é um ponto crucial em sua filosofia.
Walrond personifica essa visão ao relatar suas próprias aventuras em inúmeras atividades: da cerâmica ao surfe, passando pelas aulas de piano e a complexa arte de fotografar a Via Láctea. Nessas experiências, ela vivenciou desde descobertas emocionantes até fracassos memoráveis, tudo em nome do prazer e da curiosidade. Foi a partir dessa jornada de exploração descompromissada que ela delineou os sete atributos fundamentais do que chama de amadorismo intencional: curiosidade aguçada, atenção plena ao momento presente, gentileza consigo mesmo, leveza, expansão contínua da zona de conforto, construção de conexões significativas e o encantamento pelas pequenas coisas. Um hobby, na visão de Walrond, é mais do que um mero passatempo; ele se torna um poderoso instrumento de autocompaixão e transcendência pessoal. Compreender e combater o etarismo é um desafio global que demanda ação coordenada, como apontado em estudos recentes que detalham seus impactos.
Ainda há um longo caminho a percorrer para reverter a visão negativa associada ao envelhecimento, mas a contribuição de vozes como a de Karen Walrond é fundamental para iniciar essa mudança. Suas obras servem como um lembrete de que a velhice é uma etapa da vida rica em potencial, sabedoria e alegria, que merece ser celebrada, e não subestimada ou monetizada por um preconceito arraigado. Para saber mais sobre a importância do envelhecimento saudável e os esforços para combater o preconceito de idade, confira o que a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) destaca sobre a questão em publicações recentes sobre o tema aqui.
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A redefinição da velhice, com vitalidade e propósito, é uma pauta urgente em nossa sociedade. Continue acompanhando as análises e discussões sobre este e outros temas sociais relevantes em nossa editoria. Participe ativamente das reflexões sobre os desafios contemporâneos acessando nossas análises.
Foto: Divulgação Karen Walrond


